A sociedade brasileira está cada vez mais conectada aos animais. Eles conquistaram ainda mais os lares durante o período da pandemia e passaram a ter novos espaços nos relacionamentos, se equiparando aos humanos. São opções de hospedagem diferenciadas, e até acordo de separação similar à guarda compartilhada dos filhos.
De acordo com uma pesquisa encomendada pela PETZ — empresa especializada em produtos e serviços para animais de estimação —, realizada com 753 entrevistados, 88% dos donos de animais de estimação consideram o bicho um membro da família. Mas a veterinária Vanessa Florido, do Pet Royale, alerta que é preciso saber se o animal dá match com sua rotina, para não esquecer dos compromissos com a saúde física e mental do bichinho.
“Eles precisam de cuidados que nem sempre nos lembramos quando estamos na rotina, como ter tempo de passeio, exercício físico, exercício mental, como qualidade do tempo de carinho, brinquedinhos e os petiscos”, explica a veterinária.

Viajando com o pet
Quando o assunto é viagem com pets, é preciso calcular todos os gastos. No caso de viagens de avião, além da preparação burocrática, com registros e os trâmites com a companhia aérea, o fundamental é estar em dia com as vacinas. O tutor precisa apresentar a carteira de vacinação do animal contendo a vacina antirrábica, aplicada há mais de 30 dias e válida por 1 ano, e um comprovante atestado por um médico veterinário afirmando que o animal está saudável e apto para viajar.
Juliana Mussi e seus dois gatos
Juliana Mussi é publicitária e mãe de Gris e Preto, dois gatos, de 8 anos, que fazem parte da sua rotina. “Eles são meus companheiros, me ajudaram muito na pandemia. São animais dóceis e dependentes, é importante ressaltar isso, porque as pessoas acham que podem ficar muito tempo longe dos gatos. Quando viajo, é mais difícil arrumar uma pessoa para ficar com eles”, revela.

O pet na rotina da família
Nauana Carvalho, de 41 anos, é personal trainer e criadora de conteúdo digital. Ela tem o hábito de viajar sempre acompanhada do casal de Lulu da Pomerânia, Charlie e Lolla (nomes que remetem ao desenho animado da TV britânica).
“Eles fazem a rotina semanal em nosso carro e são transportados em cadeira para cães. Gostamos de viajar e já estivemos em vários hotéis que aceitam animais, mas é preciso saber que eles também entram nas diárias pagas. Infelizmente, em Macaé, não aceitam muito bem a entrada de pets, eu já fui barrada em um local por conta deles. Acho que ainda falta essa conscientização”, comenta.
Comércio Pet Friendly em Macaé
Tutor de pet e proprietário do café ‘Existe Um Lugar’, no Centro, Alex Morie percebeu a ausência de estabelecimentos que permitissem a entrada de animais na cidade e adotou na fachada do comércio o adesivo: “Estabelecimento Pet Friendly”.
“Logo que inaugurei a cafeteria, alguns clientes chegavam com pet e perguntavam se podiam entrar, então fui em busca de quem conhece sobre o assunto, conversei com Tânia Navega, do pet shop Mania de Bicho, para criar regras e um conforto aos pets”, conta.

“Filho de quatro patas”
Kelly Barreto e André Cardoso são adeptos da Geração P, tutores que valorizam seus animais de estimação de maneira especial, como um membro da família. Eles escolheram não ter filhos biológicos por conta do estilo de vida. Mas com a chegada da Chase, uma “shitzu misturada”, Kelly e André passaram a exercer o lado maternal e paternal com a pet. Chase não gosta de brincadeiras com as crianças e se acha a filha única.
“Ela é a rainha da casa, muito da nossa rotina gira em torno dela. Como ela foi uma cachorrinha adotada, tem dificuldades com a alimentação, então, eu faço o mimo de preparar toda semana uma comida especial com proteína moída para juntar com sua ração. Levamos ao veterinário para entender o motivo dela não comer quando viajamos. A veterinária nos explicou que a Chase não consegue se adaptar aos outros animais. Hoje, quando precisamos, deixamos ela com uma pessoa que oferece carinho exclusivo”, conta.
Para André, que nunca havia tido um animal de estimação, o amor pela Chase foi sendo conquistado aos poucos e, hoje, ela ocupa até o quarto do casal. Não ter filhos biológicos sempre foi algo acordado entre o casal, mas Kelly deseja ter mais um pet, só que se preocupa com a adaptação da Chase.

Há quatro anos, Marialva Gentil, de 74 anos, e Antônio Gentil, de 76 anos, que já criaram os filhos, ganharam um cachorrinho no período da pandemia. A chegada do Torresmo mudou suas vidas. O amor incondicional levou Marialva a fazer uma tatuagem do pet. O casal mora sozinho e dedica todo o cuidado ao animalzinho, alimentação balanceada, remédios, vacinas e o banho toda semana.
“Torresmo é um companheiro, um amigo e me dá muita alegria. Hoje, eu posso dizer que me apaixonei novamente aos 70 anos com a chegada dele. Ele é tão educado, que o rapaz do hotel de cachorrinhos achou que ele fosse treinado. Estamos sempre indo para o Sana e ele adora o vento no rosto provocado pelo passeio de carro”, destaca Marialva.

Guarda compartilhada: separação e responsabilidade
Márcia Coutinho e Edney Coutinho se separaram, mas sempre tiveram um bom relacionamento por conta da filha Letícia, que tinha guarda compartilhada entre eles. Anos depois, Franco entrou na vida dos três. De modo amigável, eles estabeleceram uma guarda compartilhada de cuidados com Franco, um cachorrinho sem raça, paraplégico, que cativou tanto a família que é tratado como um príncipe nos dois lares.
A história de Franco começa sem o nome adotivo, em uma fazenda de café, no Sul de Minas. Ele vivia com os caseiros quando foi atacado por vários cachorros, que resultou em uma lesão irreversível na coluna. Após passar o Natal na fazenda, Márcia e seu ex-noivo resolveram adotá-lo. E, rapidamente, ele se tornou o xodó de sua filha Letícia, que é a tutora. Como os pais tinham regime de guarda compartilhada da filha, o amor pelo pet também se ampliou para a residência do pai Edney.

“Eu não pensava em ter nenhum cachorro, mas quando o diagnóstico dele saiu e descobrimos que ele teria que usar cadeira de rodas, não tivemos dúvidas de que ficaríamos com ele, porque aqui em Macaé ele teria melhor atendimento”, conta Edney.
Devido à sua condição física, Franco nunca se hospeda em hotéis e passa por uma revisão no veterinário a cada dois meses. O cãozinho tem os mesmos mimos nas duas residências e, no período do Natal, ele está na casa da família da Márcia, no Ano Novo, na de Edney. “Eu costumo dizer que, enquanto estava casada com Edney, nós tivemos uma filha humana, e, na condição da separação, temos um filho canino”, conta Márcia.