A Moda como Força Histórica e Social

A moda, ao longo dos séculos, sempre refletiu e impulsionou mudanças na sociedade. Muito além do que se vê nas passarelas, a moda expressa movimentos culturais, sociais – e até tecnológicos! Você sabia que, no ano 2000, a pesquisa no Google “vestido verde Versace” foi o motivo da criação do Google Imagens?

Esse é um exemplo surpreendente do impacto da moda: o icônico vestido verde-esmeralda de Jennifer Lopez, usado no Grammy Awards de 2000, dialogou com as inovações tecnológicas de seu tempo. Com um decote profundo e estampado com folhas de palmeira, o vestido Versace foi tão pesquisado e comentado que se tornou a busca mais popular do Google na época. Até então, os resultados das pesquisas consistiam apenas em links e textos. Para atender a essa demanda inédita, o Google desenvolveu a Pesquisa de Imagens, lançada em 2001, transformando a experiência digital e reforçando o poder visual da moda. Esse episódio ilustra perfeitamente como a moda transcende seu papel tradicional e, muitas vezes, se entrelaça com inovações tecnológicas para responder aos desejos e comportamentos do público.

Para quem acha que o impacto da moda se resume a esse episódio relativamente recente, vale lembrar: no início do século XX, mulheres que lutavam pelo direito ao voto – as sufragistas – adotaram calças e roupas práticas como forma de desafiar as normas de gênero, revolucionando o guarda-roupa feminino para sempre! Décadas depois, o movimento Black Power transformou cabelos crespos naturais como símbolo de resistência, afirmação cultural e tendência de moda e estilo pessoal no cenário mundial. Portanto, cada tendência, seja ela no vestuário, na aparência física, em hábitos e escolha estilística contam uma história e se entrelaçam com as mudanças e revoluções de cada época.

A Moda e a Lógica da Renovação: O Papel da Moda no Consumo Contemporâneo

Gilles Lipovetsky, filósofo e sociólogo francês, explora a ideia de como a moda se tornou uma força central no consumo moderno em seu livro O Império do Efêmero. Segundo Lipovetsky, a moda não se limita mais ao vestuário – ela representa uma “lógica de renovação” que impacta todas as esferas da vida. No livro, ele defende que a moda criou o conceito de efemeridade, ou seja, de mudanças rápidas e constantes, que nos faz querer sempre o “novo”. Esse ciclo, que surgiu no vestuário, foi expandido para outros setores, como carros, eletrônicos e até mesmo a decoração de casa.

Neste mesmo livro, o autor explica que, nos anos 1950, a indústria automobilística percebeu o poder desse desejo de renovação. Procuraram estilistas e designers para criar novas linhas de carros, com o objetivo de fazer os modelos antigos parecerem ultrapassados e incentivar os consumidores a trocarem seus veículos com mais frequência. Esse foi um marco importante na adaptação da “lógica da moda” para outros mercados, criando a base do consumismo moderno.

Essa reflexão de Lipovetsky é essencial para entendermos o papel da moda no mundo contemporâneo: mais do que um simples estímulo ao consumo, a moda estabelece um diálogo constante com nossa identidade e o tempo em que vivemos. Como profissional do setor, acredito que, ao reconhecermos essa “lógica da renovação” que a moda inspira, podemos transformar nosso consumo em uma escolha mais consciente e alinhada com nossos valores. Afinal, moda é expressão, e quando a usamos de forma intencional, ela se torna um reflexo genuíno de quem somos, para além do efêmero.

Moda e Identidade

E para quem diz “não ligo para moda”, vale uma reflexão: mesmo as escolhas mais básicas de estilo são, de algum modo, moldadas por essa força invisível. No filme O Diabo Veste Prada, Miranda Priestly explica que até um ‘casual’ suéter azul é influenciado pelas decisões tomadas nas passarelas. Moda não é apenas sobre o que vestimos, mas sobre como nos posicionamos e somos vistos. A moda está presente nas escolhas que fazemos, mesmo que de forma sutil, e influencia até quem acredita não pensar nisso ou que não é influenciado pelo que julga ser a MODA.

O importante papel da consciência no consumo

A influência constante da moda nos traz outra reflexão importante: é possível consumir de forma mais consciente? Hoje, a moda enfrenta o desafio de alinhar o desejo de novidades à sustentabilidade. Optar por peças de qualidade, explorar o slow fashion e praticar o consumo consciente são escolhas que refletem responsabilidade e um novo olhar para o papel da moda.

Para aprofundar essa reflexão, recomendo o documentário “The True Cost”. Ele revela o impacto social e ambiental da indústria fashion, mostrando o que está por trás de nossas escolhas de consumo e como podemos apoiar uma moda mais ética e sustentável.

Moda, é na verdade – muito mais que apenas moda

A coluna “Mais que Moda” é um convite a explorar como a moda, em seu contexto amplo e fascinante, nos transporta muito além das aparências, molda a sociedade, conta a história do mundo e nos ajuda a contar nossa própria história. Desde grandes transformações sociais aos pequenos gestos de estilo, a moda está em tudo e reflete o que somos e o que queremos mostrar para os outros.

Encerrando as matérias de 2024, deixo uma provocação: será que é realmente possível se “desligar” da moda? Ou será que, mesmo sem perceber, ela está profundamente entrelaçada ao que você é e ao modo como vê o mundo?

Em 2025, convido você a seguir comigo, descobrindo como a moda pode revelar um pouco mais de nós e do mundo que ajudamos a construir. Me siga nas redes sociais pelo @evelynpinot para continuar essa conversa e explorar mais do universo fashion, tendências e muito mais.

Até a próxima!