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Parto humanizado

qui, 29/09/2016 - 11:27 -- Juliana Carvalho
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Fotos: Sandra Rodrigues
mulher tendo filho parto humanizado

Faz parte da nossa natureza: nascer, viver e morrer. Mas as evoluções da humanidade têm trazido transformações significativas, principalmente, na forma como viemos ao mundo. Dar à luz deixou, nas últimas décadas, de ser algo tão natural. O parto por cesariana tornou-se uma epidemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que, no Brasil, a cultura da cesárea é responsável por 40% dos partos na rede pública; na rede particular esse número é ainda mais crítico, cerca de 84%. O nascimento por cesariana é indicado quando há riscos para a mãe ou para o bebê, contudo, a realidade tornou o que era exceção, em regra. Na contramão dessa lógica, um movimento está ganhando força no Brasil. Os adeptos do parto humanizado estão se tornando cada vez mais frequentes, trazendo à tona uma reflexão sobre a vida e o respeito a alguém que ainda nem veio ao mundo, mas que já ganhou o direito de poder vir na hora que desejar.

Os motivos para a escolha da cesárea são inúmeros. O principal pode estar atrelado à falta de incentivo financeiro dos profissionais da área, já que os valores repassados aos médicos pelos planos de saúde estimulam a opção pelo procedimento cirúrgico. Em efeito cascata, isso acaba por fazer com que a gestante não tenha conhecimento suficiente dos benefícios do parto normal, dos riscos da cirurgia e, principalmente, da sua capacidade enquanto mulher de poder utilizar o seu corpo como protagonista do nascimento.

Foto: Alle Tavares

grupo humanize de macaéO ginecologista e obstetra André Gervásio conhece bem essa realidade. Durante anos, conviveu com a prática da cesárea e do modelo tradicional de assistência ao parto. Há 5 anos, ele decidiu que era hora de mudar e, com o apoio da esposa, apostou no sonho de fazer partos normais. Há um ano, ele se dedica ao grupo interdisciplinar Humanize, que conta ainda com doulas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e nutricionista.

“Parto é nascimento, quando se fala em parto humanizado é para marcar uma diferença entre uma nova forma de assistência ao parto. Eu, particularmente, prefiro chamar de parto respeitoso, um momento em que se respeita o desejo e o limite da paciente, trazendo essa expectativa em relação ao nascimento mais próximo do real”, define o obstetra, que quando realizava cesáreas agendadas chegava a atender 100 gestantes por mês. Atualmente, o número de pacientes mensais não ultrapassa 35.

A mulher como protagonista do nascimento

O parto normal ativo valoriza o papel da mulher. Este empoderamento é defendido pelo Dr. André Gervásio. “O modelo de parto tradicional não coloca a mulher como protagonista do processo e sim como objeto passivo que é o tempo todo conduzido. Essa é a grande diferença quando se fala em parto normal humanizado. Nesse novo modelo de assistência, que eu defendo, a mulher é o ator principal, as outras pessoas estão ali apenas para dar assistência. Se a natureza estiver de acordo, e ela for saudável, não há necessidade de intervenções. Ela terá o bebê sozinha! A mãe tem capacidade de dar à luz, é instintivo, para isso é fundamental acreditar e esse trabalho desenvolvemos nos grupos de trabalho, buscando o empoderamento da mulher, que ela conheça o seu potencial e se sinta capaz”, ressalta.

Quando a cesárea é bem-vinda

A cesárea é uma notícia inesperada para quem quer um parto normal humanizado, mas circunstâncias adversas que coloquem a vida do bebê ou da mãe em risco, podem indicar a necessidade da intervenção cirúrgica. “A assistência ao parto normal humanizado é total, a fim de garantir o resultado de segurança. Por isso estamos aptos a identificar qualquer necessidade de não seguir com o plano original e optar pela cesariana. A cesárea indicada, no momento certo, será recebida com muita gratidão. Mas uma cesárea realizada de maneira banalizada, até mesmo indesejada, é uma agressão”, destaca André.

Doula: o prazer em servir

Doula é uma palavra grega que significa: aquela que serve. Seu papel é, para muitas mulheres, essencial, antes e durante o parto. A fisioterapeuta e doula, Daniela de Lima, afirma que a atividade inclui, durante a gestação: apoio emocional, orientações, ajuda na construção do plano de parto (documento que contém informações do que foi acordado com o médico para o nascimento do bebê). Já quando a mulher entra em trabalho de parto, a profissional fica o tempo todo junto à mãe, auxiliando em tudo que for necessário, fazendo a ponte com a equipe médica, além de utilizar técnicas para alívio da dor e relaxamento, como massagens.

“É um relacionamento muito intenso durante toda a gestação, a gente acaba criando um vínculo muito forte. Por isso, é importante que a gestante conheça bem o perfil do profissional, para que possa optar pelo que melhor irá lhe atender”,  sinaliza Daniele.

A escolha pelo parto humanizado é vista por Daniele como sinal de respeito ao bebê. “É muito bom quando a gente percebe que há uma preocupação com o nascimento, em envolver a criança em um ambiente de mais afeto, para que ele venha ao mundo de forma menos invasiva e traumática”, comenta a doula.

Benefícios do parto humanizado

Como não há intervenções, como aplicação de hormônios químicos indutores do nascimento, todo o procedimento ocorre no tempo natural. A média, para a primeira vez, é que o trabalho de parto dure cerca de 18 horas. Todo esse período é acompanhado pela doula e pelo médico na casa da paciente. Em Macaé, nos momentos finais do processo, André se encaminha com a equipe e a gestante para o hospital onde o nascimento acontece.

Contribuições emocionais

Durante o processo do nascimento por via normal, as reações fisiológicas contribuem para o equilíbrio emocional da mulher. Quando entra em trabalho de parto, a gestante vai liberando, de forma cíclica, hormônios com papéis fundamentais. A ocitocina, por exemplo, conhecida como o hormônio do amor, vai produzir, na mãe, o aumento das contrações; já no bebê, promove a sensação de querido, de acalento.

Outra contribuição é a psicológica, já que a mulher vivencia o exercício da autoconfiança, entre outras coisas, e sai do processo de nascimento mais fortalecida.

Contribuições fisiológicas

No momento em que o bebê nasce por parto normal, ele vai aspirando microorganismos presentes na flora vaginal que vão colonizar o intestino, construindo a sua flora intestinal. No parto cesárea, esse contato não acontece, e os microorganismos que o bebê tem contato são os que causam alergia.

O nascimento em que se respeita o tempo do bebê, ainda que seja por cesárea, facilita o aleitamento materno logo na primeira hora de vida da criança, já que as ondas de hormônios que são liberadas no trabalho de parto, como a prolactina, preparam a mulher para a produção do leite, situação que não ocorre quando o corpo não se preparou para aquele momento. 

A escolha pelo amor

Foto: Alle Tavares

mulher grávida na bola de pilatesHelene Nara nunca tinha pensado em ter filho por parto normal. Mas a conversa com as amigas a estimularam a repensar a questão. Pesquisar sobre o assunto, ler e assistir documentárioscomo o brasileiro: “Renascimento do Parto”, pesaram em sua decisão e a fizeram mudar de ideia, mesmo antes de engravidar. O foco passou a ser, principalmente, nos benefícios para o bebê.

“Quando engravidei, comecei a procurar por médicos que fizessem o parto humanizado, pois, como tinha lido bastante sobre o assunto, queria o mínimo de intervenção possível. Acabei chegando em uma médica em Niterói e, no terceiro mês de gestação, ao conversar sobre os detalhes do parto, comentei que queria sem anestesia. Ela me olhou com uma cara de apavorada e me recomendou que eu tomasse sim, para evitar muito sofrimento logo no primeiro filho. Retruquei porque não queria tomar ocitocina, já que, com a anestesia, a injeção do hormônio é inevitável. Percebi que, com isso, seria uma intervenção atrás da outra, exatamente o que eu não queria. Vi que era hora de trocar de profissional, encontrar um que fosse ao encontro das minhas necessidades e anseios”, relata Helene, que está completando sete meses de gestação e não esconde o medo para o momento do parto, mas está confiante de que tudo dará certo.
“Acho que o papel da doula vai ser essencial para me ajudar. As consultas que faço em grupo também contribuem bastante, quanto mais a gente sabe e escuta histórias, mais fácil vai ficando. Tanta gente passou e aguentou, eu vou aguentar também”, revela confiante.

A doce chegada de Maria Júlia

O clima na casa de Paula Lelis e Henrique Borba é de pura alegria. A chegada da filha Maria Júlia completou a felicidade do casal, também pais de Gabriel, de nove anos. O desejo de Paula sempre foi pelo parto normal, mas, até conseguir realizar seu sonho, passou por duas cesáreas.

Foto: Alle Tavares

família com bebe“Sempre tive medo de cirurgia. O normal é não fazer cirurgia. Tenho um histórico na família de parto normal, então sempre tive mais medo da cesárea. Mas, na gravidez de Gabriel, após perder líquido, a orientação do médico foi para o parto cesárea. Ele achava mais seguro, disse que se fosse filho dele não arriscaria. Eu chorei muito, fiquei com medo. Na época, não tenho acesso a tanta informação como tinha hoje e acabei tendo esse sonho roubado”, afirma Paula.

Na segunda gestação de Paula, o bebê possuía uma doença rara - a Síndrome de Patau, uma anomalia no cromossomo 13 que causa más-formações múltiplas, que diminuem as chances de sobrevivência. “Na gravidez da Maria Clara, por conta das circunstâncias, a cesárea já era esperada. Ela nasceu e viveu apenas 14 horas. Quase dois anos depois, veio a Maria Júlia e, mesmo com o histórico de duas cesáreas, sabia que era possível ter um parto normal, com o acompanhamento adequado”, relembra Paula.

E o sonho de Paula se tornou realidade, Maria Júlia chegou no dia 9 de julho, cheia de saúde, por parto humanizado. “Respeitei o tempo da Maria Júlia. Foi muito legal a espera, os amigos fazendo bolão para adivinhar o dia, a casa inteira vivendo o trabalho de parto comigo. Logo que ela nasceu, eu fui a primeira pessoa a segurá-la, a abraçá-la. O pós-parto foi muito melhor, tomei banho sozinha, pude me alimentar, a assistência à minha filha pôde ser muito maior, já que não tive nenhum tipo de intervenção, anestesia, soro, sonda, absolutamente nada”, relembra Paula, emocionada.

Toda a experiência foi compartilhada pelo pai. Henrique acompanhou tudo de perto e pôde vivenciar a emoção da chegada da filha. “É um sentimento indescritível. É diferente da cesárea, mais emocionante, porque a gente espera e vê a criança nascer no tempo dela. É um momento único, de muito amor envolvido. A hora que o bebê nasce marca para sempre”, relata o pai.
 

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