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A volta ao trabalho após a maternidade

ter, 28/04/2015 - 13:30 -- Juliana Carvalho
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Alle Tavares
mãe juliana carvalho com seu bebê Davi

Historicamente, o lugar das mulheres sempre foi muito bem definido. Suas obrigações eram única e exclusivamente, cuidar dos filhos e das atividades domésticas. Na década de 1960, a chegada no mercado das primeiras pílulas anticoncepcionais trouxe consigo uma revolução não apenas na forma de se pensar a experiência sexual, como também, na forma de como a mulher passaria a se comportar dentro da sociedade, podendo escolher, a partir de então, em que momento engravidar, quantos filhos ter e, até mesmo, não ter filhos.

A mudança de comportamento, sentida principalmente no acesso ao mercado de trabalho, fez com que, cada vez mais, as mulheres focassem em suas carreiras profissionais. Mas, quando o instinto maternal fala mais alto e a vontade de ser mãe se torna uma encantadora realidade, a gente se depara com um novo desafio: como retornar ao trabalho após a licença-maternidade? Como aceitar que uma ligação tão íntima como a de uma mãe e seu bebê seja interrompida para a retomada da rotina de trabalho? O que fazer com o sentimento de culpa por “abandonar” seu filho? Todos esses questionamentos, sem dúvida, com maior ou menor intensidade, pairam na cabeça de quem está prestes a passar pela experiência. Digo isso, baseada por vivência própria.

Quando Davi nasceu, há pouco menos de um ano, parece que, por alguns instantes, o mundo parou. Tudo ao meu redor era focado nele e para ele. Meus dias não eram mais contados a partir de horas, mas sim pelos intervalos de mamadas, trocas de fraldas, banho e sono, bem pouco sono. Mas, em pouco tempo, toda essa rotina se tornou algo natural. Na verdade, eu fazia esforço para me lembrar quem eu era antes de me ocupar com aquele serzinho tão dependente. Mas, como que em um estalar de dedos, passaram-se sete meses e o meu prazo da licença-maternidade e das férias havia acabado. Era hora de encarar o retorno ao trabalho.

Dias antes, confesso, o coração começou a apertar, não conseguia me imaginar ficar horas sem ver meu filho, sem alimentá-lo e cuidar dele como de costume. Será que as pessoas fariam isso bem? Deixariam ele com fome? Saberiam dar carinho quando o choro fosse apenas manha? Eu tentava me fazer de forte, mas me pegava chorando várias vezes por saber que aquele momento tão único estava prestes a acabar. No entanto, bem diferente de como eu imaginava, o primeiro dia de trabalho, após a licença, transcorreu sem grandes percalços, choros ou apertos no coração. As atividades fora do lar me fizeram sentir produtiva, um sentimento que me fez bem. Me relacionar com o “mundo lá  fora” de novo me mostrou que era possível, sim, conciliar as múltiplas funções que a vida moderna nos impôs.

A mamãe está de volta ao trabalho, e agora?

silvia perez gerente de rh no escritórioA gerente de Recursos Humanos (RH), Silvia Pachioni Perez, sabe bem o que é conviver com o  momento, tanto profissionalmente, quanto na vida pessoal. “Primeiro, é preciso trabalhar o sentimento de “culpa” da mulher, por não estar em casa cuidando do filho e estar voltando  para o trabalho. Eu senti até um certo alívio por ter de voltar à minha rotina de convívio com adultos. Na verdade, o meu sentimento de culpa era porque as pessoas me falavam “você  deve estar arrasada de voltar a trabalhar e deixar seu filho em casa” e, na verdade, eu não me sentia assim. Tinha saudades dele, claro, mas me sentia bem tendo que me arrumar de manhã para trabalhar e não ficar dentro de casa”, afirma Silvia, cujo filho acaba de completar dois anos.

Atuando há 12 anos na área, Silvia revela que a mulher precisa se conscientizar que a chegada do bebê traz mudanças significativas na relação com o trabalho. “É preciso ter claro que você não será mais a mesma profissional de antes. Não vai mais tirar “nota 10” em tudo.  Eu sempre trabalhei bastante, até mais tarde, fins de semana e isso mudou. Se meu filho fica doente, ele passa a ser a prioridade de tudo. Então, a mulher precisa aceitar, em vez do 10,  tirar uma nota 6 ou 7 em todos os seus pilares (mãe, esposa, mulher e profissional). O maior desafio é exatamente esse, entender que precisa ter esse equilíbrio e não se culpar”, ressalta.

O empregador também precisa entender esse período de transformação pelo qual a mulher está passando, mudança essa que começa desde a gravidez. “A gravidez exige a ida a médicos e exames para fazer, o corpo está sofrendo grandes mudanças e isso atingirá a entrega no trabalho. Após o nascimento, o cansaço, noites em claro, dúvida se é melhor continuar trabalhando ou sair para cuidar do filho, consultas em pediatra, tudo isso passa a fazer parte da vida da mãe. E não tem como a empresa ignorar isso. Até a criança completar dois anos,  precisa de uma atenção redobrada, fica bastante doente e as faltas são inevitáveis”, pontua Silvia.

Passando pela experiência

mãe dando almoço para a filhaA empresária Gabriele Frasão soube lidar sem grandes traumas com o retorno às suas  atividades. Quando sua filha tinha apenas três meses, Gabriele decidiu voltar ao trabalho e, antes mesmo desse período, ela, que é dona de um restaurante, mantinha de casa o contato com os fornecedores e a administração do negócio. “Durante os meses em que fiquei somente em casa, percebi que realmente não faz parte do meu perfil ficar sem trabalhar. Quando  Valentina estava com dois meses consegui uma babá e ficamos um mês em adaptação. Logo depois, comecei a retomar, gradativamente, a rotina”, conta Gabriele que trabalhou até o dia do parto.

O fato de ser dona do próprio negócio foi um facilitador, mas isso não diminuiu a saudade de estar com a pequena. “Sempre dá um sentimento de culpa, saudade, mas voltar ao trabalho não foi nada traumático. Lidei com muita serenidade e tranquilidade”, afirma.

Já Katia Hammar sofreu, e muito, quando seu período de licença terminou. A ideia de ficar fora do convívio intenso com a filha fez com que Kátia chegasse a pedir demissão da multinacional em que atuava na área administrativa. “Eu sempre quis ser mãe e quando Maria Cecília nasceu foi a realização de um sonho. Já no sexto mês da licença, começou a me bater uma angústia, comecei a pesquisar creches, visitei todas as unidades da cidade e depois de avaliar qual seria a melhor, na hora de fazer a matrícula, meus olhos já encheram de lágrimas”, relembra.

O primeiro dia de Maria Cecília na creche foi repleto de choro, mas não foi a menina que ficou inconsolável e sim a mãe. Katia pensou duas vezes se voltaria com a menina no dia seguinte ou não. “Ficava imaginando que se acontecesse alguma coisa com ela e eu não estivesse por perto não iria me perdoar. Mas meu marido ponderou comigo e insistiu para que continuássemos levando”, afirma. Logo depois, quando chegou a hora de voltar ao trabalho, Katia estava disposta a não voltar para a rotina que incluía viagens para outras cidades e até fora do país. “Comecei a avaliar outras possibilidades de trabalho como, por exemplo, trabalhar por conta própria, fazendo bolos caseiros ou alguma outra atividade que fosse menos estressante e que me permitisse ficar mais com a minha filha. Cheguei para a minha chefe e pedi demissão. Por sorte, ela não aceitou e me deu mais um mês de férias para que eu pudesse repensar. Nesse tempo, consegui me acostumar melhor com a ideia e pensar no que seria mais adequado para minha filha, principalmente porque, através do meu trabalho, estaria oferecendo a ela melhores condições de vida e futuro. Isso pesou bastante na minha decisão”, avalia.

katia e sua filhaPassado o período, Katia conseguiu finalmente voltar ao trabalho e, segundo ela, foi a melhor coisa que poderia ter feito. “Hoje, vejo o quanto foi importante para mim e para Maria Cecília retomar a minha vida profissional. Ela se desenvolveu mais, ficou mais independente. Fiquei muito receosa porque as pessoas me diziam que eu não ia ver minha filha andar, falar pela primeira vez, mas tudo isso não passou de mito e percebo o quanto a minha atitude foi a melhor escolha para todos nós.”

Mas, para adequar o trabalho à nova vida de mãe, Katia impôs como condição que as viagens não ultrapassem o período de uma semana e que sejam para destinos mais próximos. A prova de fogo da família aconteceu em outubro de 2014, quando a pequena estava com apenas 1 ano e três meses e Katia precisou se ausentar para um treinamento no Panamá por uma semana. A primeira vez longe da filha não foi uma experiência fácil, mas mostrou a maturidade de ambas nesse relacionamento que é eterno.

Com a participação cada vez mais presente das mulheres no orçamento familiar é preciso superar, em muitos casos, o desejo de permanecer em casa. “Nesse contexto fica difícil pedir demissão. Quando o filho chega, aumentam-se ainda mais os gastos e não tem como simplesmente largar tudo. Tenho amigas que decidiram ficar em casa para cuidar dos filhos e elas também não são 100% felizes. Sentem falta de ser  profissional, de ter coisa diferente para contar. No final, nunca estaremos 100% satisfeitas, independente da escolha”, avalia Silvia Perez.

Esse novo cenário social ampliou ainda mais a importância da participação do pai na rotina familiar. Não é raro os lares em que o casal divide as tarefas igualitariamente, incluindo os cuidados com o bebê. “Precisamos mudar o pensamento, pois com pai e mãe trabalhando fora, o envolvimento do pai é inevitável. E as empresas precisam começar a entender que, em muitos casos, o pai que deverá faltar para levar o filho ao médico ou ficar em casa acompanhando o filho. Isso não é mais uma obrigação só materna”, conclui a gerente de RH.

As mães sabem que a tarefa de aliar vida profissional à maternidade não é fácil, requer muito esforço e dedicação. No entanto, os exemplos estão aí em todos os lugares e nos dão prova de que o elo estabelecido entre uma mãe e um filho é capaz de superar as barreiras da falta de tempo, do estresse, da correria, porque a gente sabe que, no final do dia, um sorriso e um olhar amoroso fazem tudo isso valer a pena!
 

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