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Mães maduras

qua, 23/04/2014 - 10:43 -- Fernanda Pinheiro
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Foto Gianini Coelho
andrea corga com o filho de 2 anos

Mulheres fortes, bem resolvidas, administrando grandes empresas e mudando definitivamente os antigos padrões familiares. Não é novidade que o universo feminino tem mudado muito desde a década de 60. As universidades abriram as portas para elas, o mercado de trabalho se tornou um lugar de pura competição. Com o desenvolvimento dos métodos anticoncepcionais seguros, como a pílula, o momento mais oportuno para engravidar foi ficando cada vez mais distante. Este “sinal dos novos tempos” acabou adiando a espera pelo primeiro filho, e a plenitude da maternidade tem acontecido mais tarde, depois dos 35 anos.

A gravidez tardia é considerada um fenômeno mundial. Somente nos Estados Unidos, estima-se que uma em cada cinco mulheres tem o seu primeiro filho após os 35 anos. Mais especificamente, na última década, a gravidez tardia cresceu aqui, em nosso país, 84%, resultado da mudança de comportamento que está redesenhando a família no mundo, inclusive no Brasil.

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de mulheres que engravidaram pela primeira vez após os 40 cresceu 27% em dez anos. A decisão de adiar a maternidade também é reflexo do aumento da expectativa de vida do brasileiro, que já vive, em média, 74,6 anos. Também segundo o IBGE, para cada 100 jovens, há 25 idosos no Brasil. Como a mulher estabeleceu prioridades além do casamento e da maternidade, aos poucos, ela foi postergando o momento de ser mãe. 

Foto Ana Nogueira

andrea corga em pé

A advogada Andrea Corga tem 38 anos e é mãe de Mateus, de 2 aninhos. “Sou de Macaé, mas estudei e comecei minha carreira no Rio de Janeiro. Hoje, o lado profissional conta muito, além do mercado exigir bem mais do profissional em termos de capacitação, conciliar a rotina diária da casa, do trabalho e dos filhos não é uma tarefa fácil. Por conta disso, planejamos ter o Mateus mais tarde”, explica Andrea.

Apesar dessas mudanças sociais, ainda persistem muitas dúvidas sobre os perigos que uma gravidez considerada tardia pode trazer. Isso porque as estatísticas mostram que o risco de uma mulher de 20 a 40 anos ter um filho com maás-formações é de uma para cada grupo de 5 mil gestações. A partir dos 40 anos, tal risco passa para um a cada grupo de 100 grávidas.

Para Nilo de Siqueira Almeida, coordenador médico da Maternidade do HPM (Hospital Público Municipal), o principal motivo para isso é que o número e a qualidade de óvulos que a mulher produz começa a cair à medida que a mulher envelhece, ocorrendo mais chances de os óvulos produzidos terem defeitos nos cromossomos, o que aumenta o risco de aborto espontâneo ou más-formações.

 

Foto Gianini Coelho

nilo medico do hpm macaé“Aos 20 anos, o risco de anomalias genéticas é de 0,5%. O índice dobra aos 35 anos, chega a 5% aos 40 anos e alcança 10% aos 44 anos. Por conta disso, é importante que a gravidez tardia tenha cuidado obstétrico rigoroso e caso haja comorbidade associada, deve ser acompanhada por pré-natal multidisciplinar. A gestante e sua família devem ser orientadas de todos os riscos para que possam decidir sobre engravidar ou não, não sendo jamais excluída uma gestação sem complicações. No município de Macaé, temos encontrado muitas mães que decidem engravidar mais tarde. Em 2005, 7,1% de nascidos vivos são de mães com idade igual ou maior que 35 anos.  Em 2011, dados mostram um aumento para 8,9%”, complementa o médico.

Segundo o especialista, para a mulher, a idade avançada na gestação pode sim estar associada ao aumento na incidência de casos de diabete gestacional, doenças hipertensivas e vasculares, abortamentos e prematuridade. Já para o bebê, os riscos estão ligados diretamente com alterações cromossômicas numéricas ou estruturais, como a Síndrome de Down.

Para a dentista Bianca Prata, nada supera o amor descoberto na maternidade. Ao tentar engravidar, com 37 anos, descobriu que tinha a chamada insulina resistente, processo que dificultava o embrião a se segurar na parede do útero. Depois de uma fertilização in vitro, Bianca engravidou e teve Mariana, aos 40 anos. “Tomei cuidado com a alimentação e fiz os exercícios recomendados pelo meu médico, como hidroginástica e caminhadas. Minha gravidez foi ótima e minha menina é linda!”, derrete-se.

Foto Dária Ratliff

bianca prata grávida

Especialistas ainda garantem que manter uma vida saudável continua sendo muito importante antes de pensar em engravidar. Então, todo aquele papo de alimentação saudável, de controlar o peso não é balela, porque uma coisa vai levando à outra. Se a mulher estiver obesa, por exemplo, pode correr maior risco de desenvolver diabetes, que, por sua vez, eleva o risco de má-formação fetal. Como o risco de abortamento salta de 10%, em mulheres de 20 anos, para 40%, aos 40 anos, a futura mamãe precisa estar com o metabolismo adequado, dentro do peso recomendado e em boas condições físicas para uma gravidez saudável.

O aconselhamento genético só é recomendado para aquelas mulheres que têm um histórico familiar de má- -formação ou de problemas hereditários. Ou seja, todo mundo tem a possibilidade de ter um filho portador da Síndrome de Down, mas se a mulher tem uma prima, uma tia ou o marido tem parentes com Down, a probabilidade aumenta. Para esses casos, ainda segundo os especialistas no assunto, o aconselhamento genético é recomendado e, se tiver problemas, o médico vai orientar para fazer fertilização in vitro, porque se faz a seleção genética. Caso seja possível, também é recomendado um acompanhamento multiprofissional incluindo endocrinologista, nutricionista, fisioterapeuta e psicólogos.


Cuidados especiais

Por conta de todos os possíveis riscos que uma gravidez após os 35 anos pode trazer, é essencial procurar logo um médico especialista, que solicitará exames laboratoriais de rotina, tais como hemogramas, tipagem sanguínea, sorologias, exames de urina. Se tudo estiver bem, será recomendada uma suplementação vitamínica de ácido fólico, três meses antes da concepção. Esta pode diminuir o risco de má-formação do sistema nervoso central do bebê. “Quando fazemos um pré-natal adequado, a chance de morte e de doenças durante uma gravidez diminui até um nível mais inferior do que para uma população de baixo risco e que talvez não faça o pré-natal como deveria. O risco maior, mais do que a questão da idade, é fazer o pré-natal de forma inadequada, não seguindo as orientações médicas”complementa Nilo.


Questão psicológica

Toda gravidez é o início de um novo processo para a mulher. Ela se tornará outra pessoa, será mãe de alguém. Uma transformação que dura a vida toda e a altera completamente, mudando seus valores existenciais, inclusive. A representação e o significado que ela tem de sua vida muda com a gravidez e a cada nova gravidez. Dentro desse “marco emocional”, existem inúmeros fatores que influenciam psicologicamente no andamento da gravidez. Se a mulher está ansiosa, depressiva ou angustiada, se tem um suporte sociofamiliar bom ou se está feliz com a novidade de ser mãe.

Para a mãe com mais de 35 anos, todavia, essa ansiedade pode ser ainda maior por conta da enorme apreensão sobre os possíveis efeitos que a gestação tardia traria ao feto e à ela própria. Afinal de contas, os médicos já prédeterminam que a sua gravidez é de alto risco. Felizmente, os atuais exames pré-natais, cada vez mais completos, podem aliviar boa parte dessa angústia. A orientação com profissionais competentes também pode aliviar o mal-estar emocional causado pelo excesso de informação, geralmente incompleta, oferecida por pessoas leigas ou obtidas obsessivamente no “Dr. Google”.

De modo geral, as mães mais maduras se encontram psicologicamente melhor preparadas e decididas para assumir a gravidez e a maternidade. São menos conflitos emocionais, maior planejamento relacionado ao momento de ser mãe, mais desejo de se dedicar àquela nova vida que está por vir. Geralmente, os pais já estão vivendo dentro de um relacionamento mais sólido e estável, com maior experiência de vida, com estabilidade econômica e assumem plenamente a responsabilidade dessa decisão. Na prática, o que se vê é uma situação onde o recém-nascido é aguardado como um privilégio e um presente, proporcionando uma grande dose de felicidade aos pais. “Já temos uma bagagem de vida, um outro olhar sobre algumas questões do dia a dia. O preparo é maior, não nos assustamos à toa e o mais importante, acho que o amor aumenta com a espera!”, finaliza Andrea.

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