O nascimento de um bebê é, por si só, um momento transformador. Mas quando ele acontece antes do esperado, a emoção vem acompanhada de desafios imensos, já que ninguém está totalmente preparado para ver um filho nascer antes da hora. Cerca de 340 mil bebês nascem prematuros no Brasil, por ano, de acordo com o Ministério da Saúde e, no mundo, 10% dos nascimentos são prematuros, segundo relatório divulgado em 2023 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais do que números e estatísticas, o nascimento prematuro é sobre histórias de superação, amor incondicional e laços que se fortalecem mesmo diante das incertezas.

Dra. Isadora Santos, ginecologista e obstetra, explica que a maioria das gestantes sente medo com a possibilidade de um parto prematuro, porém, existem situações específicas que podem levar a paciente a passar por esta situação de risco. Os principais problemas são extremos de idade (antes dos 18 e após os 40 anos), infecções vaginais, ruptura prematura das membranas amnióticas e condições de saúde como: hipertensão arterial, diabetes, infecções do trato urinário, que se não forem controladas, podem aumentar a chance de um parto prematuro.
Outras condições como mioma uterino, incompetência istmo cervical, múltiplos bebês, placenta prévia e malformações fetais, também costumam ser fatores de risco. O importante é analisar o histórico materno e saber o que pode impactar no bem-estar da gestação. “O parto prematuro pode ser prevenido com acompanhamento adequado em consulta de pré-natal, sendo identificado precocemente complicações e possíveis riscos. Fazer os exames recomendados, realização de ultrassom e uso de vitaminas e medicações apropriados, de forma profilática, além dos cuidados com alimentação, hidratação e atividade física com orientação. E também evitar ganho exagerado de peso e substâncias nocivas”, explica a médica.

Os níveis de prematuridade dependem de qual idade gestacional o bebê nasce. É considerado pré-termo aquele parto que acontece antes de 37 semanas completas. Pode ser classificado em leve (36 a 37 semanas), moderada (32 a 36 semanas), grave (28 a 32 semanas) e extrema (abaixo de 28 semanas). Cada nível de prematuridade apresenta riscos, podendo variar em gravidade.
Dra. Maria Pompeya Olmedo e Dra. Jalneia Ferreira Assis, médicas pediatras e neonatologistas do Hospital da Unimed Costa do Sol, explicam que a maior preocupação quando recebem um bebê que “chegou antes do tempo” é proporcionar a continuidade do seu desenvolvimento em todas as áreas, evitando danos que possam comprometer a sua qualidade de vida. Iniciam-se os protocolos: manter o ambiente aquecido, oferecer auxílio para a respiração através de equipamentos adequados e cuidado gentil no seu manuseio são de extrema importância. Além disso, sempre que possível, promover o contato desse recém-nascido com a sua mãe, dependendo, claro, das condições e da gravidade no momento do seu nascimento.
“Contamos com recursos de tecnologia avançada especialmente para os bebês de muito baixo peso. Uma grande preocupação das famílias é também sobre o aleitamento materno, que vai de acordo com o tempo de vida do bebê e condições de gravidade ou estabilidade. Enquanto não pode sugar o leite da mãe, este pode ser administrado por meio de uma sonda, que é colocada no estômago. Outra forma de nutrir é através da oferta de lipídeos, aminoácidos, glicose, vitaminas e oligoelementos pela veia, a chamada nutrição parenteral”, detalham.

Jaciara e os gêmeos Asafe e Isaque
Jaciara da Silva Damasceno Soares e Devanir Junior dos Santos Soares são pais dos gêmeos Asafe e Isaque, de 9 meses. Mesmo com sua reserva ovariana baixa, Jaciara engravidou de forma rápida, aos 36 anos. Sem comorbidades, foram surpreendidos durante uma ultrassonografia de rotina, na 18ª semana, que revelou uma diferença no peso dos fetos, ultrapassando os 20%, indicando que os gêmeos não estavam recebendo fluxo sanguíneo de maneira igualitária, irrigando mais um bebê do que o outro e causando uma série de complicações, havendo risco de óbito dos bebês.
“Fomos encaminhados com urgência para a capital por intermédio da nossa obstetra, que confirmou a gravidade do problema, com expectativa de não passarmos das 27 semanas de gestação. Começamos o acompanhamento semanal e vivemos momentos de muito medo, pressão e dor, porém a fé em Deus foi o que nos sustentou. Para a ciência tínhamos um problema grande e para Deus tínhamos um grande milagre”, relata Jaciara.
Era impossível ver a melhora dos gêmeos e a expectativa era que, a qualquer momento, um deles entrasse em sofrimento fetal. Milagrosamente, mesmo com diagnóstico de restrição de crescimento fetal estágio 3, o G2 foi se alimentando e chegou a ganhar mais peso que o G1. Os fluxos se normalizaram e os gêmeos nasceram de cesárea, com 34 semanas e 6 dias, com diferença no peso de Asafe (G1) com 2.400g e o Isaque (G2), com 1.805g. Mesmo sendo prematuros, não precisaram de UTI.
“A sensação era que estávamos passando por um vale de sombra e morte. Nos sentimos desafiados a crer mesmo quando não havia esperança alguma, mas aprendemos o que de fato é fé, nesse vale. Hoje, estamos desfrutando desses milagres, que evoluem a cada dia, nos surpreendendo. Os bebês estão com 9 meses de muita saúde e energia”, ressalta a mãe.

ficar internada por 65 dias em repouso absoluto. (Foto Alle Tavares)
Jhenniffan e a luta de Josué pela vida
Jhenniffan Roza Andrade de Araújo, de 31 anos, e seu esposo Júlio César, são pais do Josué de 10 meses (8 meses corrigidos). Eles desejaram ser pais e planejaram a gestação mesmo com os riscos de uma endometriose já diagnosticada. Após a notícia da gravidez, com todos os exames e pré-natal em dia, o casal foi pego de surpresa com 21 semanas de gestação e laudo de bolsa rota. “Minha bolsa rompeu de madrugada e comecei a perder líquido. Fui para o hospital e lá permaneci por 65 dias em repouso absoluto. Eu perdia líquido todos os dias. Quando completei 30 semanas, ainda internada, senti uma coisa estranha entre minhas pernas, como se fosse um coração batendo, foi quando eu e meu marido nos deparamos com o cordão umbilical para o lado de fora’, conta Jhenni.
Diante deste cenário, nasceu o Josué, pesando menos de 1,5 kg, indo direto para a UTI Neonatal e ficando lá por 64 dias. “Depois de tudo que passamos, foi desesperador ver nosso filho tão pertinho e não poder pegá-lo, cheio de aparelhos e não ter certeza de como seriam os próximos dias. Um dia, ele estava muito bem e, no outro, tinha uma piora, mas confiávamos em Deus de que levaríamos ele pra casa bem. Quando recebemos alta, após 129 dias de hospital, chorávamos de alegria, alívio e gratidão por nossas vidas. Hoje nós estamos bem, o Josué faz acompanhamento médico e graças a Deus evolui a cada dia.”

Marina e o casal de gêmeos Catarina e Joaquim
Marina Gil Ferrarese e Fabio Ferrarese viveram uma grande angústia quando ela tinha 22 anos e Fábio, 20, com apenas 4 meses de namoro na época da faculdade. “Cursávamos teatro, éramos novos e, com 4 meses de namoro, eu engravidei, foi um grande susto. Não pensávamos em ter filhos, estávamos nos conhecendo ainda. Logo em seguida, descobrimos que eram gêmeos e o desespero foi um pouco maior, mas resolvemos levar a gravidez e o namoro adiante”, pontua a mãe.
Marina teve depressão durante a gestação e acabou engordando muito, o que desencadeou diabetes gestacional e hipertensão, que a levaram ao parto prematuro. Foi internada por uma semana para tentar segurar os bebês, controlar a pressão e fortalecer os pulmões, pois sabia que não levaria a gestação muito mais adiante. Aos 7 meses e meio, nasceram os gêmeos Catarina e Joaquim, que hoje têm 16 anos de idade.
“Fui muito bem amparada pelos médicos, mas não tínhamos acesso a tantas informações como temos hoje. Foi a pior dor que já senti, ver seres tão pequenos e indefesos dentro de uma incubadora. Estava feliz por tê-los vivos, mas muito triste de não poder estar com eles todo tempo e saber que eles ainda corriam riscos. Foram 12 dias na UTI Neonatal, hoje, são adolescentes incríveis, inteligentes, amáveis, saudáveis e parceiros. Não ficaram com sequelas físicas da prematuridade e estar com eles é o maior prazer da minha vida”, diz Marina que, hoje, também é mãe do Caetano, de 3 anos, que veio ao mundo de parto normal. “A cereja do bolo!”.