Há três anos à frente da ONG SOS Praia do Pecado — criada em 2004 —, Leonardo Pereira Machado, de 62 anos, participou de todas as etapas do movimento ambiental macaense, que busca tornar a área de restinga de 208 mil metros quadrados, que liga a Praia do Pecado à praia dos Cavaleiros, em uma Unidade de Conservação Municipal. A importância da sua localização e o remanescente de vegetação de restinga nela presente, caracteriza-a como Área de Preservação Permanente (APP), de acordo com a resolução do CONAMA, de 2002. No entanto, desde a década de 1980, quando o movimento “O Pecado é Nosso!” surgiu com um grupo de surfistas, jornalistas e ambientalistas, até os dias atuais, já ocorreram três decretos de desapropriação da área, mas que nunca se concretizaram devido ao alto valor proposto pelo proprietário.

De lá pra cá, a pressão foi grande com as manifestações que imprimem o desejo dos macaenses em preservar o espaço, com momentos marcantes como os abraços à Restinga, que reuniram mais de cinco mil pessoas. “Não podemos ser a última geração que ainda luta para tornar o espaço um patrimônio natural preservado”, afirma Machado, que pretende realizar um novo evento de Abraço, no verão de 2025.
São diversos os serviços ecossistêmicos que a restinga da Praia do Pecado oferece à população macaense. A extensa faixa de depósitos arenosos paralela à linha de praia oferece proteção à costa, especialmente, em casos de alagamentos, como eventuais enchentes. Também proporciona lazer com qualidade da água e areia, regulação do clima, oferece diversidade de fauna e flora, e a preservação de espécies ameaçadas de extinção, como o lagarto de rabo verde.

“Estamos alinhados com o forte movimento de justiça climática e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que fazem parte da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Por isso, atuo em diversos conselhos da cidade na luta para conquistar a preservação da área. Estamos convivendo com os efeitos das mudanças climáticas, e a restinga é fundamental em caso de fortes chuvas, onde o solo funciona como esponja e absorve o excesso de água. A área também ajuda a diminuir as ilhas de calor e funciona como uma barreira em caso de ressacas, evitando danos ao patrimônio público”, explica Leonardo.
A ONG também promove atividades de educação ambiental e cultural. Ao longo deste ano, já realizou diversas ações de mobilização de limpeza das praias macaenses, diálogos com a sociedade, empresários e participou de palestras para estudantes da cidade, além da atuação direta em conselhos e audiências públicas. Tudo para impedir que a especulação imobiliária possa avançar na área.

História de resistência
Durante as décadas de 1980 e 1990, começaram as sucessivas agressões à restinga e uma enorme pressão da especulação imobiliária. “Até estrada já quiseram passar por ali, mas a comunidade de surfistas, ambientalistas e jornalistas não permitiu. Em uma madrugada dos anos 2000, diversos caminhões e retroescavadeiras foram mobilizados e tentaram passar por ali. Mas um funcionário do antigo Bar do João, na época, nos avisou. Em pouco tempo, dezenas de amigos aderiram à resistência”, conta.

Após o episódio, que envolveu até a presença de policiais, o movimento “O Pecado é Nosso!” ganhou força. E com a criação da ONG, em resposta, um forte movimento da população ocorreu com três abraços à restinga, que reuniu mais de cinco mil pessoas por edição, em 2000, 2007 e 2011. A luta também recebeu apoio da classe artística, como Gilberto Gil e Toni Garrido.
SOS PRAIA DO PECADO
Telefone: 22 98824-9503
Instagram: @sos_praiadopecado