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Sob as lentes da família Campos

qua, 02/12/2015 - 14:59 -- Juliana Carvalho
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Foto: Photo On
família campos de fotografos

Uma paixão ou um legado? A fotografia na família Campos é algo tão envolvente que se confunde com a própria história. Romulo, Lívio e Bruno são de gerações diferentes. Em comum, além do sobrenome, mantêm vivo um ofício iniciado pelos patriarcas Lívio Campos e Jacyra Hilda Campos e demonstram, a cada clique, que o talento na captura de uma imagem é sim coisa de família.

A década era de 1960 e em Macaé a família Campos acabava de chegar de Niterói para iniciar aqui uma nova jornada. Lívio e Jacyra traziam consigo os seis filhos: Romulo, Lívio, João Carlos, Luiz Carlos, Rosana e o filho adotivo José Carlos. Logo, se tornaram referência em fotografia, com a loja Foto Lívio Campos, no coração da cidade, instalada à Avenida Rui Barbosa, próximo onde hoje é o Teatro Municipal.

O contato dos filhos com este mundo foi natural, ajudavam no atendimento e no laboratório da loja, experiência esta que foi fundamental para Romulo e Lívio. Os dois são os únicos dos filhos que, até hoje, seguem carreira como fotógrafos, cada um em um segmento. O sobrinho dos dois, que é filho de Luiz Carlos, Bruno, também foi envolvido pelo universo da fotografia e hoje, atua como fotógrafo profissional.

Como tudo começou

Lívio Campos, o pai, nasceu em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, em 1932. O sonho de seguir carreira como militar o trouxe para o Rio de Janeiro e foi exatamente na Escola de Fuzileiros Navais que ele aprendeu a fotografar. Um acidente o levou a encerrar suas atividades militares e foi na fotografia que Lívio realmente se encontrou.

livio camposChegando em Macaé, anos mais tarde, Lívio entrou para a história da imprensa local sendo um dos pioneiros no fotojornalismo, já que manteve aqui sua atuação como fotógrafo do jornal Última Hora - periódico carioca, fundado pelo jornalista Samuel Wainer, que teve importante papel político no governo de Getúlio Vargas, sendo um dos jornais de maior circulação no Rio de Janeiro na década de 1950.

Casado com a também fotógrafa Jacyra, juntos eles criaram um novo hábito para a população local, já que faziam da vitrine de sua loja, uma verdadeira galeria para exposição de imagens e fatos do cotidiano macaense. Jogos de futebol, Carnaval eram alguns dos eventos que embelezavam a frente da loja, e atraiam os olhares de curiosos e de um público que sabia que ali poderia encontrar registros de eventos recém-acontecidos na cidade.

A matriarca, além de ajudar no laboratório da loja, exercia a atividade de fotógrafa tendo como forte a documentação social. Capturando o crescimento das famílias e de uma população que seria drasticamente impactada pela chegada da Petrobras, na década de 1970. Jacyra ficou conhecida ainda pelo seu talento ao desenvolver uma técnica para pintura de fotos a óleo, em uma época onde as imagens eram apenas em preto e branco.

Um dos marcos da história da família Campos com Macaé, que demonstra tamanho envolvimento de Lívio com a fotografia e comprometimento com a cidade que adotou, aconteceu em 1974. Neste período, o fotojornalista se dedicava à cobertura do despejo de famílias que viviam no Pontal. Com olhar crítico e denunciante, Lívio acabou sendo preso no exercício de sua profissão e, logo depois, foi alvo de seis tiros disparados pelo responsável pela sua cautela. O fato causou grande comoção na cidade, ganhando repercussão em grandes veículos de comunicação da época.

Todo esse apego em retratar e questionar uma estrutura política e social, bem como o carinho em eternizar as belezas de uma Macaé - que ainda fazia jus ao título de Princesinha do Atlântico, fizeram com que Lívio e Jacyra escrevessem, com imagens, uma bela história de amor à cidade que os acolheu e ao ofício exercido com talento e paixão.Esses sentimentos eram repassados aos filhos, que recebiam dos pais total apoio e incentivo para trilharem seus próprios caminhos guiados pela fotografia.

Seguindo o legado

romulo camposRomulo Campos começou a fotografar aos 12 anos, quando acompanhava o pai nos jogos de futebol no antigo Estádio Expedicionário de Macaé. A formação como jornalista contribuiu para o seu tino fotográfico desempenhado em alguns jornais da região. Romulo acredita que o grande legado deixado pelos pais é o amor e carinho com que se dispunham a retratar a cidade fluminense. “Meu pai sempre trabalhou com a perspectiva de expor Macaé de uma maneira positiva nos meios de comunicação e, sem dúvida, qualificou a questão do fotojornalismo na cidade”, conta. Hoje, ele tem a profissão como uma paixão, mas, no início, a relação com a fotografia foi conflituosa, confessa ele.

“Quando se tem 10 anos, qualquer criança quer brincar, se divertir. Mas eu tinha as minhas obrigações na loja. Todos os filhos tinham que dar a sua contribuição, afinal era dali que meus pais tiravam o sustento da família. No entanto, a fotografia é algo tão fantástico que acabei descobrindo ali um novo universo, em que eu poderia buscar a minha própria linguagem, o meu olhar, algo que era muito incentivado pelo meu pai. Ele colocava tudo à nossa disposição, lentes, material, não havia limites”, relembra Romulo.

Atualmente, este olhar está voltado para a observação na natureza e registros de aves e da fauna macaense. Este trabalho já rendeu a Romulo a publicação de dois livros, “Lagoa Imboassica”, lançado em 2008 e “Parque Atalaia”, de 2011, ambos realizados em parceria com a esposa e também fotógrafa Cláudia Barreto. Seu trabalho pode ser observada no último projeto fotográfico, Parque Nacional de Jurubatiba - o primeiro parque nacional no Brasil a compreender exclusivamente o ecossistema de restinga, e que abrange as cidades de Macaé, Carapebus e Quissamã -, cujo acervo já reúne cerca de 20 mil fotos. O livro com algumas dessas imagens foi lançado em novembro deste ano.

“A fotografia sempre permeou a nossa família, faz parte da nossa história e sempre rende boas discussões entre nós. Acredito que a exemplo do Bruno, teremos as futuras gerações perpetuando algo que tanto nos envolve e que, para mim, é uma forma de tentar entender e retratar a realidade em que vivo, na qual estou inserido, de uma maneira muito particular”, revela Romulo.

Lívio Campos também começou muito novo sua carreira. Desde os 12 anos já atuava como assistente dos pais em trabalhos variados, casamentos, batizados, eventos corporativos e até perícias policiais, o que, segundo ele, lhe deu muita bagagem fotográfica. “A fotografia
está na minha veia desde cedo. Fiquei estarrecido quando vi, pela primeira vez, surgir uma imagem na banheira com o revelador, enquanto meu irmão Romulo trabalhava. Ali, senti o fascínio e a magia que a fotografia me proporcionaria”, relembra Lívio, cuja assinatura profissional em homenagem ao pai é feita sem o “Júnior”, o que, segundo ele, ainda é motivo de muita confusão.

Estabelecendo o seu talento e voltando suas lentes para o mundo artístico-cultural, Lívio logo saiu de Macaé. Em 1978, teve a publicação de sua primeira capa de disco de vinil, do cantor Emílio Santiago. Assim, começava uma carreira de sucesso fotografando artistas como Caetano Veloso, Cássia Eller, Chico Buarque, Gilberto Gil, entre outros, incluindo a Playboy da Elba Ramalho, em 1989, que aceitou o convite da revista, tendo como requisito ter o Lívio como seu fotógrafo.

“Infelizmente, meu pai não viu minha ascensão como fotógrafo. Mas acabei encontrando na fotografia a melhor forma de ver e sentir o mundo. Não saberia viver e me expressar sem essa magia onde, em fração de segundos, congelamos uma ação. Sempre gostei de fotografar o ser humano com as suas características”, afirma Lívio, que mesmo com toda notoriedade, acredita que é preciso se manter sempre atualizado.

Paixão que ultrapassa gerações

Bruno Campos carrega no nome e na profissão a responsabilidade de dar seguimento ao  legado da fotografia na família. Aos 29 anos, ele já contabiliza mais de 10 na carreira que foi iniciada através do tio Romulo. “No início, não foi fácil. Meu pai evitava que eu seguisse por esse caminho, deixava bem claro que eu não tinha a obrigação de fazer. Para ele, eu tinha que fazer o que tivesse vontade. Além disso, ainda tinha o peso do nome da família e a comparação com os tios, ou seja, meu trabalho não podia ser ruim. Eu queria ser motivo de orgulho. Tinha receio de que esperassem de mim muito mais do que eu poderia oferecer. Por isso, eu sabia que teria que me esforçar muito mais, porque meu nível de exigência comigo mesmo era muito maior”, recorda Bruno.

kite surfDos tios, ele traz grandes aprendizados. “Cada um teve uma contribuição significativa na minha carreira. O Romulo é mais técnico e crítico, o Lívio mais emoção e feeling”, descreve.

Tendo a lua eternizada sobre o Porto da Imbetiba, como sua primeira fotografia, Bruno percebeu que era realmente aquilo que queria fazer para a vida toda. “Eu e a câmera somos uma coisa só. Gosto das possibilidades que um registro traz de poder alegrar, emocionar, questionar, tirar as pessoas do seu lugar comum. A minha primeira foto me trouxe essa noção de que aquele olhar foi único. Se mesmo diante de um cenário normal, com poucos recursos, sem técnica, eu fui capaz de fazer aquela imagem e gostei tanto, sabia que se continuasse poderia fazer melhor do que aquilo, aliando técnica e estética”, explica.

Sobre o legado da família, Bruno acredita que existe sim o fascínio, até mesmo pelo contato que acabam tendo. Sua irmã, Lívia Campos, também realiza alguns trabalhos na área como assistente de fotografia e fazendo vídeos. “Existe sim um envolvimento, mas nada que seja uma obrigação”, pontua. Sobre o ofício, Bruno, que adora fotografar esportes radicais como surf e motocross é só amores, em uma relação que, para ele, não tem fim. “Para quem é fotógrafo não existe botão de liga e desliga, a gente quer ficar fotografando o tempo todo. Quando eu não estou com a minha câmera, eu lamento e brinco dizendo que gostaria muito que meus olhos pudessem fazer fotos. A gente treina o olhar e vive atento, querendo captar tudo à nossa volta”, finaliza.

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