Você já reparou que as pessoas estão correndo mais, se estressando mais, trabalhando mais e esquecendo de alguns hábitos importantes do dia a dia? Pois é…. É cada vez mais comum vermos pessoas abrindo mão de costumes diários para dar conta da rotina caótica e elas não imaginam que o simples fato de fazer as refeições em família, por exemplo, pode melhorar o ambiente familiar, a saúde mental e o humor de todos os envolvidos.
De acordo com a psicóloga Liz Quintal, reunir a família à mesa não é apenas um momento de alimentar o corpo, mas também a mente e o coração. “Para a saúde mental, esses encontros durante as refeições proporcionam um momento de acolhimento, onde todos se sentem ouvidos e conectados. Isso é especialmente importante para as crianças, pois reforça a autoestima e cria uma base segura para o desenvolvimento emocional. Do ponto de vista educacional, os pais têm a chance de ensinar valores como respeito, gratidão e empatia, além de estimular habilidades sociais e a comunicação, essenciais para a vida. Também é uma hora de aprendizado por observação, onde hábitos positivos e saudáveis são modelados de forma natural”, explica Liz.
A ciência reforça a importância das refeições em família. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Minnesota e publicada em 1º de março de 2024 na revista Families, Systems, and Health (Famílias, Sistemas e Saúde) revela evidências convincentes que apoiam a importância da união ao redor da mesa.
Sobre esse estudo, Liz destaca: “A pesquisa traz à tona algo que muitas vezes negligenciamos: refeições compartilhadas têm o poder de nutrir não só o corpo, mas também o bem-estar emocional. As descobertas mostram que, quanto mais as pessoas se reúnem à mesa, maiores são os benefícios para o humor e a felicidade geral, além de uma redução significativa nos sintomas depressivos. Essa prática não precisa ser perfeita ou formal; o simples ato de estar presente e se conectar durante as refeições já promove saúde emocional e união”, avalia.
A médica Ana Carolina Curty é casada e tem dois filhos. Ela faz questão de estar à mesa com a família pelo menos uma vez ao dia e ressalta que é preciso priorizar esse momento. “Vejo, nos dias de hoje, alguns valores familiares se perdendo e a família cada vez mais desunida e sem diálogo. Então, quero que meus filhos tenham memórias afetivas de todos nós reunidos, assim como foi comigo e meus irmãos. Hoje, vejo como é difícil esse tempo juntos, mas é necessário colocar como prioridade”, afirma.
Ana Carolina revela que, muitas vezes, ela e o marido, que também é médico, não têm a hora do almoço, por isso prioriza o momento em família logo cedo. “Uma forma de estarmos todos juntos, na maioria dos dias, é na hora do café da manhã, quando ainda não saímos para trabalhar e as crianças estão acordando”, conta.
Para a médica, o importante é manter a conexão: “Eu nunca liguei muito para a arrumação da mesa. Independente da combinação dos pratos, o negócio era estarmos juntos. Mas hoje, me preocupo um pouco mais, para que os meninos sintam esse carinho. Mas ainda preciso melhorar muito!”, diz Carolina.
Liz explica que esse momento em família é muito importante para os pequenos. “Crianças que crescem em famílias com essa prática tendem a valorizar as conexões interpessoais, carregando esses ensinamentos para a vida adulta e replicando-os em suas próprias famílias. Esse legado vai além das palavras: é uma mensagem de que o tempo junto é importante, reforçando o apoio mútuo e a união como pilares de bem-estar. É um investimento na saúde emocional da família e na formação de uma base sólida para relações futuras”, destaca.
A advogada Juliana Lopes Murta, 40 anos, faz questão de fazer todas as refeições com os cinco filhos e o marido diariamente e existe uma regra: celulares devem ficar longe.
“A mesa reúne. É uma trégua para qualquer mal-estar que alguém tenha com o outro. O momento faz superar as dificuldades, diminui a gravidade das frustrações e contribui para a harmonia da família. Durante as refeições, ouvimos o dia dos nossos filhos e dividimos também o nosso, reconhecendo momentos de falha e de sucesso, sempre estimulando a autorresponsabilidade e autoavaliação pessoal sobre o quanto nossa conduta provocou um ou outro resultado”, frisa a mãe.
Juliana diz que preparar a mesa e as refeições também faz parte da rotina da família. “Eu e meu marido temos essa referência de refeição em família e estou trabalhando para que seja um momento valoroso para os nossos filhos também. Todos ajudam na hora de colocar a mesa, nem sempre felizes (risos) e, nos fins de semana, eu vou para a cozinha. Sempre busco agradar um ou outro. Somos muitos e cada um tem uma preferência. Eu busco agradá-los e também desafiá-los a provar alimentos novos”, destaca.
A psicóloga fala sobre a importância dessa união. “Os pais podem transformar a mesa em um espaço de conexão genuína. Esses momentos são ideais para reforçar a importância de virtudes como honestidade, paciência e trabalho em equipe, usando exemplos práticos do cotidiano. Outro ponto importante é envolver as crianças na preparação das refeições, criando um senso de responsabilidade e colaboração. Assim, esses encontros vão muito além da comida: tornam-se um laboratório de aprendizado emocional”, reforça.
Para a arquiteta Isadora Cabral de Oliveira, 38 anos, as refeições em família têm o poder de transformar as relações. “São momentos onde conseguimos saber do dia do outro, conversar sobre algo necessário, ensinar e aprender sobre comportamento, tudo isso de uma forma natural. Ou seja, o vínculo da família se fortalece”, afirma.
Ela e o marido às vezes precisam ajustar agendas para conciliar os horários e se reunirem durante as refeições. “Tudo que é bom exige um esforço e, para cumprirmos esse hábito, também precisamos nos ajustar de vez em quando. Para nós, as refeições à mesa são muito importantes, fazemos praticamente todas as refeições juntos, todos os dias da semana. Na atual rotina da Isabel, nossa filha de 2 anos e 4 meses, costumo dar o café da manhã um pouco mais tarde que o nosso, e o jantar dela acaba sendo mais cedo, mas no almoço estamos sempre nós três”, diz.
Além de ser um momento importante para a família de Isadora, a mesa também virou um hobby e um negócio. “Já adulta, me interessei em pesquisar sobre mesa posta, pensando mais na parte estética, mas me reencontrei com algo mais profundo que existe nesse exercício diário. Montar uma mesa bonita para as refeições começou como um hobby por conta da estética; seguiu por um período como um trabalho, com o atelier que tenho com a minha mãe, e hoje é um tema de estudo mais aprofundado pra mim, pois acredito que as refeições à mesa podem transformar pessoas para o bem. No entanto, a beleza de uma mesa arrumada e pensada com carinho são um instrumento facilitador para atrair as pessoas para esse hábito”, explica.
A Revista DiverCidades pediu algumas dicas simples de mesa posta para a arquiteta Isadora Cabral. Ela listou:
- Use o que você tem em casa para pôr a mesa para uma determinada refeição. Aos poucos e com uma pesquisa, você entenderá o que precisa melhorar;
- Não guarde suas melhores louças para uma visita que pode não chegar. Use para as pessoas mais importantes da sua vida: as que moram com você;
- Dedique um tempo para entender o mínimo de ordem necessária em uma mesa. Não precisamos saber tudo sobre etiqueta, mas os utensílios arrumados de forma correta tornam o momento melhor.
