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Mães e Empreendedoras

seg, 10/05/2021 - 10:55 -- Leila Pinho
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Alle Tavares
A empreendedora Isabel Tuñas não para. Além de administrar os Hotéis Royal Macaé, ela acaba de abrir a Facilitoy, uma loja de locação de brinquedos.

Edição nº 55/ Abril 2021 - Especial Dia das Mães
Texto: Leila Pinho

Não tem glamour: nem na maternidade, nem no empreendedorismo. O que tem de sobra é desafio. Essa afirmação sucinta é o espelho da vida real das três mães empreendedoras entrevistadas para essa matéria da Revista Divercidades e, também, da experiência de uma profissional que lida com os conflitos humanos, que é psicóloga e psicanalista.

Equilibrista!
Me vejo como uma equilibrista, segurando dezenas de pratos ao mesmo tempo”, assim se descreve Isabel Tuñas, de 33 anos, mãe de Marina (2 anos) e Alice (5 anos), e empreendedora em dois negócios: a Facilitoy, que aluga brinquedos, e os Hotéis Royal, de Macaé. Ela relata ser muito comum, no dia a dia, realizar tarefas diferentes do empreendedorismo e da maternidade, simultaneamente. “Às vezes, estou dando de mamar e estou na câmera falando com um cliente. Já aconteceu de estar em casa à noite, numa reunião, e aí aparece minha filha gritando no fundo: mãe, vem me limpar”, conta aos risos.Para ela, alguns dos grandes desafios de ser empreendedora e mãe é conciliar o tempo e estabelecer prioridades. “Realmente, o mais difícil é entender o que é mais urgente na criação dos filhos e o que a gente consegue delegar, e entender o que é mais urgente com relação à empresa e o que a gente consegue delegar”, fala Isabel.
Se a maternidade causa transformações profundas, é natural que muitas delas reverberem na vida profissional. Isabel relata ter mudado muito a forma de pensar e a forma de trabalhar, depois da chegada da primeira filha. “A maternidade trouxe pra mim, um aumento absurdo em empatia, me colocar mais no lugar do outro e olhar pra vida de uma forma mais humana”, diz.
Isabel também se sente mais forte e diz que a maternidade a tornou mais centrada e com mais vontade de vencer e alcançar seus objetivos. Ela conta estar se sentindo feliz no trabalho com a Facilitoy e já iniciou o ano com uma realização: transformou a marca em uma franquia.

Liberdade x conciliar o tempo
Engenheira por formação, Natália Tardim, de 32 anos, decidiu que não voltaria mais a ser funcionária depois que Helena, hoje com quase 3 anos, nasceu. “Mudou tudo. Não consegui me imaginar voltando ao trabalho”, conta. No antigo emprego, ela trabalhava até muito tarde e precisava ficar longe de casa por longos períodos.A liberdade de gerir o próprio tempo e a possibilidade de conciliar a maternidade com o trabalho foi uma das motivações pra Natália decidir pelo empreendedorismo. Quando Helena fez 1 ano, Natália e o marido materializaram o sonho abrindo a Papelê, uma loja de papelaria criativa. “Eu sei que empreendendo a gente trabalha muito mais. Tem dia que, 10 horas da noite, eu ainda estou trabalhando. Mas só de conseguir acompanhar o crescimento das minhas filhas, compensa todo o esforço. Valorizo tomar café com elas, sem pressa, poder almoçar junto... Isso é muito bom”. Hoje, além de Helena, Natália tem a Clarice, de 5 meses.O que é um benefício para Natália, também é um desafio. Ela conta que é difícil conseguir cuidar das filhas, das tarefas de casa e empreender, ainda mais na pandemia. Ela está trabalhando em home office. “Rede de apoio é fundamental. Eu tive a sorte de ter apoio da minha mãe e da minha sogra, às vezes, deixo minhas filhas com elas e fico tranquila”, fala.
Mesmo com a turbulência em tentar conciliar tudo, ela diz estar feliz em poder ver as filhas crescendo e, estar com elas, no ambiente de trabalho. E os negócios estão crescendo também. Em outubro do ano passado, Natália abriu a segunda loja da Papelê, no Centro de Macaé.

Flexibilidade

Apesar de médico ser profissional liberal, muitos têm uma vida de empreendedor, já que o consultório particular não deixa de ser um negócio. Esse é o caso da dermatologista Rúbia Merklein de 34 anos. Depois do nascimento de Benjamin, 1 ano, os horários no consultório particular mudaram um pouco. Se antes ela saia do consultório até às 20h, agora é diferente. “Chego mais tarde no consultório. Meu primeiro horário é às 10h, porque quando o Benjamin acorda, eu quero estar em casa, quero que ele me veja lá. E meu último paciente é às 17h, porque às 18h preciso estar em casa para a babá ir embora”, fala. Rúbia precisou se adaptar, mudou a agenda e outros compromissos de trabalho para conseguir ficar mais tempo com o filho.

Pra ela, os principais desafios de empreender sendo mãe foram ter que voltar ao trabalho um pouco mais de 30 dias depois do nascimento, deixar o bebê e lidar com a privação de sono. “Ter que deixá-lo tão pequenininho foi difícil. A gente acha que ninguém vai cuidar como a gente, é um amor, um apego. A gente não quer ficar longe, não quer perder esse vínculo, isso foi muito difícil”, lembra. Para ela, conciliar as noites mal dormidas, porque o bebê acorda muito de madrugada, e a rotina de trabalho que segue o ritmo normal, é muito cansativo.
Mas a médica diz que, com planejamento e organização, tudo se encaixa. “A gente consegue dar conta e só de ver a alegria dele, crescendo feliz, não tem preço”, destaca.

Culpa, cobranças e conflitos
Dizem que quando nasce a mãe, nasce a culpa. Às vezes, penso: caramba, não estou dando atenção pras minhas filhas como deveria e não estou dando atenção ao trabalho como deveria. É o  tempo todo se dividindo”, comenta Natália.
A psicóloga e psicanalista Gláucia Pinheiro explica que a culpa materna tem profunda relação com a cobrança de um padrão ideal de mãe, construído socialmente, que está ligado ao machismo estrutural. “É uma questão comum porque ela esbarra nessa cobrança social que exige da mulher que ela seja uma mãe que não esqueça o lanche, que coloque o filho pra dormir, que critica o exemplo da terceirização na educação dos filhos. Essa culpa vem desse lugar”, pontua.Gláucia chama atenção para três pontos importantes para a saúde mental das mães que empreendem. “Sustente a escolha do seu trabalho no seu desejo, e não só no retorno financeiro, pense no retorno para sua autoestima e satisfação. Esteja atenta aos ideais construídos socialmente de que maternidade não tem furo, nós podemos falhar sim. Deixe cair os ideais que te limitam. Atenção na educação das crianças, nosso papel é romper essa lógica machista e patriarcal que coloca a mulher num lugar de menos valor que o homem”, finaliza a psicóloga. 

 

 

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