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Ana Clara com os pais Eduardo Nuss e Anyck Finamore. Ela nasceu com nanismo do tipo Acondroplasia.
Ana Clara com os pais Eduardo Nuss e Anyck Finamore. Ela nasceu com nanismo do tipo Acondroplasia.

Como os pais podem preparar os filhos para enfrentar o bullying

Todas as famílias anseiam que seus filhos alcancem uma vida repleta de realizações e momentos felizes. Mas, para proporcionar o máximo de oportunidades para que se desenvolvam em toda a sua plenitude, a educação deve transcender o aspecto cognitivo e incluir também outras aprendizagens, que envolvem o ensinamento de valores, por meio de exemplos. Então, como preparar os filhos para os desafios da infância? Como ensiná-los sobre as ações de bullying, cada vez mais comuns especialmente no ambiente escolar?

A origem do bullying está na dificuldade em lidar com o diferente. Fala-se muito disso, mas a tolerância é uma das coisas mais difíceis para o ser humano praticar, e isso requer muita maturidade em todos os sentidos. Se muitos adultos têm dificuldade em lidar com a diversidade, imagine as crianças e adolescentes para os quais o mundo ainda é um total desconhecido.

A psicóloga clínica Natasha Bastos, especialista em psicodrama e terapia sistêmica, explica que essas ações são uma prática intencional e repetida de atos agressivos que podem ser verbais ou físicos contra outra pessoa. Esse hábito vai fazendo com que, quem recebe a agressão, enfrente um estado de “hangover” emocional, termo clínico para explicar o cansaço acumulado, gerado pelo estresse contínuo, que pode levar ao extremo de um esgotamento emocional.

Ana Clara é uma menina alegre, muito falante, que sempre foi incentivada pelos pais a conquistar sua autonomia apesar das limitações de altura
Ana Clara é uma menina alegre, muito falante, que sempre foi incentivada pelos pais a conquistar sua autonomia apesar das limitações de altura

“A participação ativa da família para a preservação da autoestima e inteligência emocional dos seus filhos, sendo típicos ou atípicos, atua como eixo principal, tendo como base de sustentação psicológica, um ‘lugar seguro’, essencial para a formação individual e para relações interpessoais saudáveis. As comparações são inevitáveis no campo social, portanto, os pais de crianças atípicas podem preparar seu filho para comparações, proporcionando o conhecimento claro e realista sobre a sua condição, buscando meios que ajudem a desenvolver as suas capacidades através de equipe profissional de suporte, reforçando o pensamento de que todas as pessoas são únicas e especiais, com características próprias, e que possuem suas limitações e potencialidades”, pontua a especialista.

Anyck Finamore, Eduardo Nuss e Ana Clara

Anyck Finamore e Eduardo Nuss Viana são pais da Ana Clara, de 8 anos, que nasceu com nanismo do tipo Acondroplasia. Ela faz tratamento com o medicamento Voxzogo para que ganhe mais estatura no seu crescimento. Ela é uma menina alegre e muito falante, que sempre foi incentivada pelos pais para conquistar autonomia, apesar das limitações da altura. Na gestação houve indicação de alteração na medida do fêmur, porém não houve diagnóstico. Após seu nascimento, foram meses em busca do laudo preciso. Um período doloroso, de medos e incertezas por parte da família, que já suspeitava de algo.

A pisicóloga Natasha Bastos reforça que o conhecimento é o caminho para que crianças eadultos lidem com as diferenças com mais naturalidade, melhorando a convivência social
A psicóloga Natasha Bastos reforça que o conhecimento é o caminho para que crianças e adultos lidem com as diferenças com mais naturalidade, melhorando a convivência social

Quando veio o diagnóstico de nanismo, o sentimento foi mais de alívio diante de todas as complicações que poderiam ser. A chance de nascer uma criança com essa condição é de uma em cada 25.000 famílias sem histórico genético, que é o nosso caso. Nunca escondemos a condição dela e, até hoje, nossa conduta é sempre de responder seus questionamentos, sempre a encorajando a realizar o máximo de coisas possíveis”, explica Anyck, pontuando a forma como Ana Clara se comporta diante dos desafios.

Uma das coisas que mais a incomodava era ser chamada de bebê ou ser colocada com idade menor do que ela tem e, diante disso, a orientamos a explicar/responder sobre sua idade real e, se ela desejar, falar que tem nanismo. A gente percebe que as possíveis consequências dessa condição é não ter acesso às coisas altas, como maçanetas, pia de banheiro, bebedouros, acesso a restaurante, por exemplo. Tentamos deixar tudo o mais leve possível sem esquecer que ela é uma criança de 8 anos. Incentivamos as terapias necessárias como a psicóloga, que nos ajuda a ter melhor qualidade de vida, além de mantermos contato com outras famílias com nanismo”, detalha a mãe.

Ricardo Badaró, Renatta Viana e o pequeno Ravi, de 3 anos, que nasceu com uma malformação congênita na orelha esquerda, chamada de Microtia Unilateral.
Ricardo Badaró, Renatta Viana e o pequeno Ravi, de 3 anos, que nasceu com uma malformação congênita na orelha esquerda, chamada de Microtia Unilateral.

Renatta Viana, Ricardo Badaró e Ravi

A jornalista Renatta Viana e o músico Ricardo Badaró são pais de Ravi, de 3 anos, que nasceu com uma malformação congênita na orelha esquerda, resultando num formato menor, chamada de Microtia Unilateral. Ravi é um menino alegre e divertido, brincalhão e apaixonado por música, que está entrando na fase das comparações entre as crianças na escola. Os pais já vêm o preparando para os desafios que virão pela frente diante das perguntas inusitadas, olhares curiosos e possíveis ações de bullying.

Ravi foi planejado, desejado e amado intensamente. Enquanto pais, a gente nunca pensa que nosso filho pode nascer com alguma questão e quando a gente se depara com algo assim, parece que a gente cai num buraco sem fim. Só descobrimos a condição do Ravi no momento do parto. Eu bati o olho no Ravi e percebi a diferença na orelhinha dele, mas ninguém sabia ao certo do que se tratava. A gente se abraçava e pensava, nosso filho não escuta? E agora? A gente vive de música e ele não ouve? Foram momentos de agonia, mas saímos dali realizados e determinados a descobrir tudo. Como boa jornalista, levantei todas as informações possíveis e descobri que se tratava da Microtia, que ocorre em 1 a cada 10 mil crianças”, explica Renatta.

Ravi é apaixonado por música e está entrando na fase das comparações entre as crianças na escola
Ravi é apaixonado por música e está entrando na fase das comparações entre as crianças na escola

Ravi faz acompanhamento com otorrino e fono para garantir melhor qualidade de fala. Além disso, é possível realizar a reconstrução da orelha através de cirurgia com prótese de polietileno poroso (Medpor, Omnipore), indicado a partir dos 6 anos de idade e que possui ótimos resultados estéticos. O casal tem pretensão de realizar a cirurgia, mas tudo ainda será avaliado junto aos familiares e, principalmente, com o Ravi, quando tiver mais idade.

A gente percebe que os adultos são mais curiosos sobre a orelhinha do Ravi e não poupam olhares. Enquanto educador, vejo que a sociedade nos impõe um padrão inatingível e qualquer coisa que fuja daquilo que é considerado normal, desperta reações negativas. Seja acerca de um transtorno, condição rara, se é negro, enfim. Educamos o Ravi para que ele seja livre, como quiser ser, que entenda que ele é único no mundo e é cercado por muito amor”, frisa Badaró.

Lívia Melo e Matheus

A arquiteta Lívia Melo com os filhos Marina, de 8 anos e Matheus, de 11 anos. Ele nasceu com uma síndrome genética rara, a Displasia Ectodérmica, que fez com ele perdesse os pelos do corpo. Ela cria o filho para que ele tenha resposta para os questionamentos das pessoas sobre sua condição
A arquiteta Lívia Melo com os filhos Marina, de 8 anos e Matheus, de 11 anos. Ele nasceu com uma síndrome genética rara, a Displasia Ectodérmica, que fez com ele perdesse os pelos do corpo. Ela cria o filho para que ele tenha resposta para os questionamentos das pessoas sobre sua condição

Lívia Melo é arquiteta e mãe de dois filhos, Marina de 8 anos e Matheus de 11, que nasceu com uma síndrome genética rara, a Displasia Ectodérmica, que faz com que a criança vá perdendo todos os pelos do corpo, ficando carequinha. Matheus é consciente de sua condição, mas já enfrentou períodos muito difíceis na escola por causa do bullying. Para Lívia, a questão do bullying tem muito a ver com o tipo de educação que as crianças vêm recebendo em casa, porque, por si só, elas não têm essa maldade, mas a estrutura familiar pode provocar a situação de agressão.

Matheus adora praticar esportes.
Matheus adora praticar esportes.

Hoje em dia, o Matheus lida melhor com tudo, sabe? Ele me disse: – “Mãe, se as pessoas soubessem o que eu tenho, eu sofreria menos bullying”. Por isso acho tão importante falar sobre isso. Aos 3 anos, descobrimos no Matheus uma luxação congênita rara na cabeça do rádio, com 4 anos ele começou a perder pelo e só 4 anos depois chegamos a um pré-diagnóstico. A síndrome afeta 1 a cada 100 mil indivíduos e são mais de 150 variações, ou seja, existe um caminho a ser percorrido. Mas temos uma equipe multidisciplinar por trás dando todo suporte. Diante disso, a gente cria nossos filhos para que tenham respostas, se sintam seguros, que entendam quem são e consigam transpor o que a sociedade impõe.”

A psicóloga Natasha reforça a importância de fortalecer o valor próprio da criança, não o colocando num lugar de vítima.

“O conhecimento é um ótimo caminho para que crianças e adultos lidem com as diferenças com mais familiaridade e naturalidade, melhorando a convivência social em geral”, finaliza.

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