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Cães, o lar agora é deles

qua, 20/04/2016 - 09:42 -- Leila Pinho
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Alle Tavares
cães vestidos de roupa na casa com os donos

Do pequeno ao grande porte, de raça ou vira-lata, os melhores amigos do homem estão cada vez mais ganhando espaço nos lares e na vida das famílias brasileiras. Se há algumas décadas era comum a sociedade ver o cão como o guardião da casa que ficava restrito ao quintal, o cenário hoje é outro. Os cães estão sendo criados dentro das residências, compartilhando os mesmos espaços com seus donos e com laços afetivos muito mais fortes. A relação está diferente, a forma de tratamento também e junto com isso vem uma série de outras mudanças de hábitos.

cães vestidos com roupinhasQuando a equipe de reportagem da DiverCidades chegou ao apartamento da empresária Luce Jane Soares, em Macaé, quem recebeu primeiro, à porta, foram a fêmea Luyme (raça west highland white terrier) e o macho Dudu (raça schnauzer). Vestidos com roupinha e ouriçados com a presença das visitas, eles indicaram ser bem mais que animais de estimação, a começar pela razão dos nomes. Luyme é uma junção dos nomes de Luce e Jayme (marido) e Dudu, uma abreviação de James Edward em referência ao nome do dono, Jayme Eduardo Miranda e Silva, que tem 50 anos e é gerente do serviço de Poço de Libra da Petrobras.

O casal Luce e Jayme optou em não ter crianças e tem Luyme e Dudu como seus filhos. Luce faz questão de explicar que não quis substituir os animais pelos filhos. “Quem gosta de cachorro vai ter um de qualquer forma porque gosta de bicho, independente se quer ter filhos ou não”, fala. Para Jayme, Luyme e Dudu são parte da família e ele se emociona ao falar deles. “Gosto muito da companhia deles. Dura relativamente pouco, a gente sabe que o tempo deles não será muito longo”, diz Jayme, fazendo referência ao tempo de vida dos cães. Cada ano de vida do ser humano equivale a 7 deles.

Brasileiro gosta mesmo dos melhores amigos do homem, tanto que o país tem o 2º maior mercado pet do mundo (segundo o Pet Brasil), perdendo apenas para os Estados Unidos. Uma pesquisa realizada pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013 e divulgada no ano passado revelou que o número de famílias brasileiras que criam cães já supera o de famílias com crianças. O levantamento inédito da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013) aponta que a população canina em lares do país é de 52,2 milhões. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), também realizada em 2013, mostra o índice de 44,9 milhões de crianças de até 14 anos.

família gerlane com cãesSe, para algumas famílias, cuidar dos filhos e de um ou dois bichos não é fácil, imagina só dar conta de 12 cães. A consultora de RH, Gerlane Mota de Araújo Benjamin, de 36 anos, consegue conciliar a vida dela, do marido, dos dois filhos, junto com 11 shih tzus, uma boxer, dois gatos, três calopsitas e ainda dois jabutis. “Aqui em casa é quase um zoológico”, brinca Gerlane. Ela ama animais desde a infância e esta paixão contagiou toda a família. Atualmente, 10 shih tzus são criados também para reprodução e venda dos filhotes.

A convivência entre todos eles é boa porque Gerlane se dedica muito, tem organização e conta com a cooperação do esposo e dos filhos. “Os cachorros têm acesso à casa (parte interna) em horários determinados. Quando as crianças chegam da escola, deixo eles brincarem, mas não solto todos de uma vez. Vou revezando. É um convívio saudável e higiênico”, pontua.

Conforme conta o marido dela, o advogado Felipe Benjamin, de 41 anos, a história da família é muito ligada aos animais e em vários fatos importantes tem sempre um cachorrinho no meio.  “Nunca tivemos problemas de adaptação das crianças com os cães”, fala Felipe. “Meus filhos andaram com 10 meses. Foi muito rápido por causa da Sofia (cadela que já faleceu), porque eles queriam andar atrás dela. Lembro-me de Laura (mais velha) engatinhando, com 7 meses, tentando pegar o rabo da Sofia”, conta Gerlane.

 

Lugar de cachorro é... dentro de casa

 

idosa com cachorrosNa sala do apartamento de Maria Noêmia da Costa Silvestre Ferreira, 72 anos, há várias almofadas e caminhas espalhadas, todas são para Lola (shih  tzu) e Nina (maltês). A idosa é viúva e mora sozinha, já que as duas filhas têm suas famílias. Noêmia se preocupa com a posição dos móveis e outros objetos, em função dos bichos. “Eu não gosto de me ausentar muito porque elas sentem e quando saio, tiro os fios das tomadas para elas não se machucarem”, conta. Ela ganhou os animais de uma das filhas. O presente chegou pouco depois de Noêmia perder Bibi, um yorkshire que tinha vários problemas de saúde. Nina e Lola a ajudaram a superar a morte do bichinho e hoje, são ótimas companhias.

No lar do jovem casal Diana Lizandra Moura Dias, de 27 anos, e Diogo Guedes de Castro, 28 anos, não é diferente. Eles possuem dois vira-latas, o Bebê e o Skol, que circulam livremente pela residência. “Não há lugar que eles não vão, tem travesseiro e colcha pela casa toda. Eles são os filhos que a gente ainda não teve”, diz Diana. A dupla canina dorme no quarto do casal, porém Diana está começando a acostumá-los a passar a noite em outro local, já que planeja ter filho. Ela reflete sobre as mudanças que a chegada do bebê vai causar na rotina dos cães. “Vamos ter que repensar algumas coisas, porque com criança dentro de casa muda tudo. Mas, provavelmente, vou continuar deixando Bebê e Skol dentro de casa até para que eles aceitem o bebê. Acho que é mais saudável socializar todo mundo junto”, opina a jovem.

veterinária da auqmia de macaéSegundo explica a veterinária Andreia Lima Maia Amaral, da clínica Auqmia, é comum os donos deixarem os cães dormirem no quarto. No entanto, quando a família aumenta, mudar o local do soninho pode se tornar um problema. “Depois que nasce o filho, os donos querem tirar o cão dali. Mas o cachorro entende que o quarto é o ambiente dele, afinal ele foi criado ali. E aí, o animal pode reagir mal, ficar agressivo. E muitas vezes, as pessoas não entendem esse comportamento.” Por isso, ela orienta aos donos acostumarem desde filhote, a dormir no mesmo local que vai permanecer. Assim como as crianças, os bichos precisam de rotina e, nos primeiros meses de vida, é fundamental manter os mesmos hábitos.

Para uma boa convivência entre cães e pessoas, a saúde do animal precisa ser bem cuidada, afinal, assim a família também estará protegida. Andreia dá várias dicas para proporcionar qualidade de vida e bem-estar aos cães como: dar ração de boa qualidade; quando filhotes, aplicar as vacinas necessárias e dar vermífogo; combater pulgas e carraptos com orientação do veterinário para evitar o uso indiscriminado; dar o medicamento preventivo contra a filariose (doença do verme do coração); cuidar da saúde bucal do animal, mantendo o hábito de escovar os dentes; limpar os ouvidos; dar banho no máximo uma vez por semana; consultar o veterinário sempre que necessário e gastar a energia dos cães.

 

E... onde os donos estiverem

 

Para o casal Luce e Jayme, a escolha do lugar para curtir momentos de lazer costuma passar por um critério: — Aceitam cachorros? Se a resposta for sim, o passeio será muito mais feliz. Em Macaé e em outras cidades, eles têm o hábito de levar Luyme e Dudu aos restaurantes. “Meus animais são educadíssimos e eu os carrego para onde for”, diz Luce. E leva mesmo. Os cães viajam frequentemente com ela, para São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Luce só fica em hotéis que recebem animais e, no período de permanência em outras cidades, procura selecionar programação de entretenimento para os bichos.

família com cão da raça shiba inuA boa convivência dos animais dela em ambientes públicos é resultado da educação. A empresária leu livros sobre comportamento canino, viu programas de TV do tema e procurou instrução para criá-los. Como resultado, ela conseguiu que Luyme e Dudu se comportassem bem nos locais frequentados pela família.

Quando a engenheira de automação Vanessa Keith Lopes da Silva, de 28 anos, recebeu uma proposta para trabalhar na Noruega, logo pensou como se organizaria para mudar. Há 1 ano, ela deixou o apartamento onde morava em Niterói junto com o noivo Leonardo Tavares Miguel, de 27, para morarem no outro país. Porém, como tinham dúvidas quanto à adaptação  na Noruega, optaram por não levar a cadela deles, Kira (shiba inu), que por sua vez ficou em Macaé com a professora Fernanda Tavares Pinto, de 37 anos, irmã de Leonardo.

O futuro reserva uma terceira nova moradia para Kira, na Noruega. Os donos planejam levá-la embora no meio do ano e, agora, a saudade é que vai mudar de endereço. Depois de ficar 1 ano cuidando de Kira, Fernanda e suas duas filhas Carol Tavares e Maria Eduarda Tavares, já sentem o clima de despedida. “Nem sei como vai ser quando ela for embora”, diz Fernanda, com os olhos cheios de lágrimas. A professora conta que se afeiçoou muito à cadela, assim como suas filhas.

 

Humanização

Foto: Gianini Coelho

vira-latas no colo dos donosTratar o cão como se fosse uma pessoa pode parecer fofo para alguns e até inofensivo, mas, para a veterinária Andreia, não é nada bom. “O animal não pode perder sua personalidade. Ele precisa correr atrás de passarinho, se molhar na chuva, latir e farejar. E, às vezes, os donos tiram isso do cachorro. Ele precisa de contato com o meio externo”, afirma a veterinária. Nos atendimentos no consultório, ela observa comportamentos incomuns. De acordo com ela, alguns acabam pegando manias dos donos porque são criados como se fossem seres humanos.

Diana reconhece que humaniza seus cães. Às vezes, os trata como bebês, mas acredita que não exagera. Ela e o marido entendem a necessidade dos bichos de serem animais e por isso, pagam profissional para passear com eles. “Pra gente, é essencial eles gastarem energia, até porque, são muito trelosos (expressão usada em Recife – terra natal do casal - que significa sapecas)”, relata.

Há alguns anos, Luce Jane era contra o uso de roupas e acessórios em animais. Mas mudou de ideia ao notar que as pessoas tendem a receber melhor os cães, em ambientes públicos, quando eles são tratados de forma mais humanizada. “Quando eu os levava para o restaurante vestidos com roupinhas, a reação das pessoas era mais positiva do que quando eu levava sem as roupas. Eu acredito que seja por causa do pelo. Tenho a sensação de que as pessoas se sentem mais protegidas porque acham que com a roupa o pelo não vai voar”, comenta.

 

Mercado pet e a evolução da medicina

 

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o Brasil é o 2º maior país do mundo em população canina, de gatos, de aves canoras e ornamentais, e possui o 3º maior faturamento mundial. Somente em 2014, o mercado nacional faturou R$ 16,7 bilhões.

pet shopHá 13 anos trabalhando no mercado de pet shop em Macaé, o empresário Gustavo El Hage (40 anos) explica como a mudança de comportamento das famílias em relação aos cachorros impactou os negócios do segmento. Ele é sócio-proprietário da Pró-Mascote, pet shop que fica no bairro dos Cavaleiros. “Os donos se preocupavam mais com medicamento e vacinas e pouco com a alimentação. Ainda peguei aquela fase de transição quando alguns deixaram de dar angu como alimento e passaram a adotar a ração”, lembra o empresário.

Quando Gustavo abriu sua loja, vendia basicamente ração. Hoje, o estoque mudou muito. Além das rações e medicamentos, tem produtos cosméticos, acessórios, mercadorias e serviços de beleza e higiene como banho e tosa, além de muitos brinquedos. Um termo conhecido pelos consumidores de brinquedos foi até emprestado para o mercado pet. Atualmente, as lojas vendem brinquedos interativos para os animais domésticos. São produtos que podem entreter o bicho e ainda ter outras funções como alimentar.
  
Os dados do único hospital veterinário de Macaé, o Hospital Veterinário 24 horas, também mostram a ascensão do mercado e a crescente preocupação com o bem-estar dos animais. O número de atendimentos realizados no hospital, somente para cachorros, mais que dobrou nos últimos 5 anos. Em 2010, foram 1.017 atendimentos e em 2015, 2.473, um aumento de 143%.

cirurgia em hospital veterinário de macaéDe acordo com a proprietária do hospital, a médica veterinária Sheylla Perrout Suhett, a forma dos donos lidarem com a dor do animal também era bastante diferente de como é hoje. “A realidade mudou em números e no perfil de demanda de necessidade das famílias. Antes, as pessoas queriam só tratar superficialmente e não havia um critério de alívio de sofrimento como existe hoje. As pessoas querem, atualmente, o tratamento, a cura e o alívio da dor de forma rápida, mas com qualidade”, ressalta.

A medicina veterinária evoluiu e as pessoas passaram a ter mais acesso aos tratamentos. Se antes só havia o médico veterinário clínico geral, hoje tem ortopedista, endocrinologista, cardiologista, oftalmologista, fisioterapeuta, entre outras especialidades. Nos métodos diagnósticos, houve muitos ganhos. “Aqui, pelo hospital, nós fazemos a tomografia (terceirizada), há mais ou menos um ano. Pelo exame, é possível identificar tumores muito pequenos, que ainda não seriam identificados no raio X, lesões do sistema nervoso, como crânio ou lesões de coluna, etc. A radiografia comum hoje é digital, então a qualidade de imagem é absurda e isso dá recursos muito bons pra gente trabalhar e hoje, o cliente está disposto a pagar por isso”, esclarece.

Mas, apesar do vigor do segmento, a crise econômica produz impactos. Atualmente, Gustavo também sente os reflexos da recessão. “Muitos clientes foram embora de Macaé. Eu senti a crise mais forte no supérfluo. Os consumidores estão mais seletivos e comprando menos brinquedos e acessórios. Mas na parte de banho e tosa não impactou tanto”, fala Gustavo.

Noêmia é prova disto. Toda semana, ela leva as cadelas Nina e Lola para tomarem banho. Hábito do qual ela não abre mão, assim como outros. “Mantenho as vacinas sempre em dia. Não dou comida que não seja ração e biscoitinho, só na hora certa. Uso tapete higiênico e mantenho a água de beber sempre fresquinha”, conta.

No hospital, Sheylla observa que os clientes não deixam de cuidar dos animais, por isso, o volume de atendimentos segue uma média, sem grandes alterações. “Em relação à crise, os donos tentam negociar e flexibilizar a forma de pagamento, mas não abrem mão do resultado e do tratamento correto”, finaliza.

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