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A Serra Macaense e seu poder de sedução

sex, 11/08/2017 - 09:58 -- Leila Pinho
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Foto: Vavá - Dom Fotográfico
cachoeira do Poço Verde, em Crubixais, Macaé

O cheiro de mato, a simplicidade das pessoas, o bom dia a qualquer um, a prosa sem pressa, o canto dos passarinhos, os sussurros do rio, o tempo que passa mais devagar e ainda um pouco de outras coisas encantam e conquistam pessoas que decidiram: “quero viver na serra”.  Em Macaé, a região serrana guarda muitas histórias de gente que largou a agitação da cidade e escolheu o sossego.

O empresário Cláudio Bogado, de 56 anos, frequentava o Sana na época em que o distrito nem tinha luz, na década de 1980. Ele fazia motocross pela serra e passeios para curtir a natureza. “Foi quando em 2000, eu construí uma casa e nesse lugar eu buscava me reenergizar. Quando estava cansado, sem imaginação pro trabalho, ia pro Sana, aquele é um lugar de energia muito linda”, fala Cláudio. Nesse período, o empresário ainda morava no centro urbano de Macaé e ia para o Sana só aos fins de semana, afinal ele precisava cuidar do negócio, já que administrava o Mercado das Tintas.

Foto: Bárbara Wenderroschi

claudio bogado na pousada maritacas do sana, em macaéCom o passar dos anos, os filhos de Cláudio assumiram o negócio. Foi quando, em 2013, ele tomou a decisão de se mudar, definitivamente para o Sana. Passou a ser apenas conselheiro, na empresa da família e abriu uma pousada no distrito, a Maritacas do Sana. O empresário juntos algumas coisas que gosta muito de fazer: trabalhar e estar em contato com as pessoas e a natureza, levando uma vida mais simples. Com a mudança de vida, ele se sente realizado e feliz.

“Os valores passam a ser outros. Não é o bem, nem o patrimônio que importam, a gente passa a ver a beleza em coisas simples, como as frutas brotando nas árvores, o vôo de um tucano, as plantas e as flores desabrochando. Me sinto muito bem no Sana e quando vou pra Macaé, fico logo doido pra voltar”, relata Cláudio.

Ele ressalta a proximidade com as pessoas e o tempo para se dedicar às relações humanas como uma característica típica de quem vive na serra. “Gosto de conversar com os hóspedes, sinto prazer em estar com eles. E sinto, às vezes, que é como se eu estivesse retornando no tempo, quando eu trabalhava no balcão e tinha o tête-à-tête com os clientes”, fala.

Quem também voltou às origens foi o operador offshore e fotógrafo profissional Everaldo Esterque, de 51 anos, mas conhecido pelos amigos como Vavá. Nascido e criado em Trapiche, Vavá foi morar no centro urbano de Macaé por volta dos 20 anos de idade em busca de trabalho. Atualmente, nas folgas, uma chácara em Trapiche é o destino certo dele e da família. “Esse contato com o meio ambiente e a liberdade, não tem coisa melhor. Em Trapiche a gente fica solto, toma banho de rio a noite e não tem problema nenhum”, comenta Vavá.

Foto: Dom Fotográfico

vavá, na serra de macaéO fotógrafo sempre gostou de esportes de aventura e por volta dos anos 2000 ajudou a desenvolver o turismo na serra, com arvorismo, entre outras atividades. Nos passeios que fazia explorando os diversos distritos da serra de Macaé, conhecia muitas cachoeiras. Assim, de forma despretensiosa, ele começou a marcar e registrar, em fotos, as cachoeiras que encontrava.

A iniciativa foi ganhando corpo e Vavá fez um mapeamento das cachoeiras de Macaé, com registros da exata localização e fotografias. Até o momento ele já mapeou 163 cachoeiras, a maior parte deles fica em áreas privadas. “Serra da Cruz é onde mais tem cachoeira. Eu acho que tem mais além das 163. Comecei a fazer isso sem muita pretensão, mas depois vi que isso poderia ajudar a desenvolver o turismo em Macaé, existe um potencial enorme”, fala o fotógrafo.

Para chegar às cachoeiras não é fácil, já que muitas estão dentro de propriedades particulares. Mas, Vavá conta com uma vantagem familiar para vencer os obstáculos. “Sou nascido e criado na serra, então quando estava procurando as cachoeiras, falava pros donos que eu sou filho da BC, como minha mãe era conhecida na serra. E isso abria muitas portas, porque muitas pessoas conheciam minha mãe. A serra tem cada cachoeira espetacular, tem uma em Córrego do Ouro que a gente calcula ter uns 110 metros de altura. A gente chama de Cachoeira da Fortuna, já que ali perto havia o cemitério da Fortuna”, relata Vavá.

Vavá sonha em ver o turismo na serra sendo desenvolvido e está buscando parcerias para lançar um livro com o mapeamento das cachoeiras. Ele quer compartilhar esse legado com a cidade e democratizar o acesso às informações. Uma parte deste amor pela serra, ele já está deixando para a posteridade.

Já o professor de educação física e proprietário do Mundo da Lua Orquídeas, no Sana, Alan Júnior, de 38 anos, fez o caminho contrário de Vavá. Alan fechou uma academia que tinha em Macaé, em 2010 e se mudou para o Sana. Ele estava pensando na qualidade de vida que ganharia morando na serra. Como cultivava orquídeas desde garoto e gostava muito, quis investir o dinheiro da venda da academia na abertura de um orquidário, de onde tirava seu sustento.

Foto: Paulo Tinoco

homem que cultiva orquideasPara ele, morar na serra é um sonho. O professor gosta da calmaria e das belezas do lugar. “Os costumes são diferentes da cidade. As pessoas passam na rua e dão bom dia, todo mundo se conhece. É uma vida diferente. Na cidade ninguém tem tempo pra nada, no Sana você tem tempo pra viver, pra cuidar da horta em casa, pra tomar café com o vizinho e essas coisas. Quero criar o meu filho lá, pra ele andar de bicicleta na rua, livre”, diz Alan.

Por causa das plantas, Alan relata ter conhecido muitas pessoas do Sana e também turistas. Para ele, essa interação mais próxima com os outros é das melhores coisas de viver na serra. “Eu tenho orquídeas híbridas (resultado do cruzamento de duas espécies) e teve uma vez que levei uma pra venda, na loja, era uma orquídea vermelha da flor grande. Então, chegou uma senhora do Sana e comprou a orquídea e no caminho de volta pra casa, algumas pessoas viram a planta. Passou um tempo e chega uma outra senhora na loja me dizendo que queria comprar a orquídea carijó. E então eu perguntei: - Mas, porque carijó? E ela disse, porque ela é pintadinha igual a galinha carijó”, recorda Alan, aos risos.

Porém, há pouco tempo em função da crise financeira e da queda brusca no turismo no Sana, Alan teve que fechar o orquidário e precisou voltar para o centro urbano de Macaé e dividir moradia entre a cidade e a serra. Atualmente, ele fica alguns dias na cidade e aos fins de semana no Sana. A vontade dele é voltar a ficar integralmente no distrito. “Se não fosse essa mudança econômica, estaria lá até agora”, afirma Alan.
 

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