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Produzindo a própria gelada

seg, 18/07/2016 - 14:37 -- Alice Cordeiro
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Fotos: Alle Tavares
cervejas artesanais de macaé

Brassagem, mostura, recirculação, resfriamento, maturação e fermentação são palavras frequentes do vocabulário de alguns amantes de cerveja. Não só em Macaé, como em inúmeras cidades brasileiras, virou febre fazer cerveja artesanal. Assim como nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Bélgica, é comum encontrar pessoas que preferem se aventurar na cozinha de casa em busca da cerveja dos sonhos a comprar qualquer “gelada” num bar.

A procura pela excelência na produção não é novidade, de acordo com especialistas, ela existe desde a Idade Média, quando os monges desenvolveram técnicas de fabricação que garantiam uma cerveja mais agradável e nutritiva, já que ela os ajudava a passar os difíceis dias de jejum, quando só podiam ingerir líquido. Com isso, os mosteiros impulsionaram a produção e o consumo de cerveja e ganharam a fama dos melhores cervejeiros do mundo.
homem com cervejas
Apesar de ser paixão nacional, ainda ocupamos a 27ª posição mundial no ranking de consumidores de cerveja que, em 2014, apontou o consumo brasileiro de 66,9 litros por pessoa, enquanto a República Checa - 1ª no ranking - consome 147,1 litros por pessoa. No entanto, ficamos com a medalha de bronze entre os produtores de cerveja, perdendo apenas para Estados Unidos e China, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil).

E esse número tende a subir. Em 2013, o Brasil tinha 200 microcervejarias. Hoje, de acordo com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), esse número pulou para 280, representando um aumento de 40% em três anos.

Macaé não fica de fora desta tendência, a Associação de Cervejeiros Caseiros de Macaé (Acerva Macaé) conta com 55 cervejeiros que, segundo o presidente Adiles Carvalho, produzem aproximadamente 1.000 l/mês para consumo próprio. Pode não parecer, mas é uma grande quantidade se for considerado que a média de produção por brassagem são 30 l, que demoram cerca de 30 dias para ficarem prontos para consumo.

Foto: Gianini Coelho
homem moendo malte
“Completamos três anos em junho e continuamos com o mesmo objetivo de desenvolver a cultura da cerveja artesanal como hobby e ajudar no aprimoramento técnico dos cervejeiros. Hoje, nosso município conta com oito cervejeiros artesanais que já estão comercializando legalmente seus produtos com um nível altíssimo de qualidade e diferentes estilos”, explica Adiles, destacando a atividade como possível empreendimento.

O número de cervejeiros artesanais no Brasil ainda é incerto, no entanto, a cada dia um novo interessado busca informações sobre o assunto, seja com amigos já cervejeiros, com associações, em cursos específicos e, principalmente, na internet.

 

A produção

Foto: Gianini Coelho

homens fazendo cerveja artesanalA famosa brassagem (ou mostura) é o momento inicial da produção, quando o malte, depois de moído, é misturado à água quente para que sejam ativadas enzimas capazes de transformar o amido contido no malte em açúcares, que, futuramente darão origem ao álcool da cerveja. A temperatura nesse caso é fundamental para o processo, por isso os cervejeiros têm que estar sempre atentos. O resultado dessa mistura chama-se mosto, e leva cerca de 8 horas para ser concluído.

“Esta é uma das principais etapas, sempre feita com muito cuidado e atenção, pois qualquer erro pode interferir no sabor da cerveja, ou até mesmo estragá-la”, comenta Adriano Cordeiro Peixoto (o Bira), da cervejaria Macahé Craft Beer.

Após esta primeira etapa, podemos saborear a cerveja. Certo? Errado! A cerveja só estará pronta para consumo após 30 dias, dependendo do processo escolhido. Depois da brassagem, o mosto é resfriado e deverá ficar sete dias fermentando em temperatura ambiente. Após os sete dias, começa a etapa da maturação, quando o fermentador (onde está o íquido) deve ser levado à geladeira por mais sete dias. Depois disso, ocorre o acréscimo de açúcar e, por fim, o envase. Mas a cerveja ainda não está pronta para consumo. Ela deverá esperar mais dez dias para a refermentação em temperatura ambiente, neste momento a cerveja adquire o gás.

Se ocorrer tudo bem, aí sim é o momento de colocar a “cerva” para gelar e chamar os amigos para experimentar! O longo processo faz com que muitos cervejeiros prefiram trabalhar em grupos, assim cada um pode fazer uma etapa, ou todos fazem juntos, o que acaba virando uma confraternização.

Foto: Gianini Coelho

homens com cervejaÉ o caso da Confraria Macaense da Cerveja e Rock and Roll, fundada em 2014 e que já conta com 39 membros, que se reúnem a cada dois meses. “Nossas brassagens são sempre coletivas o que permite aos mais experientes darem dicas àqueles que ainda não dominam todo o processo. Durante os encontros os confrades que fizeram cerveja durante o período levam para degustação e os que não fizeram levam rótulos variados para apreciação dos demais. Além disso, todos têm que levar uma playlist com sete musicas de rock para tocar durante o evento”, explica Leandro Marinho, um dos idealizadores da confraria. De forma bem-humorada, os encontros têm ainda concurso de melhor playlist de rock e discussão sobre a melhor receita do dia.

Sócios na Macahé Craft Beer, Bira, Ian Souto Maior e Vítor Chaves Batista da Silva (o Vitão) já contam com três rótulos no mercado macaense. Farmacêutico, Bira conta que fez sua primeira cerveja aos 18 anos, depois de ver um amigo fazer uma bebida fermentada com legumes. Depois desse primeiro contato, ele só voltou a fabricar cerveja há cinco anos, quando o sobrinho Ian o instigou a comprar um kit cervejeiro.

Depois de morar quase dois anos na Califórnia, Ian se adaptou à cultura de fazer sua própria cerveja. “Lá, a produção artesanal é muito comum. Inúmeras festas são feitas à base de cerveja caseira. Voltei para o Brasil e passei a saborear esses rótulos, só que na época não existia uma grande variedade em Macaé. Por isso, chamei o Bira para criar a nossa cerveja”, conta Ian.

O fato de ser farmacêutico facilitou o aprendizado de Bira e logo ele estava inserido em outro grupo. Desta vez com o Vitão, que se apaixonou pela arte de fazer cerveja artesanal em 2005, depois de ver uma reportagem sobre o tema. “Cada grupo tinha uma cerveja. Como o Bira estava nas duas, decidimos nos juntar e fundamos a Macahé Craft Beer para lançar a Macaípa, nossa primeira cerveja a ser comercializada formalmente. Hoje, além dela, temos a Choro Belga e Witbira!”, detalha Vitor.

 

Fator local

 

Além do sabor marcante, da textura encorpada e dos aromas diversos, as características locais também despertam o interesse dos cervejeiros, pois uma mesma receita seguida à risca por dois cervejeiros em cidades diferentes, podem ter aspectos distintos por serem influenciadas pelo clima local.

alexandre barbosa com a cerveja show de bolaPor isso, muitos acreditam que a cerveja artesanal pode ser um importante produto relacionado ao turismo. “Quando viajo, quero beber a cerveja artesanal daquela cidade. Por isso, sempre fiz questão de manter o nome Macaé nos rótulos das minhas cervejas”, conta o cervejeiro e sommelier Alexandre Barbosa, um dos donos da cervejaria Show de Bola, com quatro rótulos no mercado macaense.

As características locais também foram levadas em consideração no lançamento da Macaípa. “Fizemos questão de homenagear a cidade ao batizar a cerveja além de escolher a palmeira, símbolo da cidade, como referência no rótulo”, conta o cervejeiro e designer Ian Souto Maior.

Corroborando esse pensamento, Alexandre Carneiro, proprietário da loja Confraria Pão Líquido, acredita que a cerveja pode contribuir para a geração de emprego e renda na cidade. “Além de uma fábrica cervejeira poder gerar empregos, poderia existir uma cervejaria escola que prepararia profissionais para trabalhar nesse mercado, garantindo ainda mais renda para a cidade”, acredita.

O empresário percebeu que existia demanda por uma loja de insumos e equipamentos cervejeiros na região. Segundo ele, durante as brassagens, sempre acontecia algum imprevisto e os cervejeiros precisavam de alguma coisa. “Isso era muito frustrante, pois as lojas mais próximas ficavam no Rio. E isso comprometia todo o planejamento da produção, que tinha que ficar para outro momento”, conta Alexandre Carneiro.

alexandre carneiroLocalizada no Macaé Shopping, a Confraria Pão Líquido comercializa toda a matéria-prima para a produção das receitas, além de equipamentos de qualidade. “Ofereço tudo o que é necessário para qualquer receita e torço para que, no futuro, os rótulos produzidos estejam aqui dentro, sendo comercializados para o cliente final”, incentiva. Na loja, um kit inicial de 20 litros custa entre R$ 1.600 e R$ 2.300 em equipamentos e R$ 160 para insumos.

 

Da cozinha para a fábrica

 

É comum encontrarmos cervejeiros que querem mais do que oferecer sua cerveja para os amigos. Eles percebem que o hobby pode virar um negócio lucrativo. Alguns já começam o produzir pensando na viabilidade econômica. Outros, despretensiosos, acabam chegando a esse destino sem querer.

Foi o que aconteceu com o engenheiro e cervejeiro Anderson Faller que começou a produzir cerveja em casa há seis anos, junto com a esposa. Eles fizeram curso de cervejeiro artesanal no Rio e usavam os fins de semana para fazer as brassagens e se aperfeiçoarem.

anderson faller com a cerveja premiada da eisenbahn“Quando tomamos nossa primeira cerveja, tivemos uma sensação maravilhosa de felicidade, pois fizemos todo o processo sem ter a certeza que tudo daria certo. Costumo dizer que essa foi a melhor cerveja, pois foi feita com todo o cuidado e máxima atenção que a primeira produção exige”, conta Anderson, que prefere produzir a cerveja apenas com a mulher, sem os amigos por perto.

Todo esse cuidado garantiu a Anderson o 1º lugar no Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn de 2014, quando sua cerveja, batizada de Ventura, foi comercializada como uma edição especial da renomada cervejaria. O concurso teve mil rótulos inscritos e participantes de todo o Brasil. “Além de ver minha cerveja comercializada, fui premiado com uma visita à fábrica Eisenbahn, em Blumenau, ganhei 20 caixas e pude batizar a cerveja”, conta radiante.

Primeira microcervejaria macaense a colocar a bebida no mercado, a Macahé Craft Beer esperou seis meses até que todas as aprovações para comercialização fossem dadas. “Mandamos uma amostra para análise e o laudo foi enviado para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que libera a produção. O primeiro envase foi um sonho realizado e a sensação de ter uma cerveja comercial é muito gratificante. Uma vez, eu estava em um bar que comercializa a nossa cerveja e escutei a conversa de pessoas da mesa ao lado. Elas estavam experimentando a Macaípa e falavam que a nossa cerveja era muito boa mas que preferiam a IPA da BrewDog que é considerada uma das melhores Ipa do mercado. Isso mostra que estamos no caminho certo”, orgulha-se Bira.

Outros cervejeiros macaenses estão fazendo grandes investimentos no mercado. É o caso de Alexandre Barbosa da Silveira e de Roberto Campello, sócios da cerveja Show de Bola. “Meu interesse pela cerveja artesanal começou em 2013. Antes disso, eu não gostava de cervejas encorpadas. Nessa época, dois amigos fizeram o curso, e eu achei inusitado e me interessei. De lá pra cá, já fiz mais de 40 receitas e não paro de fazer experimentos”, conta o empresário e cervejeiro Alexandre Barbosa.

Assim como a maioria dos cervejeiros artesanais, no início, Alexandre começou a dar suas cervejas e a vender entre os amigos. “Percebi que as pessoas gostavam muito e vi na cerveja uma oportunidade. Assim, lancei a primeira Show de Bola, em 2015”, conta Alexandre, que já oferta quatro rótulos no mercado.

Para ser comercializada, toda cerveja tem que ser produzida em uma fábrica cervejeira com autorização do Ministério da Agricultura. Como construir uma fábrica não é simples e nem barato, inicialmente, as cervejarias optam por realizar sua produção em alguma fábrica que já tenha essa autorização. Por terceirizarem sua produção, essas cervejarias são denominadas “ciganas”, entre os cervejeiros. É o que acontece com todas as marcas macaenses, que produzem suas cervejas fora da cidade, em Santa Maria Madalena ou Quissamã. Mas este quadro está prestes a mudar. Isso porque a Show de Bola vai inaugurar a primeira fábrica macaense de cerveja artesanal, prevista para outubro deste ano.

Alguns cervejeiros, como Anderson Faller e Alexandre Barbosa, preferem trabalhar sozinhos. Mas a maioria opta por estar com amigos, seja para dividir os custos, o trabalho e, principalmente, ter um motivo a mais para se reunirem.

homens com cervejasFoi assim que nasceu a Coronel Pafo, dos amigos Fred Medeiros, Jonas Esteves, Jhony dos Santos e Rodrigo Borsato. O que era apenas um motivo para reunir o grupo, acabou virando uma sociedade e, em junho, eles lançaram seu primeiro rótulo no mercado macaense. “A ideia de fazer cerveja, surgiu durante a copa de 2014. Depois de algumas rodadas de cerveja convencemos o Jonas a nos ensinar o processo de produção”, lembra Fred Medeiros. Como Jonas já tinha os equipamentos para produção, foi a motivação que precisava para voltar a usá-los.

“Não tínhamos intenção de comercializar, mas nossos amigos começaram a elogiar; as pessoas faziam divulgação nas redes sociais e isso começou a gerar uma demanda maior pela nossa cerveja. Então, decidimos nos estruturar para vender”, detalha Rodrigo Borsato.   Os quatro amigos têm outras profissões e não dependem da cerveja para sobreviver. Atualmente, o grupo faz 500l da bebida com a mesma qualidade e cuidado de quando fazia apenas 50l.

 

Como beber

 

janaína faller com cervejasPara aqueles que não querem colocar a mão na massa, mas não abrem mão de degustar cervejas especiais, é importante saber que existe uma forma correta de saboreá-las. Por isso, é cada vez maior o interesse por cursos que ensinem os segredos de uma boa cerveja artesanal como os oferecidos pela sommelière de cervejas Janaína Faller, esposa do já citado Anderson Faller.

“Muitas vezes, as pessoas ficam perdidas até na hora de escolher a cerveja. Depois de comprar ainda é preciso saber beber, pois cada cerveja deve ser saboreada em uma determinada temperatura. Não é como as tradicionais que devem ser bebidas estupidamente geladas”, detalha acrescentando que até o formato dos copos influencia no sabor e aroma das cervejas artesanais.

“Os copos devem ser transparentes para que a cor da cerveja e sua aparência sejam avaliadas e devem ter hastes, como as de vinho, que permitam girar a cerveja, ajudando a sentir os aromas mais complexos e evitar que o líquido esquente com o calor das mãos”, explica a sommelier.

O cervejeiro Alexandre Barbosa, explica que aqueles que querem aprender a beber cerveja artesanal devem escolher as mais leves até conseguir beber as mais fortes e encorpadas. “A pessoa que está começando não pode escolher qualquer uma, pois pode criar uma aversão inicial. Aconselho sempre começar por uma Pilsen, que é mais parecida com as tradicionais. Caso queira continuar, pode escolher uma Witbier que vai ter mais aromas e sabores sem ser muito alcoólica. Depois, pode seguir para a Irish que é mais encorpada e por fim a IPA, que é mais extrema”, ensina.

aécio lopes com cervejasInaugurado em abril, no Bairro da Glória, o Mosteiro das Cervejas é o ponto de encontro daqueles que buscam diferentes rótulos nacionais e importados, entre eles as cervejas macaenses La Luna, Coronel Pafo e Show de Bola.

Apaixonados por cervejas, os empresários Aécio Lopes e João Maurício Barbosa, apostaram nesse mercado ao perceber que a mudança de gosto dos brasileiros não é modismo, mas sim um novo estilo de beber cerveja. “Essa tendência segue a máxima de beber pouco, mas beber melhor. Hoje, as pessoas buscam beber puro malte e não aceitam mais as cervejas tradicionais, que são feitas com ingredientes de baixa qualidade”, explica Aécio.

Além de vender para o consumidor direto e manter um empório, o Mosteiro das Cervejas é responsável pelo abastecimento de bares, empórios e padarias da Região dos Lagos e Norte Fluminense. “Esse público não é fiel à determinada marca, ele está em busca de novidades para conhecer o maior número possível de cerveja, ampliando seu conhecimento. Por isso, investimos em diferentes rótulos”, conta Aécio, acrescentando que a distribuidora oferece cursos de degustação e realiza festivais que ajudam a ampliar o conhecimento da população sobre o universo cervejeiro.

Para quem quer aprender a produzir e degustar a própria cerveja, acesse os links abaixo para se informar sobre os próximos cursos de produção de cerveja artesnal em Macaé:

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