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Canabidiol, uma realidade no tratamento de diversas doenças

seg, 09/01/2023 - 12:16 -- Divercidades
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Foto Alle Tavares
Denise Fogel com o marido Rodrigo e a filha Gabi
Em todo o mundo, o uso medicinal do canabidiol, substância extraída da planta da maconha, segue se expandindo em números de pacientes e de médicos que, cada dia mais, experimentam e endossam seus benefícios como alternativa eficaz ao tratamento de diversas doenças e auxílio aos diferentes transtornos psicológicos e neurológios, como ansiedade e depressão. O medicamento também auxilia no tratamento de síndromes, como a epilepsia infantil, ou ainda, de crianças no espectro autista e também nos sintomas de náusea, fadiga ou perda de apetite, comuns nos pacientes em tratamento do câncer.
No Brasil, em novembro deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a fabricação de mais um medicamento à base de cannabis, somando 14 produtos de canabidiol liberados e regularizados pela agência. A venda também já é realizada em farmácias, com prescrição médica, por meio de receita especial do tipo B, de cor azul.
 
O médico macaense Igor Gomes, especialista em Medicina Canabinoide e do Esporte, um dos primeiros na cidade a prescrever o Canabidiol, acompanha, em seu consultório, diariamente, melhoras no quadro de crises em crianças com epilepsia e esquizofrenia. “Algumas crianças passaram a ter melhoras significativas, apresentando resultados nunca antes alcançados com os medicamentos convencionais”, conta.
É o caso de Gabriela Mello Fogel Soares que, em 2016, nasceu com microcefalia e, desde os seis meses de vida, era acometida por um quadro constante de convulsões. Após três meses de uso do óleo, cessaram-se as crises. O resultado foi conferido por exames, o que motivou a mãe Denise de Mello Fogel a estudar sobre o tema e expandir o conhecimento sobre os benefícios para outras famílias.
 “No início, foi estranho aceitar o tratamento com canabidiol, porque eu venho de uma família muito religiosa e o preconceito ainda é grande. Mas, hoje, com os ganhos na qualidade de vida da minha filha, sei que foi uma decisão muito importante. Enfrentamos muitos desafios, porque na época o medicamento custava muito caro e não podíamos pagar. O preço do frasco do óleo importado já chegou a custar mil reais”, conta Denise.
Após conseguir na justiça um habeas corpus para sua filha Gabriela, Denise iniciou o projeto do espaço para a plantação e produção do óleo, até fundar, em 2020, a Acolher Macaé, uma associação que produz e distribui produtos à base de canabidiol a preços acessíveis e qualidade aferida em laboratório certificado.
A análise da qualidade do óleo da Acolher Macaé vem sendo testada em parceria com o laboratório Integrado de Bioquímica, no Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade NUPEM/UFRJ. “Nossa contribuição é chancelar o produto, uma vez que temos o corpo técnico e equipamentos necessários, com alta precisão. Em troca, a associação fornece parte da produção para que novos estudos acadêmicos sejam utilizados e avanços importantes ocorram nos tratamentos”, explica o professor da instituição e bioquímico Jorge Luiz da Cunha Moraes.
 
No Brasil, já existem muitas associações empenhadas na divulgação, produção e distribuição do óleo. Após uma longa batalha judicial, a associação sem fins lucrativos Acolher Macaé conquistou, em 2020, o direito de produzir e vender o óleo aos 420 pacientes cadastrados, com o acompanhamento de 40 médicos prescritores só em Macaé. Além de fabricar e distribuir o medicamento aos associados, a associação ainda oferece atendimento jurídico, diálogo entre famílias e orientação médica. O espaço possui um laboratório, que acompanha um farmacêutico e um técnico. Ao todo, são 12 pessoas auxiliando em todas as etapas, desde a plantação, respeitando o ciclo de cultivo da planta, à extração do óleo e até a distribuição.
Atualmente, a venda do produto também é ofertada em farmácias, com receita médica. No entanto, o custo ainda é maior do que os óleos elaborados pelas associações. Para o Dr. Igor Gomes, a produção em associações, com acompanhamento técnico, é tão eficaz quanto a industrial, revelando-se ainda mais completa para outras indicações. “O medicamento produzido artesanalmente traz os benefícios da planta inteira, ou seja, dos fitoterápicos, como os canabinoides, flavonoides e os terpenos”, explica.

Eficácia apontada em trabalhos científicos
As vantagens do uso medicinal do fármaco já são descritas pela ciência desde a década de 60. E já esteve presente até no Manual da Farmacopeia Americana. “É uma medicação tão segura, que o público-alvo são crianças e idosos. O primeiro estudo ocorreu em 1964, realizado pelo médico e cientista Raphael Mechoulam, professor de Medicina da ‘The Hebrew University of Jerusalem’, em Israel. O que ocorreu é que o viés político e o interesse econômico fomentaram a criminalização da planta, tornando-a ilegal. E, dessa forma, levando à saída da farmacopeia americana. A partir dos anos 70, a matéria-prima não pode mais ser pesquisada. Até que, felizmente, na década de 80, novos estudos foram realizados. No Brasil, o médico Elisaldo Carlini, especialista em psicofarmacologia, foi o pioneiro, com mais de 40 trabalhos publicados”, explica Dr.  Igor.
O médico conheceu o tratamento em 2018, a partir de uma experiência familiar. Sua mãe foi diagnosticada, no mesmo ano, com câncer de pulmão. E, após a cirurgia e início das sessões de quimioterapia, passou a ter a qualidade de vida comprometida. “Ela passava longos dias acamada. Eu percebia como era ruim não ter resposta, no tratamento convencional, para os efeitos da quimioterapia. Realizamos uma mudança gradativa na terapia, não cancelamos outros medicamentos, inicialmente. Aos poucos, pudemos realizar o tratamento somente com o óleo canabidiol”, conta o médico.

Antes e depois do uso do óleo de CBD
Quando o Conselho Federal de Medicina, em outubro de 2022, restringiu o uso do óleo medicinal de canabidiol para dois tipos de epilepsia, proibindo o medicamento para outras doenças, a mãe Isabelle Valente, mãe de Otto, de 3 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), empenhou-se, por meio das redes sociais, na missão de divulgar vídeos sobre os benefícios do medicamento e a importância na qualidade de vida do filho. Até iniciar o tratamento com óleo medicinal de canabidiol (CBD), ir ao shopping sem vivenciar uma intensa crise de ansiedade da criança, era algo inimaginável para a jovem mãe. Mas, após três meses de uso do medicamento, a melhora foi tão marcante que até pronunciar a palavra “mamãe” ocorreu pela primeira vez. 
“Ele começou a soltar mais palavras e, finalmente, me chamou de mamãe. Hoje, ele não morde mais e já sabe pedir e escolher a comida que quer. Antes, eu evitava o convívio social para não o deixar nervoso. Por isso, resolvi colocar, em vídeos, o antes e depois do uso do medicamento. A ideia era compartilhar o progresso dele com outras pessoas que ainda desconhecem ou temem o tratamento”, revela Isabella.  


O fato de conviver sem uma interação com a mãe, perdida para uma doença, também fez com que Irma da Assunção Gomes da Ferreira, de 57 anos, deixasse o preconceito de lado e buscasse o tratamento com o uso do óleo para a mãe Aldete Gomes, de 87 anos. Em 2020, ela já convivia com o Alzheimer e foi diagnosticada com um Câncer de Mama. “Antes do uso do óleo, minha mãe tinha um olhar apático, não respondia a nada. Ela sempre foi uma mulher muito inteligente. Em dois meses de uso do tratamento, ela passou a expressar sua emoção novamente. Ela me deu um abraço e disse que me amava. Foi um momento muito emocionante, porque pensei que não teria essa relação com minha mãe novamente”, conta Irma. 
 
Texto: Mariana Muller
Fotos: Alle Tavares
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