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Empoderadas

qua, 05/04/2017 - 11:03 -- Leila Pinho
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Foto: Gianini Coelho
mulheres do círculo do fogo sagrado feminino de macaé

É como cantou Milton Nascimento e escreveu junto com Fernando Brant ao dizer que Maria é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta, uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta. Esse símbolo de força que não perde a mania de ter fé na vida, vence obstáculos para superar a desigualdade de gêneros, descobre suas potências e redescobre a si mesma está influenciando as pessoas do nosso tempo. Marias, Alines, Anas, Paulas, Julianas e tantas outras estão escolhendo ser o que quiserem, ocupando lugares que desejam e, sim, fazendo muito além do que estabelece o padrão social.

O empoderamento feminino está na pauta da vez, e nada mais coerente que nós, da Revista DiverCidades, que temos um público tão formado por elas, apresentarmos Marias de Macaé, exemplos que vão inspirar muitas outras mulheres.

Muito se fala sobre o tema, mas, na mesma medida pairam dúvidas. O empoderamento feminino diz respeito à autonomia, à liberdade de escolha sobre diversos temas que cercam a sua vida, ao acesso aos direitos, à voz ativa na sociedade e à igualdade de gêneros. A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da ONU Mulheres — Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres — estabeleceu sete princípios de Empoderamento das Mulheres. Os princípios abordam o apoio ao empreendedorismo entre mulheres, a promoção da igualdade de gênero, tratar de forma justa homens e mulheres no trabalho, entre outras coisas.

Marilena, uma referência de mulher na política

Foto: Alle Tavares

marilena garciaNa intensa trajetória política da macaense Marilena Garcia, de 71 anos, uma história chama a atenção pela simbologia. Quando se elegeu vereadora pela primeira vez em Macaé (1982), um dos primeiros atos dela foi fazer a greve do pinico. Isso porque a Câmara Municipal de Macaé não tinha banheiro feminino. “Eu usava o banheiro do Hotel Tabuada. Levei um pinico pra dentro da bancada e pedi pra fazerem um banheiro feminino”, recorda com um misto de orgulho e senso de humor.

Essa pedagoga e ativista dos direitos da mulher quebrou alguns padrões estabelecidos por uma sociedade machista e patriarcal e fez história não só em Macaé. Ela participou da formação daquele que se tornaria o sindicato dos professores de Macaé, na década de 1970 (em plena ditadura militar), foi a primeira mulher a ser eleita como vereadora do interior do Estado do Rio de Janeiro, em 1982 e também foi a primeira a assumir como prefeita da cidade, em 2009 (quando o então prefeito eleito, Riverton Mussi se ausentou) e em outros anos. “Como mulher, convivendo no ambiente masculino da política, comecei a ter apoio das mulheres e dos professores. Fui conquistando as pessoas e me fazendo respeitar pela qualidade e personalidade”, fala Marilena.

Até hoje, a participação feminina na política brasileira dá passos lentos. Embora 52,2% do eleitorado brasileiro seja formado por mulheres (dado de 2016 do Tribunal Superior Eleitoral - TSE), uma minoria feminina ocupa lugares nos poderes executivo e legislativo.  O Brasil tem o 3° pior índice da América Latina de participação de mulheres na Câmara Federal, de acordo com o anuário estatístico de 2016 da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). Em Macaé, dos 18 vereadores, existe apenas uma representante feminina. 

Em 1990, quando Marilena foi surpreendida com um câncer de mama, ela, de novo, quebrou mais um tabu. Na época, ter a doença era como receber uma sentença de morte e pouco se discutia sobre o assunto. “Era como se não coubesse pra alguém que tinha poder, ter um câncer. Todo mundo escondia e eu declarei. Fui me tratar no Inca e escrevi pro Jornal O Debate falando sobre a doença. Aquilo chocou muito a cidade e comecei a fazer um trabalho pra gente tratar de perto essa questão do câncer, foi quando criamos a Unamama (União Macaense no Combate ao Câncer de Mama)”, recorda.

Sempre ligada à questão da mulher e da educação, ela muito contribuiu com a cidade e ainda colabora, trabalhando voluntariamente com consultoria na Secretaria Municipal de Educação.

Sexo frágil nada, Bernardina escolheu os motores

Foto: Alle Tavares

bernardina mulher mecânicaA mecânica Bernardina de Aguilar Gonçalves, 76 anos, é exemplo vivo de empoderamento feminino quando ainda nem se falava nisso. Há 60 anos, ela escolheu que seria mecânica de automóveis e enfrentou a rejeição da família toda por conta disso. “Era como se eu tivesse uma doença incurável. A minha família me abandonou e disse que eu tinha que escolher uma profissão de mulher. Fui muito discriminada. Naquela época, ser mecânica era como ser prostituta”, lembra Bernardina.

Apesar das grandes dificuldades que enfrentou, ela não desistiu. Aos 20 anos, foi morar no Rio de Janeiro e começou uma busca incansável por emprego, como mecânica. Ela perdeu as contas de quantos “nãos” ouviu. E o primeiro emprego que conseguiu foi à custa de muita persistência. Bernardina foi trabalhar em oficina de concessionária após procurar pelo chefe da oficina por vários dias seguidos. Quando enfim ele a atendeu, disse que não poderia aceitá-la porque não existia mulher mecânica. “Eu disse – existe eu! Esse senhor não me escondeu nada que acontece numa oficina, do serviço aos palavrões. Então, ele disse que ia ficar comigo, mas que eu trabalharia 2 meses sem ganhar nada. Eu tinha filho e precisava trabalhar. Daí, negociei trabalhar por quatro meses, meio expediente porque assim, eu arrumaria um outro emprego pra me sustentar”, conta. Depois disso, apareceu um homem que a conheceu na oficina no Rio, ficou impressionado com ela e a chamou pra estudar e trabalhar em São Paulo.

A batalha não parou por aí. Bernardina também tentou diversas vezes fazer um curso no Senai para que pudesse ter uma certificação profissional. Teve seu pedido negado algumas vezes e só em 1979, mais de 20 anos depois de ter aprendido a profissão na prática, ela conseguiu a certificação. “Depois disso, as portas se abriram pra mim. Eu me sinto a mulher mais feliz do mundo. Quando eu penso tudo que passei, falo – Meu Deus, eu cheguei até aqui! Tem muito homem que queria fazer o que eu fiz e não conseguiu”, conta Bernardina.

Mineira, atualmente ela vive em Macaé onde dá cursos gratuitos no Lagomar para pessoas interessadas em aprender sobre mecânica. Entre os alunos dela, só tem homens. Mas ela não perde a esperança e diz estar ansiosa por formar uma turma de mulheres.

Com uma história de tantas lutas e perseverança, ela deixa um recado especial para mulheres não desistirem de seus sonhos. “Se você gosta, seja forte e vá em frente porque você pode tudo. Não tem nada de sexo frágil. Querer é poder”, aconselha.

Viviane é uma das líderes de um grupo de empreendedoras

Foto: Alle Tavares

viviane limaA empresária Viviane Lima, de 38 anos, é uma das líderes de um grupo de empreendedoras de Macaé e Rio das Ostras que reúne mais de 150 mulheres, o Empreendedoras Vindas de Atitude (EVA). O grupo existe desde o ano passado. Ela pratica diariamente um dos Princípios de Empoderamento das Mulheres, o apoio ao empreendedorismo entre elas.

Um estudo divulgado em 2015 pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelou que o Brasil tem 7,3 milhões de mulheres empreendedoras, o que ainda representa minoria. O índice equivale a 31,1% do total de 23,3 milhões de empreendedores no país. Mas outro dado indica que elas estão crescendo e ganhando mais espaço. Em 10 anos, de 2003 a 2013, a quantidade de donas de negócios subiu 16%.

No grupo, as mulheres fazem negócios, trocam conhecimento e compartilham experiências. Além do contato virtual, feito por meio dAS redes sociais, elas fazem reuniões presenciais. “Depois do nosso primeiro encontro, ficou claro que nós falamos a mesma língua e que a gente precisa trocar conhecimento”, comenta.

Viviane ficou surpresa com o grande número de mulheres empreendedoras e logo percebeu a necessidade de todas se unirem para que cada uma possa ter mais sucesso nos negócios. A empresária sente que ainda há muitos obstáculos a vencer, como a superação de crenças limitantes ou cultura de que os negócios não são para elas. “A gente traz um pouco de preconceito, de vergonha de se expor como empreendedora, de falar do negócio e tem a questão da culpa que às vezes a gente sente por não poder se dedicar tanto à família”, pontua Viviane.

Para ir desmitificando alguns conceitos, que muitas vezes vem da família, a líder do grupo acredita no investimento em saber. “Temos que nos conhecer, pesquisar, nos atualizar e escutar os outros sobre o nosso trabalho. A gente precisa ser mais ouvinte e menos falante e, principalmente, saber ouvir o que é ruim pra poder corrigir o resto”, fala.

A empresária afirma que, este ano, o grupo vai passar por mudanças. Em alguns encontros haverá micro consultorias e alguns recursos serão criados para promover melhorias nos negócios. “A nossa ideia é que do EVA saiam cases de sucesso.”

Andreá incentiva mulheres a acreditar que são capazes

Foto: Alle Tavares

Andréa SalesNa rotina de vida de Andréa Sales, de 43 anos, treinar pessoas a usar e aprimorar suas capacidades é comum. Ela é diretoria executiva elite da Mary Kay e lidera cerca de 1.500 vendedores na cidade, sendo a maioria feminina. Entre as várias atribuições dela estão vender, captar novos consultores e dar suporte a essas pessoas.

Muitos dos treinamentos que ela realiza são de cunho motivacional. “Buscamos valorizar o que a pessoa tem de melhor e incentivamos a mulher a acreditar que ela pode, que é capaz”, explica. Nos contatos com as várias vendedoras que recruta, Andréa observa que muitas são carentes de incentivo familiar e que não acreditam em si mesmas.

Vejo que muitas delas precisam de um elogio verdadeiro, não aqueles fajutos. E a pessoa se sente empoderada quando se vê reconhecida, de verdade. Isso cria empatia e a faz se sentir mais confiante”, comenta.

Segundo ela, às vezes a mulher precisa de um pequeno estímulo para despertar seus potenciais. A diretora executiva acredita na mudança de hábito como transformador de realidades. “Nada muda se você não mudar. A mulher tem que se valorizar, se respeitar e fazer por merecer. Não gosto do papel de vítima. Temos que nos perceber empoderadas, perceber que somos capazes e usar nossas habilidades”, fala.

Autoconhecimento, uma das chaves para se empoderar

Todas as entrevistadas para essa matéria reconhecem a importância do autoconhecimento como meio para se empoderar. Para Marilena Garcia, o empoderamento feminino diz respeito à autonomia da mulher de decidir sobre sua própria vida. “A gente só consegue fazer escolha quando se conhece. Sempre fui desassosegada, mas nunca aceitei o que me impunham”, diz.

Em busca também desse autoconhecimento surgiu em Macaé um grupo chamado de Círculo de Mulheres do Fogo Sagrado. Criado pela psicóloga Raquel Salgado, de 40 anos, tem o objetivo de resgatar o feminino. Ela explica que na modernidade, as mulheres estão adoecendo espiritualmente, com as pressões sociais no trabalho, no ambiente familiar, etc.

“No grupo, a mulher se reconecta consigo mesma, se permitindo, tendo tempo para si mesma, se ouvindo e escutando as outras mulheres, sabendo que pode compartilhar uma com a outra”, esclarece a psicóloga. O grupo promove encontros periódicos com realização de rituais, dinâmicas e reiki.

Segundo a psicóloga, com os encontros, as mulheres se fortalecem. “Eu preciso ir profundamente, olhar as minhas dores, as minhas feridas, me conhecer e saber da minha capacidade, e saber do que preciso aprender e evoluir para saber se uma relação me faz bem ou não, se eu quero ou não determinada profissão. Porque assim faço isso com conhecimento e não por desespero ou porque alguém me indicou aquilo”, exemplifica Raquel. 

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