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Era uma vez... na infância

sex, 10/02/2017 - 14:00 -- Gláucia Pinheiro
Categoria: 
criança brincando na praia

É assim que na infância começam as fantásticas histórias que povoam nosso imaginário. É assim na infância e é assim também, com o era uma vez, que percorre e prossegue conosco pela vida a fora, que escutamos as histórias dos tempos idos de nossos pais, avós e que também narramos para nossos filhos os nossos tempos ainda não tão distantes. É assim que contamos nossas historias recheadas daquilo que nos marcou. Com o era uma vez, vamos tecendo memórias e lembranças, dando vida a fadas, piratas, princesas e bruxas, mocinhas e bandidos, cientistas e fantasmas... Vamos construindo nossos pequenos romances ficcionais particulares.

É da infância as nossas mais vívidas e marcantes lembranças. É desse tempo primitivo que recolhemos as nossas mais verdadeiras fantasias.

A criança, ao abrir seu mundo para além da família, encontra na escola o seu novo lugar social. E dali virão duradouros laços, com os quais vai construir suas experiências e sua história. A infância se faz um tempo primoroso, de formação psíquica e da construção da criança como sujeito desejante.

Quando crescemos e nos tornamos país, educadores, professores, ao nos surpreendermos na rotina do dia-a-dia com as pérolas que saltam pela boca e pelas atitudes de nossos pequenos, revisitamos nosso universo infantil, que se faz tão intenso na lembrança. E apesar dos embaraços, das dúvidas e das inquietações, próprias do educar, seguimos educando. Desembaraçando o nó e acompanhando, com olhar emocionado, o olhar curioso e desbravador desses pequenos, na descoberta das letras, dos números, do crescimento, do mundo.

Nesse tempo de recomeço e voltas às aulas, de entusiasmo em rever os colegas e conhecer os novos mestres, uma pergunta se faz urgente para nós, educadores: para que serve mesmo a infância? Uma reflexão se faz necessária quanto à infância e todo o discurso contemporâneo que a permeia. Que essa reflexão nos permita pensar que, apesar do formalismo das avaliações, da prática conteudista, das padronizações e enquadramentos classificatórios, possamos abandonar o engodo dos manuais e revisitar a nossa infância. Sem deixar de lado o que de mais precioso ela pode ter, a própria infância, recheada de fantasias, de brincadeiras, do lúdico, de invenções.

Freud já nos chamava a atenção para a importância de reconciliarmos com nossa própria infância para sermos capazes de educar. Aquele que ali está, tecendo com a criança esse novo laço na sua formação, o professor/educador, é quem lhe possibilita, lhe serve de instrumento, para como num passe de mágica, desbravar o fantástico mundo que se abre a partir da construção de um saber. Para educar e permitir essa mágica da construção de uma saber é preciso dar lugar a esse frescor do infantil.

Educar é uma arte e uma grande aventura. É arte que se faz com letras, números, sons, cores, sentidos e afetos. Educar é arte que se faz com cheiro, choro, risada, barulho, silêncio. Que se faz com cópias, atrasos e tropeços, com invenções, dons e diferenças. É arte que se faz com improviso, não sem trabalho e talento. Educar é aventurar-se pelo desconhecido, pelo inusitado e surpreender-se nesse estado de infância. E se educar é arte, é sublime. Se é aventura, é arriscada. E sendo assim, aprender é efeito, afeto, é aquilo que, de repente, toma de assalto e como um clarão, lá está, num estalo. Elisa Lucinda, em sua poesia, nos diz que “só,os errantes e aprendizes sempre”. E na errância da educação se ensina e se aprende. Degusta-se em pequenas mordidas o sabor do saber.

Como educadores, só transmitimos um saber a partir de nossa posição desejaste. E diante desse impossível de educar, marcado pela falta e pela incompletude do tudo saber, fazemos a aposta no nosso ato errante.

Dessa forma, tomo como livro de cabeceira, não um manual psicopedagógico, mas sim o “Menino Maluquinho”. E como ele, nossos pequenos não conseguirão segurar o tempo. O tempo passará. E como todo mundo eles irão crescer. Se tornarão caras e garotas legais, com seus compromissos, obrigações e responsabilidades do universo adulto. E descobriremos, nós e eles, que não foram meninos e meninas “maluquinhos”, como tanto pregam os manuais, mas sim, que foram hoje crianças felizes.

E a felicidade é como na canção de Tom Zé, “é cheia de graça, é cheia de lata, é cheia de praça, é cheia de traça. A felicidade é cheia de pano, é cheia de pena, é cheia de sino, é cheia de sono”. A felicidade é episódica, é afeto, é construção.

É assim, amanhã de manhã, quando esses meninos maluquinhos acordarem homens feitos, pais, educadores, despertos para esse mundo fantástico e cheio de mistérios, lembrarão com aquele quê de nostalgia e emoção, de quem foi seu guia nessa aventura e lhe mostrou o caminho, lhes permitindo um saber próprio. E contarão a história: Era uma vez, na infância...

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