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O paraíso é logo ali

qui, 15/12/2016 - 16:38 -- Leila Pinho
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Foto Claudia Barreto
Das três ilhas do Arquipélago, a de Sant’Anna é a que possui maior faixa de areia
A 8 km da costa de Macaé está um dos mais importantes cartões-postais da cidade, que é uma referência tanto para quem está no continente quanto no mar. Muito visto e pouco visitado, o Arquipélago de Sant’Anna guarda um santuário de beleza natural exuberante com três ilhas principais: Ilha de Sant’Anna, Ilha do Francês e Ilhote Sul, além de algumas outras ilhotas como a Ponta das Cavalas e Galetas. 
Foto: Caio Freitas - Falcon Drone
Do arquipélago, dá pra ver a costa de Macaé com suas construções e a serra
Quem já visitou o lugar pelo menos uma vez, não se esquece do mar calmo de piscina natural, tão diferente da braveza dos Cavaleiros e Praia do Pecado, e da água cristalina e límpida. “Dependendo da posição do vento, é como se estivesse no Caribe. Vale a pena conhecer porque é muito bonito”, fala o macaense Cristiano Selem da Fonseca, de 58 anos. Ele, que é empresário da cidade, passeia pelas ilhas com frequência há, pelos menos, 15 anos. Para ele, o lugar virou refúgio para pescar com os amigos, com a família, se banhar nas águas mansas e se divertir. 
 
O servidor público Cassius Ferraz Tavares e atual comodoro do Iate Clube de Macaé, de 50 anos, também conhece bem as ilhas. “As praias são lindas e bem acessíveis. Não oferecem risco, você entra no mar e a profundidade vai aumentando aos poucos, é um bom lugar pra passear com a família. E tem o Farol (de Macaé – na Ilha de Sant’Anna), lá de cima, dá pra ver a cidade toda”, conta. 
 
Amigos há mais de 30 anos, Cassius e Cristiano adoram sair pra pescar. No mês de novembro deste ano, os dois pegaram um peixão de 20 quilos, chamado Cavala. Eles exibem a prova de que isso não é conversa de pescador, mostrando a foto do peixe que tem quase o tamanho de um homem, mais de um metro de largura. Pela experiência como pescadores amadores, eles garantem que no arquipélago tem muito Anchova, Cavala, Bicuda, Baiacu, entre outros pescados. 
Entre as tantas histórias de pescador, inusitadas e engraçadas, que os dois colecionam, uma foi a verdadeira demonstração do show da vida, pela cadeia alimentar. “Teve uma vez que a gente estava no mar e tinha três baleias cercando um cardume de sardinha. Tinha peixe embaixo comendo as sardinhas e ainda uns pássaros em cima, parecendo um tiroteio mergulhando para pegar os peixes. Foi uma coisa linda e nós não filmamos”, lamenta Cristiano. No rol das histórias, tem muitas outras coisas que eles não esquecem, como já ter visto leão-marinho, golfinho, tubarão baleia e até pinguim. 
 
Além da pesca, o arquipélago oferece outros atrativos como praticar o stand up paddle, mergulho e wake board. Já por terra, dá pra fazer caminhada, explorando as belezas naturais da praia e da vegetação e, ainda, conhecer o Farol de Macaé, que desde 1902, quando foi inaugurado, convida para uma bela vista para o continente e o mar.
Foto arquivo pessoalPra Cristiano e família, as ilhas são um refúgio onde eles se divertem
 

Turismo inexplorado

 
Atualmente, as pessoas que desejam ir ao arquipélago e não possuem uma embarcação, acabam indo ao Mercado Municipal de Peixes para alugar um barco de pescador, que faz o transporte. Embora esse meio seja muito usado, pode ser inseguro, uma vez que os barcos são adequados para pesca e não para transporte turístico. “Hoje, o turismo feito pra ilha não é ordenado. Você aluga um barco de pescador, ele te deixa na ilha e depois volta pra buscar. Deveria ter um barco preparado para levar um grupo, que ficasse na ilha e que essas pessoas depois fossem levadas pra conhecer o farol. Seria uma forma mais didática e mais segura também”, opina Cassius.
São raras as iniciativas regulares e seguras de exploração dos atrativos turísticos para as ilhas e, segundo um empresário do ramo que atua há 30 anos com turismo, o principal motivo é a falta de incentivo. Essa é a opinião de Ronaldo Moraes, de 54 anos, proprietário da agência Ecological Tours. “Hoje, existe o interesse no turismo de lazer. Antes, ninguém ligava pra isso. Não se preocupavam em fazer do Arquipélago de Sant’Anna um ponto turístico da cidade. Era só petróleo”, fala. 
 
Ronaldo está formatando um pacote turístico de visitação ao arquipélago que pode levar entre 10 e 30 pessoas. Ele conta que a ideia inicial é levar os turistas à Ilha do Francês, ao Ilhote Sul, com parada na Ilha de Sant’Anna para mergulho. Ele explica que a autorização para ficar na praia de Sant’Anna é muito mais burocrática e, por isso, a princípio os turistas apenas mergulhariam lá. Ronaldo prevê usar a estrutura do Iate Clube de Macaé para fazer o receptivo dos turistas, com embarque e desembarque
, possibilidade de almoço no restaurante do Iate e ainda de uso da piscina e da sauna. Ele pretende começar a vender esse passeio ainda este ano. 

A Cavala é um dos peixes que Cassius mais pesca nas ilhas

Foto arquivo pessoal

O objetivo dele é comercializar o pacote principalmente para turistas de fora de Macaé, como por exemplo, no Rio de Janeiro. “A ideia é colocar o pacote na ticket center (ponto de venda de passeios turísticos e atrativos culturais), que tem um quiosque em Copacabana e um no Galeão. Não adianta querer comercializar isso só em Macaé, porque vamos ter um cliente ou outro. Turismo tem que ser divulgado fora da cidade”, pontua Ronaldo. 
 

As histórias de Sant'Anna

 
Muito além da Lenda de Sant’Anna, o arquipélago possui muitas histórias reveladas e, supõe-se, outras tantas à espera de uma descoberta. Várias pessoas que vivem há anos na cidade, não sabem, por exemplo, que as ilhas já serviram de entreposto para contrabando de escravos, ou que lá já foi descoberta uma ossada humana da pré-história. Quem conta sobre isso com mais detalhes é o museólogo e pesquisador de história regional, Vilcson Gavinho, que também é curador do acervo privado e sem fins lucrativos da Coleção Dona Rosa Joaquina, que guarda diversas peças de valor histórico para Macaé, entre elas, algumas encontradas no arquipélago. “As peças referentes a Sant’Anna são sempre ligadas à escravidão, como manillas, búzios e algumas outras em marfim, usadas para adornos de escravos”, afirma Vilcson. 
Foto: Gianini Coelho
Ronaldo e Claudio, da Ecological Tours vão utilizar a estrutura do Iate para fazer passeios ao Arquipélago
manilla, que foi encontrada na ilha de Sant’Anna, no século XIX. O formato da peça se assemelha ao de uma pulseira e, manilla é um termo europeu para dinheiro/pulseira. Logo, era tido como uma espécie de moeda de troca. Segundo Vilcson, a manilla encontrada em Sant’Anna comprova o contrabando de escravos, já que a peça era usada para compra de negros africanos. O europeu Paul Harro-Harring, que esteve em Macaé, em 1840, registrou cenas de contrabando. O desenho dele é denominado como “Isles de Sa. Anna - Debarquement d’Esclaves nègres”, que traduzindo, significa “Ilhas de Sant’Anna  – desembarque de escravos negros”. Conforme explica Vilcson, o local funcionava como um entreposto de escravos. “As embarcações ficavam na ilha numa espécie de quarentena, aguardando o momento propício para o desembarque dos escravos”, esclarece. 

A Ilha do Francês é aberta a visitação

 
Foto: Claudia Barreto
 Se hoje pode soar absurdo pensar que o arquipélago já foi propriedade particular, saibam que, em 1743, não era. Naquele ano, o reinol José Pereira Rabello recebeu as ilhas, por concessão da Coroa Portuguesa (nesta época, o Brasil era colônia de Portugal). Lá, José Rabello chegou a ter lavouras e criação. Sobre a história do período em que ele foi dono do arquipélago, paira uma dúvida que até hoje não encontrou consenso. “Existe uma suspeita de que ele se envolveu com contrabando de Pau-brasil e que essas ilhas teriam sido tomadas dele. Porém, os descendentes dele alegam que não e comprovam isso com a “Carta de Brasão de Armas”. José teria recebido essa carta algum tempo depois, e quem cometia esse tipo de crime, não tinha direito a receber essa honraria (a carta). Mas ficou uma dúvida pra história. Alguns historiadores dizem que ele foi expulso pela Coroa e a família diz que não”, relata o pesquisador.
 
Já um achado mais recente, que ocorreu muito ao caso, remete a uma história ainda mais antiga. Segundo conta Vilcson, em 1981, a Petrobras fazia um trabalho na Ilha de Sant’Anna e encontrou uma ossada humana. “Isso, então, foi comunicado ao Iphan (Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional) e a arqueóloga Tânia Andrade Lima esteve aqui, examinou a ossada e foram feitos estudos de datação”, fala. A ossada é da pré-história, o que significa que pelo menos uma pessoa esteve na ilha até 3.500 a.C.  
 

Área de preservação ambiental

 
Foto: Claudia Barreto
O santuário ecológico é rota de reprodução de algumas espécies de aves
Desde 1989, o arquipélago é considerado uma Área de Preservação Ambiental (APA), pela Lei Municipal 1216 e, regulamentado pelo decreto 18/2011. O santuário ecológico abriga gaivotas e algumas espécies de aves que migram da América do Norte no período do inverno. 
 
O Arquipélago de Sant’Anna é de jurisdição da Marinha do Brasil. Os desembarques em Sant’Anna ocorrem apenas se autorizados pela Marinha, o que contribui para a preservação de seu ecossistema. A equipe de reportagem da DiverCidades fez contato com o Centro de Sinalização Náutica
Almirante Moraes Rego (CAMR), que é o responsável técnico pela sinalização náutica no Brasil. Fizemos algumas perguntas sobre a visitação turística, mas a Marinha não nos respondeu até o fechamento dessa edição.
 

 

 

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