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Pedala Macaé!

sex, 24/04/2015 - 09:59 -- Leila Pinho
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Créditos: 
Alle Tavares
garoto na bike elétrica na praia do pecado em macaé

Grandes cidades no Brasil e mundo afora tentam encontrar soluções viáveis para tornar o tráfego mais eficiente e aproximar as pessoas. A cultura do automóvel já indica, há bastante tempo, a necessidade urgente de alternativas de mobilidade urbana. Somente em Macaé, a frota de veículos emplacados aumentou mais de 58% nos últimos 6 anos. Em 2008, eram 69.514 e, em 2014, o número saltou para 109.854, de acordo com as estatísticas do Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro (Detran RJ).

O volume pode ser ainda maior, já que todos os dias veículos vindos de outros lugares como Rio das Ostras, Conceição de Macabu, Carapebus, entre outros, se locomovem em Macaé. Na contramão do aumento da frota está o desenvolvimento da estrutura viária da cidade, que está investindo no setor, mas precisa acelerar o ritmo. Há muito mais carros, mas as vias são as mesmas.

A tarefa não é fácil, nem simples, mas muitos municípios estão descobrindo como certo meio de transporte movido à propulsão humana pode contribuir, e muito, para o tráfego funcionar melhor. Uma das soluções surge sobre duas rodas, guidão e pedais. É a bicicleta, modal mais democrático e amigo da saúde humana e do planeta.

saulo e mauro com suas bicicletasA bike, que historicamente sempre teve muitos adeptos em Macaé, ganha cada vez mais força. Quem viveu na cidade nas décadas de 1970 e 1980, com certeza se lembra da grande quantidade de bicicletas paradas com o pedal apoiado no meio-fio na Av. Rui Barbosa e Teixeira de Gouveia. Hoje em dia, tem muita gente optando por ela na hora de se deslocar pela cidade. Há quem use para trabalhar, passear, praticar esporte, fazer compras, ir ao médico, visitar um amigo ou simplesmente pelo prazer de sentir o ventinho bater no rosto.

Desde 2013, o engenheiro eletricista Saulo Borges de Souza, 37 anos, mudou sua rotina. Ele adotou a bicicleta como meio de locomoção e pedala cerca de 6,5 km para chegar ao trabalho. O trajeto é feito em 30 minutos, o mesmo tempo que ele gastava quando ia de carro. Saulo mora no bairro São Marcos e trabalha na Petrobras, na Imbetiba.

Para o engenheiro, na lista de benefícios da troca, a saúde está na primeira linha. “Tem outras coisas. Eu economizo combustível e estacionamento, não tenho despesas com manutenção de carro, levo menos tempo pra chegar aos lugares e não poluo o meio ambiente. Outra coisa muito boa: eu sei exatamente quanto tempo vou gastar, isso sem contar que chego no trabalho sem estresse”, diz Saulo O técnico de automação Luiz Mauro Muzzi Lamim, de 52 anos, também pedala para chegar ao trabalho. Para ele, as vantagens não se resumem à agilidade. “Eu percebo a cidade melhor. Curto a paisagem. Encontro conhecidos, falo com as pessoas e os outros me veem. A bike conecta mais a gente com o lugar”, observa Mauro Lamim, como é mais conhecido.

Foto: arquivo pessoal de Alessandra Oliveira

mountain bikeJá Hugo Borges da Rocha Nunes, de 16 anos, tem a bike como meio de transporte para quase tudo. É com ela que o garoto vai ao colégio, trabalha, pega praia e faz outras atividades.
Como na escola vários colegas têm bike elétrica, ele se sentiu estimulado e também começou a usar. “Eu via pelos meus amigos como era bom andar de bicicleta. Pra mim é ótimo por causa da independência, não necessito esperar por ônibus, nem dependo do carro.
Vou pra qualquer lugar, sem precisar de ninguém”, conta o adolescente.

A corretora de imóveis Alessandra Oliveira de Araújo, 37 anos, alimenta verdadeira paixão por bicicleta, tanto que possui duas tatuagens em homenagem ao veículo. Ela prefere mesmo é praticar mountain bike, mas acaba pedalando na área urbana de Macaé. “Gosto do vento no rosto, de encontrar com as pessoas no meio do caminho. Sinto que é uma coisa que une”, fala Alessandra.

Eles escolhem ir de bike

Aquela velha concepção de que o ci clista utiliza a bike por questões financeiras ficou ultrapassada. Muitas pessoas de condições socioeconômicas favoráveis mostram haver outros motivos. Em muitos casos, a adoção passa pela mudança de comportamento, de conceito, de revisão de valores e mais consciência ambiental.

fabiano na bicicleta“Vejo que algumas pessoas ainda olham o ciclista com certa discriminação, acham que o cara não tem dinheiro para ter um carro ou moto e, por isso, usa a bicicleta”, opina o comerciante Fabiano Fernandes dos Santos (mais conhecido como Biano), de 42 anos. Refletindo, ele chegou à conclusão de que trocar quatro rodas por duas foi um excelente negócio. Em janeiro deste ano, Biano decidiu vender o carro e assumir a bike como seu principal meio de locomoção.

O comerciante fazia o caminho de casa para o trabalho em cerca de 6 minutos, quando ia de carro. Ele mora na Imbetiba e trabalha no Centro. Sobre duas rodas, o tempo era de aproximadamente 5 minutos. Ele avaliou ser mais vantajoso pedalar. “É muito menos estressante no dia a dia. Saindo de casa, eu percebo os passarinhos, presto atenção nas pessoas, encontro amigos, paro e converso.” Biano vai se mudar em breve para os Cavaleiros e já definiu que vai manter sua rotina.

Substituição parecida fez o gerente de Qualidade Segurança Meio Ambiente e Saúde, Marcel Pereira Barbosa, de 34 anos. Ele mora da Praia do Pecado e trabalha nos Cajueiros. Quase sempre sai de casa para o trabalho de bicicleta, mas pedala mesmo só na volta para o lar. Como ele tem bike elétrica, aproveita a ida para ligá-la e deixa o esforço físico para a volta. Em boa parte do percurso, ele utiliza a ciclovia que une a Lagoa de Imboassica à Praia Campista. Marcel só tira o carro da garagem em dias de reuniões em locais mais distantes.

“Eu tinha uma rotina freqüente de atividade física e quando mudei de emprego acabei virando um sedentário forçado. A minha opção é uma estratégia para voltar a fazer atividade”, conta Marcel.

Foto: Rui Porto Filho

prefeito aluízio junior na bikeOutro entusiasta da bicicleta é o prefeito do município, Dr. Aluízio Júnior. Ele afirma que vários fatores o levam a pedalar, entre eles, a liberação de endorfina que proporciona bem-estar e reduz o estresse. “Além disso, vivemos em uma cidade com belos cenários, que é bastante fresca, ou seja, é uma distração e um ganho na qualidade de vida. Por tudo isso e pelos fatores ambientais e de trânsito, utilizo e aconselho todos a utilizarem este meio de transporte”, diz o prefeito.

De olho na tendência e no futuro, o comerciante Paulo Roberto de Oliveira Lopes montou uma loja totalmente voltada para esse  público. A Bike Style, primeiro estabelecimento de Macaé direcionado a esse nicho de mercado, além de vender produtos e serviços para o ciclista, se preocupa em dar suporte. A loja tem lanchonete, roupas e acessórios afins, oficina de pequenos reparos, espaço para estacionar bicicletas e duchas para os ciclistas. “O uso do transporte está crescendo e a mentalidade das pessoas mudando. O pessoal está percebendo isso como um potencial de qualidade de vida”, fala Paulo. Sua filha, a administradora do negócio, Lívia Paiva Lopes, explica que a ideia é ser um ponto de apoio para o ciclista, onde ele possa consertar a bike, deixá-la estacionada para resolver alguma questão, tomar uma ducha, etc. “Montamos a loja seguindo o conceito da sustentabilidade que tem tudo a ver com bicicleta. Nossa estrutura é feita de contêineres e usamos vários materiais recicláveis como paletes e cabos de vassoura”, ressalta Lívia.

As mudanças que os ciclistas reivindicam

Mauro Lamim e Saulo Borges acreditam muito na contribuição do modal para a vida das pessoas e para o tráfego. “Cicloativistas”, eles fazem parte do grupo Mais Ciclovias (facebook.
com/maisciclovias) criado para estimular o uso desse meio de transporte na estrutura urbana, com segurança. Os dois também integram um grupo de trabalho formado entre usuários e prefeitura de Macaé, que discute a realidade cicloviária e busca soluções. paulo e lívia em frente a bike style de macaé

Foi uma iniciativa deles criar o mapa cicloviário de Macaé, que pode ser acessado pela internet, desde abril de 2014. O mapa, realizado com o apoio técnico da Rede Transporte Ativo, é um instrumento muito útil para quem pedala na cidade e traz informações como onde estão as ciclovias e “ciclofaixas”, os pontos onde há bicicletários, lojas de bicicleta, oficinas, entre outros dados. O modelo é colaborativo e os próprios usuários que conhecem a localidade podem contribuir enviando informações novas através do site.

Saulo avalia que  ainda há muito a se fazer para melhorar a estrutura cicloviária do município. “Muita gente deixa de andar de bike por causa da falta de segurança. Quando a gente começa a pedalar mais é que percebe como falta infraestrutura em Macaé”, diz.

Atualmente, Macaé tem 20,7km de ciclovias e “ciclofaixas”, sendo que a maior parte está concentrada na região centro-sul da cidade. Fora desse eixo, apenas o bairro Parque Aeroporto (região norte) possui estrutura cicloviária. A maior parte da população da região norte fica sem suporte para pedalar com segurança.

São sete rotas diferentes: Linha Verde, Rodovia Amaral Peixoto (entre Cancela Preta e Bairro da Glória), Linha Vermelha, Orla Marítima (entre Praia Campista e Praia do Pecado), Estrada da Infraero, Parque Aeroporto e Imbetiba. Mas ainda falta integração.

“Infelizmente, Macaé ainda não tem uma rede de ciclovias e “ciclofaixas” que dê a segurança que a gente precisa. A rede é desconectada e o grande problema para os ciclistas é chegar até a ciclovia”, fala o consultor da Petrobras e técnico em eletrônica, Carlos José Monteiro, de 51 anos. Carlos é ciclista desde criança e faz parte do grupo Macaé Pedal, que conta com quase 800 membros. ciclistas do grupo Macaé Pedal

Atualmente, ele só pedala mesmo em momentos de lazer e para se exercitar. Toda semana, Carlos reúne ciclistas em pedais noturnos. Às quartas-feiras, a partir das 19h30, uma turma de ciclistas se encontra no Posto BR, na Praia Campista, e vai até a Lagoa de Imboassica. Outros passeios como esse são feitos, em outros dias da semana.

A precariedade da estrutura cicloviária

Se atualmente, mesmo com o espaço urbano precário, muitas pessoas já preferem a bicicleta, a adesão pode aumentar bastante quando o poder público investir na malha cicloviária. A segurança estimula o uso. “Sem segurança vai ser difícil alguém deixar o carro em casa e preferir a bike”, opina Carlos Monteiro.

Uma pesquisa recente da Secretaria de Mobilidade Urbana de Macaé revelou alguns dos pontos onde existe maior  circulação de ciclistas. São eles: Rodovia Amaral Peixoto (no acesso à Estradada Infraero, no trevo da Cancela Preta, no trevo do Bairro da Glória e no trevo de acesso ao bairro Novo Cavaleiros), Avenida Presidente Sodré (conhecida como Rua da Praia), entorno da Praça Veríssimo de Melo, Avenida Evaldo Costa (antiga Ayrton Senna), Rua Télio Barretona Aroeira, Linha Vermelha e Rua Silva Jardim (acesso à Linha Vermelha). Dos 10 trechos citados, apenas dois têm ciclovias (Rodovia Amaral Peixoto no trevo do Bairro da Glória e Linha Vermelha) e um possui calçada que acaba sendo compartilhada por pedestres e ciclistas (na Avenida Evaldo Costa).

Conforme os dados da secretaria, entre 2010 e fevereiro de 2014, o maior número de acidentes envolvendo ciclistas foi registrado no Centro. Dos 160 acidentes ocorridos no período, 57 aconteceram na área central. Os números são referentes aos boletins de ocorrência de acidente de trânsito da secretaria e do 32º Batalhão da Polícia Militar e não incluem acidentes nas rodovias estaduais que passam pelo município. O Centro é uma região onde existe grande circulação de ciclistas e nenhuma estrutura cicloviária.carlos monteiro na bike

Esse e outros dados contribuíram para a criação do Plano Cicloviário de Macaé, que prevê diversas mudanças. Segundo o secretário de Mobilidade Urbana de Macaé, Evandro Esteves, foram projetadas 15 rotas ciclísticas. “Em um prazo curto, vamos conseguir entregar esses projetos. Pretendemos até o final desta gestão, no prazo de um ano e meio, integrar os bairros mais extremos da cidade através de “ciclofaixa” e ciclovia”, afirma Evandro.

Cumprindo o planejado, a malha cicloviária do município vai triplicar de tamanho, serão mais 46,3km. Junto com os 20,7km já existentes,  Macaé terá 67km de rotas ciclísticas. Os caminhos vão contemplar bairros e regiões como Lagomar, Engenho da Praia, Ajuda, Virgem Santa, Botafogo, Malvinas, Aroeira, Centro, Imbetiba, Parque de Tubos, entre outros.

O Plano Cicloviário prevê conectar as ciclovias e “ciclofaixas”, sem que necessariamente elas sejam contínuas, conforme esclarece o secretário. “Pretendemos interligar o Miramar e o Visconde de Araújo tanto à Imbetiba quanto aos Cavaleiros. Vamos retomar o circuito mais tradicional do ciclismo funcional de Macaé, que era das pessoas que trabalhavam na Leopoldina  e moravam no Visconde ou no Miramar”, explica Evandro.

Lagoa e Galope, o trecho do perigo

Entre os locais mais perigosos para pedalar, muitos usuários apontam o trecho  entre a Lagoa de Imboassica (no acesso à Praia do Pecado) e a Churrascaria Galope. Naquela parte, não há acostamento na Rodovia Amaral Peixoto e os carros trafegam em alta velocidade. “Ali tem muito fluxo de trabalhadores de bike, o ponto é crítico”, fala Mauro Lamim.

Foto: Gianini Coelho

carros na rodovia amaral peixoto em macaéCarlos Monteiro usou, por quase 10 anos, a bicicleta para trabalhar. Ele ia do Mirante da Lagoa até a Imbetiba, pedalando. “Há uns oito anos, o trânsito de Rio das Ostras pra Macaé ficou impossível, as pessoas ultrapassavam pelo acostamento e eu decidi não arriscar minha vida. Larguei a bike e passei a ir de moto”, conta.

A criação de estrutura cicloviária na região do Parque de Tubos é uma solicitação antiga e está no planejamento da prefeitura. Mas algumas características do local impõem obstáculos. Em grande parte do trecho da RJ-106 (Rodovial Amaral Peixoto), entre a Lagoa de Imboassica e a Galope, a via é circundada pela linha férrea e pela lagoa. Porém, há determinado local onde a lagoa está em um dos lados da estrada e do outro existe um canal extravasor. “Estamos discutindo a forma mais conveniente de levar a ciclovia ao Parque de Tubos. Talvez, o nosso maior desafio em termos construtivos de ciclovia e “ciclofaixa” é atravessar aquela parte da lagoa”, esclarece o secretário.

Respeito, uma via de mão dupla

Uma cidade mais amiga do ciclista também depende da boa convivência entre os vários usuários do trânsito e da educação da sociedade. O respeito é uma via de mão dupla, onde todos têm direitos e deveres.

No verão, quando a orla da Praia dos Cavaleiros fica muito  movimentada, Carlos observa que muitos pedestres usam a ciclovia sem consciência. Ele con ta ver pessoas caminhando nesse espaço, mesmo com o calçadão logo ao lado, e até batendo papo na ciclovia. “Tem ciclista que briga, grita. Eu procuro orientar, mesmo sabendo que estou certo. Aciono a buzina, peço licença e agradeço. Não adianta querer o afrontamento.Eu não vou ganhar a pessoa sendo mal educado. Temos que tentar ser educados para que os outros entendam que ali é um local para o ciclista”, conta.

homem  com bike elétricaIrregularidades como motoristas  estacionando ou circulando em ciclovias e “ciclofaixas” não são difíceis de serem vistas em Macaé. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece que estacionar veículos em ciclovias é infração grave, que cabe multa e até remoção do veículo. Já trafegar em ciclovia é infração gravíssima.

O contrário também acontece. Tem ciclista que invade a calçada, não atravessa na faixa e pedala de forma ofensiva. “Se tem ciclovia é para usar. O ciclista precisa respeitar as leis de trânsito como todo mundo”, argumenta Marcel Pereira.

“Às vezes, eu vejo a falta de consciência. Gente andando na contramão, em cima de calçada e atravessando fora da faixa”, fala Alessandra Oliveira. Ela se preocupa em pedalar seguindo as regras até por questão de segurança. A corretora de imóveis está sempre de capacete, prefere pedalar na mão de direção certa e utiliza as ciclovias. Conforme rege o CTB, o ciclista deve transitar no mesmo sentido de circulação regulamentado nas vias urbanas, quando não houver ciclovia, “ciclofaixa” ou acostamento.

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