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A presença do pai

qui, 05/08/2021 - 16:38 -- Gláucia Pinheiro
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Há pai, biológico, que não é pai. Há pai instituído pela lei civil que não é pai

A coluna de hoje traz a paternidade para o divã. Aproveitando a proximidade do Dia dos Pais, data comemorativa criada em nossa cultura para celebrar essa figura tão importante em nossas vidas, vamos pensar aqui sobre o que é ser pai.  A cultura não só estabelece uma data comemorativa para celebrar o pai, ela também define funções e papéis sociais que determinam o seu lugar na família, na sociedade, na civilização. Há diversas formas e referenciais para definirmos o pai. Mas para nós, mordidos aqui pelo discurso psicanalítico e por todas as transformações do nosso tempo, lançamos a pergunta: afinal, o que é ser pai?
A pergunta “o que é um pai?”, é feita por Freud lá nos idos da sua descoberta do inconsciente e da inscrição da psicanálise como uma nova forma de tratar os sintomas psíquicos. O pai, a figura paterna, esse protótipo das primeiras relações infantis, alvo e modelo das primeiras identificações, é personagem constante na fala dos pacientes nos divãs dos analistas. O enigma lançado por Freud se mantém aberto e a questão em torno do pai permanece pulsante e sempre atual para a psicanálise.
Para as sociedades tradicionais, antigas, ser homem é ser pai. Para ser homem era preciso perpetuar sua linhagem, transmitir um nome. Ser pai é o que definia a masculinidade e a potência do homem.O homem/pai, era aquele que também deveria decidir sobre o destino dos seus herdeiros. A imagem do pai estava ancorada no pater familias,o progenitor, provedor e naquele que detinha o poder. Bastava a tradição familiar para se transmitir um legado de pai para filho.  Com o tempo e os avanços culturais essa imagem do pai mudou. A partir da modernidade a imagem social do pai, potente e poderoso, decai. Entre ele e o filho, nessa transmissão, entram outros elementos. Principalmente as mudanças quanto aos matrimônios e a transmissão de um nome, a definição legal da paternidade e o lugar dado pela mulher/mãe ao pai, marcam um declínio dessa imagem e um outro lugar ao pai.É aí, neste contexto cultural novo, marcado por esse declínio da consistência social da imago do pai que nasce a psicanálise e traz para a discussão a função paterna. O pai é então uma função. É aquele que faz função de lei, que transmite uma herança simbólica, para além de um nome de família. Ao exercer essa função inscreve para o filho a lei a qual ele mesmo está submetido. O exercício dessa função é fundamental para determinar a operação que estrutura psiquicamente o sujeito. E para sustentar a função paterna o pai pode ser qualquer um, mas não um qualquer. Ele não é a lei, ele representa a lei e faz barra, limite, borda, permitindo ao filho transitar entre o espaço privado da família e o coletivo da vida pública.
Dessa forma, pai não se define pela biologia, pelo gênero, pelo código civil ou por uma autoridade imposta. Os nãos do pai, interditores e moralizantes, são mais que necessários, são fundamentais, são nãos que possibilitam amar. Nãos de amor. Pai não é aquele que permite tudo ao filho nem o que não oferece nada. Ser pai e sustentar sua função é estar no fio da navalha. É dar o peixe e ensinar a pescar. É suportar a ambivalência, é ofertar amor na dose da firmeza, é ser lei sem autoritarismo. É apontar o caminho, mas permitir que o filho construa sua trilha. É segurar a mão e soltá-la para que o filho agarre seu próprio desejo. É transmitir um nome fazendo metáfora. É aquele que permite ao filho ir com ele para além dele.
Há pai, biológico, que não é pai. Há pai instituído pela lei civil que não é pai. Há avó que é pai, há mãe que é pai, há professor que é pai, há tio que é pai, há pai que é pai. O lugar do pai será ocupado por aquele que sustentar, com firmeza e amor, essa função. E assim, o filho que, com amor, puder ser guiado a ir com o pai, além do pai, tomará sua herança simbólica, a conquistará, para dela fazer um caminho próprio.

FELIZ DIA DE TODOS OS PAIS.

Gláucia Pinheiro

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