Fábio Luís Ribeiro com a esposa Greicy Thaiomara e os filhos Gustavo e Helena. A família demorou oito anos para fechar o diagnóstico alérgico de Gustavo. Após tratamento com vacina, ele não teve mais crises graves e consegue conviver com o cachorrinho da família. (Foto Alle Tavares)
Fábio Luís Ribeiro com a esposa Greicy Thaiomara e os filhos Gustavo e Helena. A família demorou oito anos para fechar o diagnóstico alérgico de Gustavo. Após tratamento com vacina, ele não teve mais crises graves e consegue conviver com o cachorrinho da família. (Foto Alle Tavares)

Alerta para o crescimento das alergias

Espirros, coceira na pele, no nariz ou na garganta, olhos inchados ou lacrimejantes, falta de ar. A princípio, muitas pessoas podem pensar que esses sintomas indicam um mal-estar ou início de um resfriado, mas na verdade eles podem ser sinais de uma reação alérgica.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 35% da população mundial sofre com algum tipo de alergia e a projeção é que, até 2050, metade da população possa apresentar alguma forma da doença. Já a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), informa que doenças alérgicas respiratórias são muito prevalentes e levantamentos populacionais apontam que a rinite pode afetar de 30 a 40% dos indivíduos, inclusive no Brasil.

Dra. Maria Carolina Costa é alergista e imunologista. Ela pontua que a alergia é um desequilíbrio imunológico no qual o corpo responde de forma exagera a um estímulo. (Foto Alle Tavares)
Dra. Maria Carolina Costa é alergista e imunologista. Ela pontua que a alergia é um desequilíbrio imunológico no qual o corpo responde de forma exagera a um estímulo. (Foto Alle Tavares)

De acordo com a alergista e imunologista, Dra. Maria Carolina Costa, a alergia é um desequilíbrio imunológico no qual o corpo responde de forma exagerada a um estímulo. “A prevalência das alergias tem aumentado em todo o mundo e isso está sendo discutido em todos os congressos. A influência do nosso estilo de vida e a interação entre o meio ambiente e a genética do paciente são questões abordadas e que podem interferir nesse aumento. Além disso, o consumo exagerado dos ultraprocessados e outros aditivos alimentares (conservantes, corantes…) muitas vezes apresenta substâncias que o corpo não está preparado para reconhecer, inflamando e prejudicando a saúde intestinal. Vale lembrar que a maior parte do sistema imunológico está no intestino e esse processo de exposição repetitiva pode alterar a microbiota do órgão, deixando-o inflamado, permeável e mais vulnerável às alergias”, revela a médica.

As alergias mais comuns são as alimentares e as respiratórias e, se não tratadas, podem atrapalhar muito o dia a dia do paciente.

A alergia respiratória é uma herança na família de Greicy Thaiomara de Oliveira. Ela tem rinite alérgica e o seu filho, Gustavo de Oliveira Ribeiro, 15 anos, herdou a alergia respiratória de forma acentuada.

Desde os quatro meses, ele já era um bebê que sempre estava resfriado e evoluía para pneumonia. A primeira infância dele foi um caos”, lembra Greicy. O desafio começou na busca por profissionais em Macaé. “A gente já desconfiava do processo alérgico dele, mas a pediatra que o acompanhava dizia que não adiantava fazer teste devido à idade. Eu procurei outros médicos, mas recebia muitas informações desencontradas. Só fui começar a investigar a alergia dele quando a Dra. Maria Carolina começou a atender na cidade e ele já tinha oito anos”, diz.

Os testes alérgicos de Gustavo deram positivo para ácaros, pelo de cachorro, ovo e leite. “Ovo e leite era uma reação bem baixinha. No início, esses alimentos foram retirados da alimentação mas, com o tempo, fomos reintroduzindo, sem prejuízo no processo alérgico”, revela Greicy.

O tratamento realizado em Gustavo foi com vacina, além do controle ambiental. “Foram três anos de aplicação de uma injeção semanal e, agora, tem mais de 5 anos que o Gustavo não toma antibiótico. Nós também aprendemos a fazer o controle ambiental – colocar capa no colchão, trocar o travesseiro frequentemente, o quarto dele não tem cortina, penduricalhos, bicho de pelúcia”, reforça.

Hoje, a família tem um cachorro e Gustavo consegue conviver bem com ele. “Continuamos com o controle ambiental, porém quando ele começa a ter algum sintoma alérgico, raramente evolui. Isso para mim é o principal ganho do tratamento. Nós conseguimos tratar a causa e não os sintomas da alergia”, declara Greicy.

Dra. Maria Carolina ressalta que não tem idade para começar a investigar um processo alérgico e, quanto mais cedo iniciar o tratamento, melhor será para a qualidade de vida da criança.

Lívia Lobo e Ivonei Henrique têm quatro filhos: Pedro (21); Arthur (10), Laura (5) e Clara (2). Apenas um, o Arthur, não tem alergia. Uma herança genética para quase todos da família. (Foto Alle Tavares)
Lívia Lobo e Ivonei Henrique têm quatro filhos: Pedro (21); Arthur (10), Laura (5) e Clara (2). Apenas um, o Arthur, não tem alergia. Uma herança genética para quase todos da família. (Foto Alle Tavares)

A família da neuropediatra Dra. Lívia Lobo é quase toda alérgica. O marido, Ivonei Henrique, tem rinite alérgica e os filhos Pedro (21 anos), Laura (5) e Clara (2) herdaram a alergia do pai. Somente o filho Arthur (10) não tem alergia.

Meu marido começou a tratar a alergia na adolescência e o meu filho mais velho iniciou com 3 anos de idade. Já as meninas começaram o tratamento há cerca de dois anos”, informa. Lívia conta que, além da rinite alérgica, a filha Laura tem alergia a gato. Já a caçula, tem dermatite atópica. Ela frisa a melhora da qualidade de vida após o início do tratamento, principalmente das meninas.

O controle ambiental e o tratamento específico, com vacinas, faz muita diferença, com melhora na qualidade de vida, o que é incrível. Além disso, a Clara faz acompanhamento com a dermatologista para a dermatite atópica. Fazemos hidratação na pele, uso de óleo de banho e sabonete líquido especial. A melhora da dermatite é crucial, porque nas crises ela coçava muito o corpinho e podia fazer uma infecção secundária. Com o tratamento, ela dorme super bem e passa o dia brincando”, conta a mãe.

Em relação à Laura, Lívia revela que a alergia a gato foi uma surpresa. “A gente tinha uma gatinha e pensávamos que a alergia dela era apenas a ácaro. Ao mesmo tempo que a nossa gatinha morreu, Laura fez o teste alérgico, que foi positivo para gato. Com o controle alérgico, através do controle ambiental e uso da medicação, a melhora é visível. Ela fica mais bem-humorada durante o dia, rende nas atividades da escola e nas tarefas do dia a dia. Quando ela está em crise, ela tem um sono bem agitado, apresenta sintomas obstrutivos, como o ronco, muita coceira no nariz, range os dentes, enfim, é um sono muito inquieto. Ela queria ter outro gato, mas agora a gente está programando dar um cachorro para as crianças”, diz Lívia.

Viviane Azevedo e Tassio estão com acompanhamento nutricional e pediátrico para apoiar no tratamento da intolerância alimentar da pequena Maria Alice, de três anos. Na Foto: Viviane com a bebê Tereza e Tassio com Maria Alice. (Foto Alle Tavares)
Viviane Azevedo e Tassio estão com acompanhamento nutricional e pediátrico para apoiar no tratamento da intolerância alimentar da pequena Maria Alice, de três anos. Na Foto: Viviane com a bebê Tereza e Tassio com Maria Alice. (Foto Alle Tavares)

Alergia X Intolerância alimentar

Viviane Azevedo conta como foi o processo de investigação de intolerância alimentar da filha, Maria Alice (3 anos), que é acompanhada por uma pediatra e uma nutricionista. “A Maria apresenta um quadro de dermatite atópica desde os 10 meses. Inicialmente, fizemos investigação com exame de sangue padrão para identificação de possíveis alergias, principalmente alimentares, mas nada foi identificado. O tempo foi passando e ela não melhorava”, conta Viviane.

A mãe revela que buscou outras opiniões médicas e o exame de hipersensibilidade alimentar revelou alguns alimentos não tolerados pela filha, como o ovo. “Também descobrimos uma intolerância à histamina que veio a restringir o consumo de uma relação grande de alimentos e ajustes na casa. Ainda nessa investigação, fizemos um exame de fezes, buscando a real causa dessa resposta do corpo com as intolerâncias. E lá estava também uma permeabilidade intestinal que está sendo tratada para que, com o intestino saudável, o corpo consiga voltar a tolerar os alimentos de forma natural”, explica.

Viviane destaca que a pediatra ajustou a suplementação da filha e iniciou o uso de uma enzima que Maria não está produzindo. O acompanhamento nutricional personalizado tem ajudado bastante a família. “Nossa nutricionista tem cuidado com muito carinho de nós, até para que não nos traga gatilhos comportamentais”, ressalta.

Atualmente a alergia alimentar é muito confundida com a intolerância alimentar. Dra. Maria Carolina esclarece a diferença entre elas: “A alergia alimentar é uma resposta imunológica a uma proteína do alimento, ou seja, o organismo ‘reconhece’ algo que o faz gerar uma reação exagerada, culminando com sintomas como: urticária, coceiras na pele, vômitos, diarreia, sintomas respiratórios ou mesmo reações graves como um choque anafilático. Por outro lado, as intolerâncias alimentares não envolvem o sistema imunológico, elas costumam estar associadas a deficiências de enzimas, como por exemplo na intolerância à lactose, onde temos uma deficiência da enzima lactase. Nesses casos, os sintomas podem variar de acordo com a quantidade do alimento ingerido e cursam principalmente com sintomas gastrointestinais. Fazer o diagnóstico correto evita dietas restritivas desnecessárias, garante o tratamento assertivo e melhora a qualidade de vida de toda a família”, conclui a médica.

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