Coragem, disposição e determinação não faltaram para Creuza, Genilda e Lilian, exemplos de empreendedoras que comprovam que liderar um negócio também é coisa de mulher! E os números mostram que esse movimento veio para ficar! De acordo com o Sebrae, as mulheres representavam um terço dos cerca de 30 milhões de empreendedores no Brasil, o que representa um recorde na série histórica, com um crescimento da presença feminina de aproximadamente 42% entre 2012 e 2024.
Creusa: da venda de porta em porta à consolidação no ramo da joalheria
Recém-chegada na cidade, em uma Macaé de 1969, Creusa Pessanha de Araújo viu na comercialização das joias uma oportunidade de ocupação e renda. No início, a venda acontecia entre amigas e conhecidas e o boca a boca foi fundamental para que nascesse o negócio que perdura há mais de 50 anos na cidade.
Anos mais tarde, em 1990, era a vez de finalmente nascer a Creusa Joias, a loja no espaço que está localizada até hoje, na região central da cidade. “Meu marido, Cláudio Sérgio, era dentista e algumas pessoas falavam, seu marido é doutor, você não precisa trabalhar e eu respondia: mas eu trabalho porque eu gosto de trabalhar. Tinha muita vontade de crescer, e foi assim, eu trabalhando de um lado e ele do outro que conseguimos recursos para comprar a nossa primeira casa”, afirma.
Hoje, Creusa conta com o envolvimento de suas duas gerações na gestão direta da Creusa Joias, as filhas Cíntia e Cristina, além da neta Vivian. Mas, mesmo estando prestes a completar 80 anos, ela se mantém no dia a dia do negócio, recebendo os clientes, vendendo, além de participar da curadoria das peças. “Sempre mantive o foco, sempre acompanhando as tendências e me atualizando. Com isso, chegamos à nossa segunda loja, no Shopping Plaza, e seguimos sempre em busca de oferecer o melhor”, conclui, citando os demais netos: Jeronymo, que a auxilia em outros empreendimentos ligados à construção e agronegócio; além de Vinícius e Gabriel, que foram para a área da medicina; e Lívia, que também atua no ramo de joalheria em outra cidade.

Lilian Almeida, a agitação e o dinamismo do mercado da moda antes da internet
Lilian Nogueira de Almeida iniciou sua carreira na moda infantil em Minas Gerais mas, ao se mudar para Macaé, percebeu a demanda por moda adulta, o que a fez rever a rota e iniciar sua jornada como empreendedora de sucesso na cidade, estando no comando da Cantonata, Escotilha e Obló até 2017.
Com sua visão estratégica, o negócio logo se tornou um ponto de encontro. Através da promoção de eventos, coquetéis e desfiles, Lilian unia moda e impacto social. Com o sucesso da primeira loja, Cantonata, voltada ao público feminino, nasceu a Escotilha, com foco no masculino, ambas no antigo Macaé Shopping, no viaduto. Depois, foi a vez de dar mais um passo e acreditar no projeto de um novo shopping que viria para a cidade, em 2008, o Plaza Macaé.

Mesmo diante dos desafios do mercado, Lilian revela que seguiu inovando. “O segredo é conhecer bem o produto, se comunicar com o cliente e, acima de tudo, persistir. E assim, fizemos grandes eventos com lançamentos de coleções com a presença de tenores, bailarinos, nunca era nada do mesmo”, afirma.
Aos 70 anos, decidiu que era hora de encerrar sua carreira no comércio e seguir por novos caminhos, o que conseguiu finalmente realizar dois anos depois. Em 2017, vendeu sua loja e celebrou a transição de forma irreverente plotando uma foto sua na vitrine, diante do mar do Caribe, com a inscrição: Fui, aposentei! “Eu sabia que era a hora certa de parar, estava economicamente equilibrada e queria viver novas experiências”, conta.
Lilian acredita que o empreendedorismo feminino é uma força transformadora. “A mulher precisa confiar em si mesma, agir e olhar para a frente. O mundo será das mulheres, eu vejo isso acontecendo”, afirma.

Genilda de Souza: a professora que se tornou dona de escola
O amor pela educação sempre fez parte da vida de Genilda de Souza. Atuando como professora, ela fundou no quintal de casa sua própria escola, inicialmente chamada de Turma da Mônica que, 42 anos depois, se tornaria uma das principais instituições de ensino de Macaé, o Colégio Souza. Sobre as dificuldades em relação ao gênero por estar à frente de um negócio, Genilda fala que nunca foram perceptíveis, mas revela que a trajetória de mais de 40 anos no mercado foi desafiadora. Mas, para dona Genilda, os desafios sempre foram motivo de estímulo e desistir nunca uma opção.

“É muito gratificante poder olhar para trás e ver o quanto evoluímos, sem jamais abrir mão do nosso sonho de educar. Pude contar com os meus filhos ao meu lado que, ainda hoje, continuam comigo, Daniel na área administrativa e Liliane na pedagógica. De quando comecei para agora, as mulheres ganharam muito mais espaço, o que eu acho excelente, muitos pensam que as mulheres não são capazes. Mas somos sim, de muitas coisas, de realizar o que a gente quiser, de almejar e conseguir”, ressalta, afirmando como características principais para o êxito a dedicação e a resiliência.
Quarenta e dois anos depois, Genilda segue na escola, participando do dia a dia com os alunos. “Eu tenho amor pelo que eu faço e mesmo diante de momentos difíceis como foi a pandemia, em que tivemos que nos reinventar e contar com a tecnologia, eu não desanimei. Apesar da minha idade, tenho muitos planos ainda e vamos continuar crescendo”, revela.
Empreendedorismo feminino e os caminhos para o sucesso
O fortalecimento da presença feminina no segmento não é sinônimo de facilidade. O Coordenador Regional do Sebrae Norte, Guilherme Reche, destaca que há sim diferenças quando é a mulher que está a liderar um negócio. “O empreendedorismo feminino ainda enfrenta desafios significativos, como dificuldades no acesso ao crédito – atualmente, apenas 29,4% dos recursos disponíveis são concedidos a empresas lideradas por mulheres, segundo o Banco Central. Além disso, questões culturais e estruturais, bem como a conciliação entre vida profissional e pessoal, tornam o caminho mais desafiador. No Sebrae, acreditamos que a capacitação, o networking e o uso da tecnologia são ferramentas essenciais”.

Guilherme Reche é coordenador regional do Sebrae Norte e Ressalta as iniciativas do Sebrae voltadas para as mulheres, como o Acredita Delas. (Fotos de arquivo)
Guilherme ressalta as iniciativas do Sebrae voltadas exclusivamente às mulheres, como o Acredita Delas, ligado a linhas de crédito, e o Sebrae Delas, que oferece capacitações, consultorias e oportunidades de networking. “Nosso objetivo é impulsionar o protagonismo das mulheres nos negócios, garantindo suporte, orientação e melhores condições para o crescimento sustentável de seus empreendimentos”, detalha.
A chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Macaé, Mariana Previtalli, aponta a rede de suporte local que existe e que pode contribuir para que o talento para o empreendedorismo não se perca em meio às dificuldades, sejam elas do mercado ou burocráticas. “O estado do Rio de Janeiro é o segundo maior em número de mulheres à frente de micro e pequenas empresas, com 38% de presença feminina. Em Macaé, são quase 15 mil microempreendedores individuais (MEI), sendo 35% mulheres. E todas elas podem contar com equipamentos como a Casa do Empreendedor, que possui uma equipe de apoio capacitada a oferecer todas as orientações, independente do porte empresarial, contribuindo para os gargalos que envolvem questões fiscais, de licenciamento, entre outros. Também realizamos fóruns técnicos, como o Macaé Empreendedora, com um dia específico dedicado ao empreendedorismo feminino”, explica.