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Starship, a disco que marcou gerações

ter, 30/06/2020 - 11:27 -- Luciene Rangel
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Texto Luciene Rangel

Edição nº 34/ Julho 2015

Quem hoje está na casa dos 40 e 50 anos sabe o que significaram o fim da década de 70 e boa parte dos anos 80. Numa palavra: VIDA!
Os jovens precisavam de quase nada para ser felizes. Bastava estarem reunidos e uma boa música tocando. E ai estamos falando de MPB, dance music, funk (blackmusic) e rock roll, ritmos que marcaram gerações.
A telenovela global DancinDays dava o tom musical, fazendo as pickups fervilharem com Rita Lee, Djavan, Jorge Ben, Guilherme Arantes, Gilberto Gil, The Commodores, Santa Esmeralda, HarmonyCats e tantos outros que, só de lembrar, dá vontade de levantar e dançar.
Em Macaé o ponto de encontro para dançar era o Tênis Clube que, desde julho de 1979 abriu seus salões para receber a sociedade. O movimento foi iniciado no ano anterior, pelo então presidente José Vieira Almeida Junior, “Zé da Ilha”, a partir da vivência de um filho no Costa Brava, clube carioca que bombava com boites. Tacada de mestre! Até 1984 a Discoteca do Tênis Clube, a Starship, era parada certa de 10 em 10 jovens.

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À frente estavam os irmãos Paulo e Luiz Moraes que, apesar da pouca idade na época, traziam uma bagagem musical de “gente grande”. O Tênis Clube iniciou a estruturação dos espaços, que receberam equipamentos de som e luz de última geração, acompanhando o que rolava de mais top nos grandes centros.
No início o movimento começou tímido, com pouca frequência, sendo necessária estratégia circense pelas ruas da cidade para arrebanhar a juventude. Deu certo! Os dois espaços do clube encheram, com MPB tocando no salão térreo e ritmos internacionais no segundo andar. Foi tão frenético que a programação começava na quinta-feira, seguindo até domingo, atendendo, assim, todas as idades.

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A discoteca tinha uma pegada futurista. Estávamos antenados com o que mais moderno musicalmente rolava no mundo e trazíamos para Macaé”, afirma Paulo Moraes que, nos últimos anos tem promovido eventos no Tênis Clube, “Starship’s”, para reunir a sociedade, sempre sucesso.

 

“Aumenta que isso ai é rock’nroll”

O salão superior do Tênis tremia com rock’nroll e funk. Os simpatizantes de cada estilo musical se alternavam na pista a cada rodada do ritmo de sua preferência, tendo, é claro, um ou outro que permanecia curtindo tudo.

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“Nesta época nossa pequena turma já estava contaminada com o vírus do rock n’roll. Paulinho Moraes era muito simpático ao ritmo e foi aumentando o tempo para esse estilo. Lembro-me quando ele lançou “YouShook Me All Night Long”, do AC DC, que era muito pesado para os padrões da época. Foi pauleira!”,recorda Aderson Ferreira Junior, até hoje um apreciador do estilo e que foi a primeira e a última discoteca do Tênis.

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Dividindo espaço com os roqueiros estavam os funkeiros, com o molejo Black Music. E é Alfredo Manhães quem recorda:

Desde os 15 anos frequentei a Starship. Já tinha uma vivência musicalpois, desde os 9 anos, fazia hifi’s nas casas dos amigos por puro prazer. O Black Music era forte na época, mas não no Tênis, sim no Fluminense e no Ypiranga. Com a Starship passou a ser tocado e aos poucos apreciado”, revela Alfredo , mencionando alguns destaques como O’Jays, The Jackson, The Whispers, Earth Wind &Fire, Michel Jasckson e Barry White, Tim Maia, Lady Zu e Totó e as Frenéticas. A turma, no mais alto estilo, usava paletós e camisas, levando para a pista todo swing e charme do contrabaixo.

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Nos anos 80 o formato da discoteca foi sendo alterado para receber uma turma mais nova. Eram os caçulas que passaram a frequentar a discoteca acompanhando os irmãos mais velhos. Foi nessa época que o clube concentrou o movimento no salão térreo, passando a tocar de tudo um pouco.

Os 30 minutos finais eram reservados para rock n’roll. Iron Maiden, Judas Priest, Deep Purple e Led Zeppelin viraramhinos.No salão, os roqueiros com suas calças de couro, spikes nos acessórios, respeitando estilos e tendências das bandas da época.
A importância da Starship para Macaé ultrapassa o status de equipe de som ou de empresa de entretenimento, para se transformar num fenômeno cultural e sociológico”, exalta Aderson.

 

Da pista às pickup’s

O swing do funk ainda corre nas veias de Alfredo Manhãesque permitiu que muitos outros ritmos passassem a fazer parte de sua vida musical. A discoteca dele é bárbara e cultuada com certa rotina por ele, familiares e amigos que dividem o prazer de apreciar uma boa música.

A música o levou das pistas aos bastidores da discoteca. Alfredo conta que, certa vez, uma pickup da Starship deu defeito e ele ofereceu uma sua para suprir. Nessa época ele já era dono de alguns equipamentos de som, comprados, juntamente a LP’s, a partir de sua economia com transporte e alimentação.
Quando a discoteca desceu aconteceu de um dia precisarem de um equipamento. Ofereci o meu. A partir dai fui convidado a operar o som, coisa que sempre me deu muito prazer”, diz ele, mencionando que essa foi a primeira vez que trabalhou como discotecário.
A Starship influenciou comportamentos, amizades, era ponto de referência para noite macaense. Falar da discoteca do Tênis é falar de saudade”, arrematou Alfredo.

 

Ah se o murinho falasse!

Falar da discoteca do Tênis é também recordar do murinho branco que cercava a quadra. Era lá que os casais se encontraram. Foi lá que muitas boas histórias começaram, como a de Miguel e Fabíola Silva Santos, casados há 24 anos e com uma caminhada juntos que já passa dos 30.

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A gente se conheceu no Baile do Havaí, no Tênis Clube. Foi a primeira troca de olhares. Mas foi na discoteca que começamos a ficar e, claro, no murinho branco. Eu tinha que ir embora as 22h30 e Miguel chegada as 22 horas. Quando ele entrada era como um deus gregoe sinto isso até hoje”, emociona-se Fabíola, mãe de Igor, 23 anos, Mateus, 19, e das gêmeas Marina e Vitória, 13.
Muitas recordações povoam a relação do casal, que venceu, por aclamação do público, um concurso dedança durante uma discoteca. Como prêmio, um cinto de Leni Modas, loja de moda feminina da época, na Galeria Carapebus.
Miguel, entusiasmado pelas boas lembranças, conta que os irmãos Paulo e Luis praticamente moravam no Tênis, onde os jovens se reuniam foram do horário da discoteca para ouvir música e jogar conversa fora.
Paulinho e Luis participaram de alguns almoços na casa de minha avó Dega. Eles foram abraçados pelos macaenses”, disse Miguel, completando: “A Starship marcou toda uma geração. Havia um convívio saudável dos jovens. Era lá que nos encontrávamos”.

 

Família Starship

Fui ao primeiro e ao último dia da Starship”, compartilha Carlos José Mattos de Andrade “Casé” que, com sua animada turma, ocupava quase que em tempo integral a pista da Starship.

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A discoteca do Tênis Clube era alegria, congraçamento, energia deliciosa, segundo Casé. Ele recorda que esse movimento tinha acabado de explodir no mundo e que já frequentava festas no Rio com essa energia.
Dançava o tempo todo. Donna Summer, Michael Jackson... lotavam a pista, que vibrava com o som de excelente qualidade da Starship. Tinha uma turma que não perdia uma discoteca: Valtinho, Ripinho, Glaucia e Gisele Mussi, Lenine, Adriana Fragoso, Cesar, Aderson, Flávio Lousada, Valzinho, Vânia Bandeira, Taninha e tantos outros. Na época dois franceses passaram por Macaé, Jean-Marc e Allan Devret. Foi também ai que chegaram Patrick e PhilipeBogue”, lembra.
Para Casé, que não perdeu nenhuma edição da Starship dos últimos anos, a festa resgata, reúne. É alegria e oportunidade de reviver uma época marcada por música e boas experiências.
Paulo Moraes recorda algumas pessoas que fazem parte da história da Starship e que foram cruciais, em muitos momentos, para que fosse o sucesso que foi.

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Luciene Aguiar, Bizuca e Laise Porto foram incansáveis. Falar de Starship é falar de Léo Machado, Mauricio Paraguassu, Everest, Casé, Cacá Rangel, Isis Maria e Luiz Fernando, gente que me marcou e marcou essa festa linda”, disse Paulo, afirmando que “a Starship ampliou horizontes, oportunizou amizades, encontros, relacionamentos, reunindo gente antenada e sempre com bons conceitos”.

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A Starship está na memória afetiva dos que a frequentaram, mas também na bagagem de vida de gerações que não estavam na época, mas que, de tanto ouvir seus pais e pessoas próximas, parecemter vivido. 31 anos se passaram do seu término e o movimento continua vivo. Serão as músicas, as pessoas, o espaço, a energia, as relações? Será a sensação de que nada substituiu, a altura, a programação? Muitas perguntas, muitas saudades. E enquanto se busca equivalências, a solução é curtir o encontro anual na Starship que, felizmente, Paulo Moraes proporciona, não deixando apagar as boas lembranças, muito menos permitindo que haja uma última dança.

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Curiosidades

  • Starship – Nave estelar.
  • Em 1979 o centro da cidade tinha apenas um transformador, o que acabou por definir o início da discotecapara as 20 horas. Assim, o som podia ser ligado sem afetar a alimentação de energia das residências.
  • A fumaça da Starship, que dava a sensação de nevoeiro, era de gelo seco, que vinha semanalmente do Rio de Janeiro, aquecido em resistência de 5 mil Watts.
  • Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii João Pensa e seus Miquinhos Amestrados foram alguns dos shows trazidos pela equipe Starship.
  • Antes da Starship os bailes dos clubes eram animados por conjuntos como o The Rells, no Ypiranga; o L-Bossa no Fluminense; e o Placa Luminosa no extinto Atlético.
  • Na parede de fundo da discoteca, onde ficava a cabine do DJ, era decorada por um painel do artista plástico macaense Marco Aurélio.

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  • Grupos de rock que bombaram na época - Barão Vermelho, Biquini Cavadão, Blitz, Camisa de Vênus, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Herva Doce, Ira!, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Legião Urbana, Nenhum de Nós, Paralamas do sucesso, Plebe Rude, RPM, Titãs e Ultraje a Rigor,.
  • Cantores e cantoras destaques – Celso Blues Boy, Eduardo Dusek, Guilherme Arantes, Kiko Zambianchi, Leo Jaime, Lobão, Lulu Santos, Marina, Pepeu Gomes e Baby Consuelo,Rita Lee, Ritchie e Vinícius Cantuária.
  • Algunssucessosinternacionais – Madonna, Michael Jackson, A-Há, The Bolshoi, Bruce Springsteen, Cindy Lauper, Culture Club, The Cult, The Cure, David Bowie, Dire Straits, Eric Clapton, George Michael, james Taylor, Kiss, Lionel Richie, Nina Hagen, Paul McCartney, Phil Collins, The Police, Prince, Queen,U2, Rod Stewart, Simple Minds, Simple Red, Tears for Fears, Supertramp, Sting, The B-52’s, Duran Duran, Go Go’s, Genesis, UF40, Men at Work e  Tina Turner.

 

 

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