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Trekking, a natureza aos nossos pés

seg, 28/09/2015 - 15:16 -- Shopping Plaza Macaé
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Fábio Santos
trilha do Arranchadouro na serra de Macaé

Domingo, cinco da manhã. Hora de acordar, arrumar a mochila, calçar um tênis confortável, vestir uma roupa leve e encarar uma trilha de 6km. Dentro da mochila roupa seca, barras de cereais, frutas, água, protetor solar, repelente, boné e câmera fotográfica.

Essa é a rotina dos amantes do trekking, uma modalidade esportiva e recreativa que vem atraindo cada vez mais adeptos em Macaé. No roteiro, trilhas por áreas descampadas, matas, riachos e picos. Alguns deles, inclusive, pontos turísticos da cidade e também da região.

Foto: Júnior Costa

praticantes de trekking

O contato com a natureza é o maior atrativo para os praticantes do esporte. Basta iniciar uma conversa com um deles, para logo ficar tentado a participar de uma aventura. Por isso, a revista DiverCidades saiu da sala com ar-condicionado, calçou o tênis, caiu da cama às cinco da madrugada e vivenciou um pouco desta experiência única, para dividir com seus leitores.

O destino, Arranchadouro, uma trilha de 6,11km, na localidade entre o Frade e o Sana, dois dos principais distritos da região serrana de Macaé. Foram 20 participantes guiados por Erik Johansson, fundador do grupo Ponto da Aventura. No caminho, o primeiro desafio, passar no meio de um pasto e por um grupo de vacas com cara de poucos amigos. Um peão precisou intervir e tocar parte do rebanho do caminho.

Daí para frente, foi emoção e adrenalina. Esquivar de espinhos, pular nascentes, desviar de árvores e troncos caídos, se embrenhando na mata. Mas, a primeira parada recompensou a metade do percurso. Uma pequena cachoeira, entre pedras e matas, de água cristalina.

“Pessoal, aproveitem. Descansem, lanchem e tomem banho à vontade. Temos meia hora para aproveitar essa primeira parada. Depois disso, vamos seguir por dentro do rio até a próxima cachoeira”, avisa o nosso guia.

Hora de voltar a caminhar. Dentro d’água, passando por pedras, galhos, espinhos e pedras escorregadias. Tombos e risadas foram inevitáveis. Escorregar por enormes pedras também fazia parte do pacote. A trilha sonora foi o barulho da água e os pássaros cantando. Coube ao sol o desenho entre as árvores apontando o caminho a seguir. Uma hora depois, já estávamos na cabeceira da cachoeira com correnteza forte e convidativa. Achar a forma de descer entre a mata e não escorregar foi o maior desafio. De longe, parecíamos um bando de calangos ao sol se bronzeando, mas de perto, os mais corajosos viram a força da água e temperatura de fazer arrepiar antes mesmo de ter a pele molhada. O repórter, bem, esse preferiu registrar e admirar a coragem dos poucos que se atreveram a subir entre as pedras e sentar sob a queda d’água. 

“Comecei no esporte, há dez anos, por querer ter contato com a natureza e me aproximar ainda mais dela. Nos encontramos todos os fins de semana e nos feriados para atividades como trilhas, caminhadas, trekking e outras aventuras como slackline, andar de patins e skate”, explica Erik. 

Trekking é uma palavra de origem sul-africana e quer dizer caminhar junto aos trilhos. O conceito, no entanto, nos dias atuais, vai muito além do significado da palavra. A história acima, inclusive, deixa isso muito claro. Os encontros da turma do ‘Ponto de Aventura’ são organizados com antecedência, com calendário fechado e trilhas definidas com meses de antecedência.

Foto: Fábio Santos

pedra do peito do pombo em Macaé

Além de ter história para contar, os participantes garantem fotos incríveis. Dez anos após começar sozinho, Erik disse que a motivação em continuar vem do crescimento do grupo e do contato constante com a natureza. Por isso, ele faz questão de compartilhar experiências com outras pessoas e tentar atrair novos adeptos. Porque, segundo ele, não há contraindicação.

 

“O que me motiva é o contato com a natureza que é indescritível. Atualmente, o que tem motivado a propor atividades e trilhas diferentes é o crescimento do grupo. Ver pessoas se motivando, criando corrente, trazendo novos adeptos. Juntos, vamos planejando novos destinos”, comenta o guia.

Em dez anos de experiência, o que não falta para Erik são histórias para contar. Sustos, no entanto, também fazem parte da memória do guia. “Uma vez, na subida para o Pico do Peito do Pombo, nós não conseguimos concluir a trilha. Isso aconteceu porque uma pessoa passou muito mal e voltamos. Ela era experiente e tinha ótimo condicionamento físico, mas comeu um bolinho de bacalhau e não conseguiu terminar a trilha. Tivemos que improvisar uma maca e trazê-la de volta. Nesse período todo, foi o único momento difícil pelo qual passamos”, relembra.

Praticar o trekking em grupo é fundamental por situações como essas, segundo Erik. Em momento de dificuldade, lesão ou acidentes, estar em grupo faz a diferença. O discurso foi adotado depois de fazer uma trilha sozinho e à noite.

Foto:Luís Eduardo

praticantes de trekking em macaé

 “Pouco antes de ter a ideia de criar o grupo, no início deste ano, subi o Pico do Peito do Pombo. Foi uma noite de lua cheia, cheguei ao topo por volta das quatro da manhã e vi o nascer do sol lá de cima. Foi um momento único, espetacular. Encarei o desafio de fazer a trilha sozinho, mas isso não deve ser feito”, alerta.

A sensação de ver o nascer da manhã ou de testemunhar o surgimento da lua cheia fez com que Pedro Matheus Freitas, de 19 anos, entrasse para o grupo. Ele é o caçula da turma, fez apenas quatro passeios, mas foi o suficiente para se encantar e garantir que não vai mais parar. Pedro disse que se soubesse como é bom ter contato com a natureza e ver de perto um amanhecer já teria iniciado a atividade há muito mais tempo.

“Comecei para ter contato com a natureza, assim como todos nós, creio. Minha primeira trilha foi para a Cachoeira da Andorinha, no Sana. Não acreditava muito quando falavam do que viam lá. Não dá para explicar essa sensação, realmente. É preciso ir até lá e ver de perto. A caminhada é longa, mas o grupo é bom e sempre nos motivamos. Me sinto muito bem fazendo trekking porque saio de casa, conheço pessoas novas e ainda pratico atividdade física”, comenta Pedro.

Essa sensação de liberdade e o contato direto com a natureza é o que liga os aventureiros de diversos grupos. As diversas histórias para contar ficam cravadas na memória. Quando isso é documentado então. Basta uma folheada no arquivo de 1989, para várias histórias surgirem e gargalhadas acontecerem. 

 

É assim com Léo, Magoo e Caoca. Ou Leonardo Ramos, Carlos Magno e Luis Eduardo, como foram batizados e registrados. Porém, os nomes formais não são conhecidos pelas trilhas do Rio. Léo e Magoo são amigos desde a infância e Caoca surgiu ao longo da vida. São parceiros de trilha desde 1989, quando tiveram a ideia de criar o ‘Trilhar Aventuras’, grupo que já chegou a ter mais de 200 integrantes.

Hoje, o Trilhar Aventuras está se reorganizando e possui 60 integrantes em atividade. Além de fazer os picos e trilhas mais conhecidas na cidade, também organiza passeios pela região, por todo o país e até para o exterior. A Pedra Riscada, em Lumiar; a Serra de Ibitipoca, em Minas Gerais; e a Torre Del Paine, no Chile, são alguns dos destinos já trilhados pelo grupo.

Mas, o que estes amantes da natureza gostam mesmo é de desbravar novos roteiros na serra macaense, como a “Janela do Mar”, nome criado pelo grupo para o lago formado por uma cachoeira de, aproximadamente 50m, localizada no alto da Serra da Peroba, que tem 600m de altura. Local registrado na foto do grupo que acabou ilustrando a capa desta edição. Segundo Caoca, em dias claros, a cachoeira pode ser avistada de alguns pontos de Macaé. Pela foto, a sensação que se tem é de uma piscina de águas transparentes com fundo infinito, mas com uma vista privilegiada da Serra do Carijó, ao lado esquerdo, e do litoral macaense ao fundo. “Apesar de já ser conhecida pelos moradores da região, a trilha da Janela do Mar foi conquistada pelo grupo com muito trabalho e paciência. Foram quatro tentativas para chegarmos até o objetivo final. Batizamos o feito de ‘Operação Quati’, em homenagem ao nosso guia local, que tinha como apelido o nome do bicho”, comenta Caoca.

Histórias engraçadas, de tirar o fôlego, são com eles mesmo. Foi só perguntar se eles se lembravam da primeira trilha feita juntos para começar a sessão de gargalhadas. Caoca foi logo se lembrando da primeira vez, após três tentativas frustradas, de subir o Morro São João, pico rochoso de 816 metros de altitude, considerado como um vulcão extinto, capaz de ser visto de Macaé, Rio das Ostras e Cabo Frio.

Foto: Luís Eduardo

pessoa escalando“Tentamos três vezes e nada. Andamos muito nas três oportunidades e nunca conseguimos chegar até o pico, nem perto dele. Uma vez, fiquei sabendo de um grupo do Rio que iria subir. Ficamos esperando, vigiando quando começariam a trilha. De repente, aparecem uns caras de bermuda, chinelo de dedo e camisa regata. Não acreditávamos que iriam chegar ao local onde não conseguimos. No início da trilha, eles afastaram uma moita e atrás dela estava o caminho certo para o Morro São João. Rimos muito e ficamos bravos ao mesmo tempo, mas conseguimos finalmente chegar até o pico”, recorda Caoca.

Léo e Magoo também guardam uma história em especial. Foi durante a madrugada, no topo do Pico do Peito do Pombo. Léo conta que foi acordado pelo amigo apreensivo. Tinha visto uma coisa estranha próximo ao acampamento, com dois olhos brilhantes.

“Magoo estava tremendo, agitado. Apontou para uma moita perto da trilha e disse que tinha uma ave que brilhava no escuro. Logo imaginei ser uma brincadeira dele. Olhei para a moita e também vi. Me arrepiei na hora, pois lembramos do filme Predador, que estava em cartaz na época e ficamos a noite toda em claro, sem coragem de dormir. Pela manhã, tomamos coragem e fomos ver o que era. Quando chegamos perto, vimos que era um plástico colorido, agarrado na moita, sendo balançado pelo vento e refletindo a luz da lua cheia”, lembraram aos risos.

Mas é Magoo quem tem um carinho especial pelo Pico do Peito do Pombo. Afinal, foi durante a trilha Cachoeiras do Sana, que ele conheceu a esposa Alba Valéria. Os dois continuam caminhando e desbravando juntos as trilhas e a vida. “Conheci minha esposa durante a organização da trilha para o Peito do Pombo. Estamos juntos até hoje e ela continua fazendo trilha comigo”, lembra Magoo.

Picos mais conhecidos

Pico do Frade
Com 1.429m é o maior pico do município e o mais concorrido entre os trilheiros. A beleza natural da pedra pode ser vista do litoral macaense e, no passado, foi referência para navegantes, segundo a história da cidade. O Pico do Frade fica a 56 km do Centro. O tempo de trilha para chegar até o ponto mais alto é de três a cinco horas e o nível de dificuldade é considerado alto, de acordo com os guias.

Pico do Peito do Pombo
Visto por alguns ângulos, o pico tem o formato de um pombo pousado sobre uma rocha. Possui 1.120m de altitude e fica no Sana. Para chegar ao local é preciso seguir trilhas entre mata fechada e rios. O tempo estimado de percurso é de três a seis horas de caminhada em ritmo moderado e o nível é considerado entre médio e difícil.
Pico da Bicuda Grande
O tempo estimado para chegar ao topo é de três horas. O pico possui aproximadamente 1.200m de altitude e, segundo o guia Erik Johansson, o nível de dificuldade da trilha é moderado, de caminhada leve, sem muitos obstáculos.

Pico da Bicuda Pequena
Possui pouco mais de 1.100m de altitude e tem como característica a subida em campo aberto, alguns pontos de mata e riachos. O tempo de trilha é de três horas e o nível é considerado difícil.

Morro São João
Possui 816m de altitude. Do topo, podem ser vistos os municípios de Rio das Ostras, Cabo Frio e Búzios. São cerca de 2 horas e 45minutos de caminhada na Mata Atlântica nativa O nível de dificuldade é moderado. Muitos rios e água de nascente refrescam o calor da caminhada. As saídas, sob agendamento, costumam ser às 7h, a partir da Fazenda São João, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural. 

Pedra da Roncadeira
Possui pouco mais de 1.300m de altura e tem como característica o barulho que o vento faz ao bater na pedra. Parece um ronco de uma pessoa dormindo. Como venta muito no local, os guias recomendam atenção redobrada durante a trilha, com duração de cinco horas. A caminhada leva em média 1 hora e 40minutos e o nível de dificuldade é moderado.

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