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Eles venceram o Covid-19

seg, 28/09/2020 - 17:50 -- Juliana Carvalho
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Fotos Alle Tavares
“Passamos por um  período de preocupação e desespero, pois toda a minha família ficou doente, apesar de todos apresentarem apenas sintomas brandos da doença, incluindo meu marido e minha irmã”, relata Marcela

No fim de fevereiro, o Brasil assistia o que, até então era realidade somente no exterior, começar a fazer parte da vida dos brasileiros, com a confirmação do primeiro caso de coronavírus no país. De lá para cá, o vírus literalmente se espalhou por todo o território nacional. Em março, Macaé entrou nas estatísticas e começou o enfrentamento contra essa doença, que mudou a vida de todos para sempre. Apesar de várias vidas perdidas, encontramos histórias positivas de superação e de vitória contra a Covid-19 para compartilhar com vocês.
O alívio de ter vencido e superado esta nova doença, se mescla aos sentimentos de incerteza diante do desconhecido e uma nova forma de ver a vida. Assim, Karina Schueler, Chef Russo, Marcela Borges, Luiz Geraldo e Gleison Guimarães dividiram conosco suas histórias.

Karina Schueler: o estigma do primeiro caso confirmado em Macaé

O ano de 2020 ficaria marcado para sempre na memória de Karina Schueler, a princípio, por ser o ano do nascimento de seu segundo filho, o Enzo. Mas, quando lembrar de 2020, Karina também irá pensar nele como um dos mais difíceis de sua vida. Em março, ela ficou marcada por ser o primeiro caso notificado de Covid em Macaé. Com o agravante de ter um bebê de apenas 13 dias e estar vivendo o turbilhão de emoções do pós-parto. “Logo após o nascimento do Enzo, eu e meu marido apresentamos sintomas de gripe. Ele se recuperou, mas eu não. Comecei a me sentir muito fraca e como essa questão do coronavírus ainda era muito nova, eu não podia imaginar que, de fato, estivesse com a doença”, relembra Karina que é médica ginecologista e mastologista. Karina foi orientada por médicos infectologistas, mas com a piora de seu quadro e a confirmação de uma pneumonia, a internação foi inevitável. “No momento que eu soube que eu poderia estar com Covid e precisei ser internada, o sentimento que mais me rodeava era o medo. Medo da morte, de não saber o que iria acontecer comigo. Fiquei três dias internada, em isolamento e com um bebê recém-nascido, que eu queria amamentar, em casa”.


Após o período de internação, Karina manteve o isolamento domiciliar, mas o pesadelo estava longe de terminar, já que seus pais também foram diagnosticados com Covid. Atualmente, com a família toda recuperada, Karina se emociona ao relembrar dos momentos de aflição pelos quais eles passaram. “Eram muitas as incertezas, não foi uma experiência nada fácil. Ainda tive que lidar com o receio do bebê não voltar a mamar no peito, por conta do tempo que ficou na mamadeira, mas, graças a Deus, consegui voltar a amamentá-lo”, afirma.

 

Marcela Borges e a passagem do corovírus por toda a família

Sempre atenta às questões de saúde, Marcela estranhou os primeiros sinais de alerta do seu corpo, que vieram por meio de um desarranjo intestinal. “Assim que eu percebi que havia algo estranho, entrei em contato com o meu médico, Dr. Gleison Guimarães, que me orientou para fazer um exame de sangue. O exame apontou que havia uma infecção de algum vírus. Por estarmos em meio a uma pandemia, ele solicitou, então, que eu fizesse o PCR (exame que detecta a presença do coronavírus por meio da coleta de amostras feita nas vias respiratórias, nariz e garganta) para tirar a dúvida. Quando eu peguei o resultado e vi que deu positivo, o primeiro sentimento que tive foi medo. Eu chorei muito. Depois de falar com o médico e me tranquilizar, contei para os meus pais”, lembra.


Marcela havia estado com os pais há pouco tempo e, logo depois, eles relataram alguns sintomas. Acabaram fazendo o teste e ambos também deram positivo. Aí, veio o outro alerta, porque sua mãe teve contato com a avó de 84 anos e, ao fazer o teste, também foi confirmada a doença. “Passamos por um  período de preocupação e desespero, pois toda a minha família ficou doente, apesar de todos apresentarem apenas sintomas brandos da doença, incluindo meu marido e minha irmã”, relata Marcela, que ainda teve cuidado extra para não causar pânico nos seus três filhos, evitando o acesso às notícias da mídia perto deles. Outra estratégia foi fugir das redes sociais e outras mídias como forma de evitar notícias sensacionalistas. “Vivenciamos uma bola de neve de insegurança com todos da família convivendo com a Covid. Agora, é vida que segue, tomando, é claro, todas as medidas de proteção e cuidado, pensando na gente, e também no outro”, revela Marcela, acompanhada de seu marido Henrique Streichan.


Chef Russo e a luta pela vida

José Ricardo Gonçalves é conhecido como Chef Russo. Proprietário de um restaurante em Macaé, no início de junho, Russo começou a sentir os primeiros sintomas e, dias depois, foi internado para uma luta árdua pela vida contra o coronavírus. “Inicialmente, eu senti a garganta ficar ruim, tive febre e, como meu estado só piorava, na segunda vez que eu procurei o hospital, já fiquei internado”, conta.

Foram 21 dias de internação, sendo sete entubado. “Não lembro muito bem de todos os detalhes, mas eu me recordo que, quando estávamos a caminho de lá, prometi para minha esposa que iria lutar pela vida”, recorda-se emocionado. O comprometimento da equipe e a sensibilidade de reconhecer esse momento de internação em que o paciente fica privado das visitas dos familiares, foram, para Russo, importantes diferenciais em seu processo de recuperação. “Ali dentro, recebi muito carinho, cuidado e motivação. A gente fica fraco e frágil, eu já estava no limite do meu corpo. E, às vezes, apenas com um gesto das pessoas que cuidavam de mim, eu acabava me sentindo mais forte, sentia de verdade que conseguia pegar a força que eles transmitiam para mim”, destaca ele, que chegou a perder 24 quilos durante o período de internação.


A jornada de Russo mobilizou uma corrente de orações e vibrações positivas em prol de sua recuperação. “Foi uma experiência que mudou completamente a minha visão de mundo. Você percebe o quanto há de gente boa ao seu redor. Quando você tem uma vivência dessas, não tem como não fazer uma reflexão sobre as coisas da vida. Passar por isso faz você repensar tudo”, reflete Russo.


Luiz Geraldo: as aflições de ser diabético, infartado e estar com Covid

Prestes a completar 53 anos em outubro, Luiz Geraldo da Silva já convivia com duas condições de saúde delicadas: o fato de ter sofrido um infarto há 8 anos e ser diagnosticado com diabetes há mais de 10 anos. Trabalhando no Aeroporto de Macaé como coordenador de operações de uma empresa de táxi aéreo, no início de maio, quando os primeiros sintomas de febre, cansaço e dor no corpo apareceram, ele não pensou duas vezes e procurou logo o hospital. “Eu e minha esposa fizemos o teste e o resultado de ambos deu positivo, sendo que ela não apresentava nenhum sintoma. Assim que saiu o resultado, corremos atrás de um médico especialista que realizou minha internação no mesmo dia”, conta ele que ficou 10 dias internado, recebendo tratamento que incluiu fisioterapia respiratória.


Luiz teve que lidar ainda com o trauma recente da morte de seu irmão por Covid. “Eu internei 35 dias após meu irmão ter morrido com essa doença. Foi uma aflição muito grande para mim e para toda a família”, relembra, afirmando que se manter afastado das filhas e da esposa foi outro fator difícil de lidar. “Nunca havíamos nos separado antes. Minha esposa em casa fazendo isolamento domiciliar e as meninas (são três filhas, de 23, 17 e 8 anos) foram para um sítio em Quissamã”, conta. 
Com a resposta positiva ao tratamento e as taxas voltando ao normal, Luiz recebeu alta. “Eu tinha medo de pegar a Covid, porque sabia que para mim seria mais difícil do que para outras pessoas. A gente passa por isso e aprende a dar mais valor para nossa família e a não dar tanta importância aos problemas corriqueiros do dia a dia”, destaca.

 

Dr. Gleison Guimarães, o médico que também virou paciente

Gleison Guimarães é médico, pneumologista e tem sido incansável na luta contra o coronavírus. Além do tratamento de seus pacientes, doutor Gleison utiliza as redes sociais como forma de democratizar o acesso a informações sobre a doença. “O coronavírus é uma doença que pode atingir diferentes tecidos corporais, por isso, existe uma gama de sinais e sintomas que o indivíduo pode desenvolver, mas há alguns sintomas que são mais marcadores e que indicam, inclusive, o prognóstico de maior ou menor chance do paciente necessitar de internação. O diagnóstico precoce e o acompanhamento adequado de cada caso, facilita o gerenciamento de risco que é feito pelo médico, por meio da avaliação de inúmeros indicadores”, explica Gleison.

O médico, que se tornou referência no assunto, coordena um grupo de estudo  juntamente com a UFRJ e acredita que a vacina possa ser algo real, ainda este ano, no Brasil. Até lá, com a retomada progressiva das atividades econômicas, Gleison é taxativo sobre a importância do uso de máscara por todos, como medida de contenção da disseminação da doença.
No final de julho, Gleison sentiu na pele a experiência de testar positivo para o coronavírus. “Eu e Michele Monteiro, minha esposa, tivemos sintomas diferentes, mas, na mesma época. Após a confirmação do exame, a gente fica um pouco angustiado, nessas horas não é tão bom ser médico e saber de todas as implicações que a doença pode trazer. As taxas da Michele vieram com algumas alterações, o que foi prontamente tratado, sem maiores complicações. É impossível passar por isso sem dar mais valor à nossa interação com as pessoas, às nossas relações e também à nossa comunidade, seja no cuidado e tratamento, enquanto profissional de saúde mas, acima de tudo, como ser humano”, conclui.

 

O coronavírus e as mudanças na rotina hospitalar

Por conta da pandemia, ir ao hospital por qualquer razão além do coronavírus, se tornou motivo de pânico e temor para muitas pessoas. Com uma doença altamente contagiosa, as unidades de saúde precisaram se readequar, rever protocolos e, até mesmo, mudar a infraestrutura física, como é caso do São Lucas Hospital de Clínicas que passou por obras para criar uma ala exclusiva para atendimento a pacientes com Covid, além de recorrer à tecnologia. “Em conjunto com Fumio Araki, que é engenheiro clínico em São Paulo, e a arquiteta macaense Heloísa Carneiro, o hospital adotou o sistema de filtros Hepas. Esses filtros geram uma pressão negativa dentro do quarto, diminuindo o risco de disseminação da doença para o ambiente externo. Isso permitiu a realização de procedimentos que reduziram a necessidade de entubação e, por consequência, a mortalidade”, detalha a Coordenadora do Setor de Controle de Infecção Hospitalar da unidade, Michele Pinto.
"O novo coronavírus mudou a dinâmica de vidas ao redor do mundo. Os estudos científicos continuam intensos em busca de respostas efetivas para a prevenção de algo que trouxe à tona toda a fragilidade do que se tinha como realidade e, definitivamente, mudou o conceito do que entendíamos por “ida normal”, finaliza. 

Texto Juliana Carvalho

Edição nº 53 - Setembro/2020

 

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