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Entrevista com gestores do Hospital São João Batista, de Macaé

ter, 27/12/2016 - 17:55 -- Divercidades
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Alle Tavares
Homens em frente ao Hospital São Jõao Batista

 

O cirurgião plástico Luis Porto assumiu o cargo de provedor da Irmandade que administra o Hospital São João Batista em 2013 e, junto dele, outros quatro médicos compõem o Conselho Gestor: Glauco Miranda, vice-provedor; Vinícius Antunes, diretor administrativo; Flávio Antunes, diretor técnico e Cícero Costa, diretor financeiro. A gestão atual encontrou o mesmo desafio que as passadas, administrar a dívida que o hospital possui, causada ao longo dos anos pelo déficit da tabela SUS, recuperar a credibilidade junto aos fornecedores, pagar os salários dos funcionários em dia e continuar mantendo a qualidade da assistência. E, quer ainda, mostrar que o São João Batista merece ser lembrado, sempre, primeiro pela qualidade dos serviços de saúde que presta à população.

Em meio a tanta tradição, o hospital de 149 anos busca se modernizar. Como provas tem o Centro de Oncologia, inaugurado em 2013, a compra recente de um tomógrafo e o reconhecimento da qualidade da assistência nos serviços de cardiologia, que são tidos como de referência pela Secretaria Estadual de Saúde. A história do centenário hospital geral, que possui aproximadamente 150 leitos e atende tanto os pacientes do SUS quanto os conveniados e particulares, mostra que, desde sua fundação, mantém um vínculo forte com a sociedade e continua precisando dela, para continuar assistindo a todos.

DiverCidades: O Hospital São João Batista sempre foi uma referência muito forte em saúde na cidade. Na opinião de vocês, a que se deve essa relação de confiança que a população credita ao hospital?

homem sentado dando entrevistaLuis Porto: Pra mim é o seguinte, por exemplo, meus filhos nasceram aqui, eu sou médico, trabalho dentro do hospital e se eu trago a minha esposa pra fazer o parto aqui, o meu vizinho vê isso e diz: se o Luis Porto leva a esposa dele pra fazer parto lá é porque vai atender a todas as expectativas técnicas e profissionais dele. E assim, acontece com outros médicos. E a outra coisa é que os médicos que trabalham aqui são qualificados, têm que ter o título de especialista. O São João Batista é um hospital geral, que tem serviço de especialidades médicas clínicas e cirúrgicas diversas, dando destaque ao serviço de assistência oncológica que é muito importante porque isso é coisa rara. E também com destaque para a cardiologia, cirurgia cardíaca e o serviço de hemodinâmica.

Vinícius Antunes: Os serviços de cardiologia são referenciados pelo Estado do Rio e vários pacientes de outras cidades são encaminhados pela Secretaria Estadual de Saúde para cá, para fazer os procedimentos de hemodinâmica ou cirurgia cardíaca. Os pacientes também agradecem muito porque todo dia de manhã são visitados pelas Irmãs do Horto (que é uma irmandade de freiras que participa do acolhimento dos pacientes, de forma voluntária). Elas ajudam na assistência e criam um ambiente materno e acolhedor.

O Hospital chama muita atenção também pela sua arquitetura e história. Conte um pouco da história deste patrimônio.

Luis Porto: Teve um projeto de tombamento daquela parte da frente do hospital, mas esse tombamento não foi concluído. Nós pensamos em fazer uma restauração do prédio histórico, que teria a participação de órgãos como o IPHAN e um outro órgão que permite captar recursos da iniciativa privada, com incentivo fiscal, para reforma de prédios históricos, um pouco parecido com a Lei Rouanet. Existe uma legislação própria e nós buscamos, mas para isso o prédioprecisaria estar tombado. Então, nós iniciamos o processo de tombamento, mas não foi concluído. Não é que a gente não tenha interesse nisso, mas é que o projeto acabou se perdendo. Não desistimos, mas é um processo bem complicado, precisaríamos contratar uma equipe de arquitetos que demandaria um investimento alto. O São João Batista tem muita história. Um português doou um terreno e convocou a sociedade para contribuir com a construção do hospital. E a sociedade e os comerciantes da época participaram com as doações. A sociedade já nos acolheu mais. Hoje, o nosso sonho é que a sociedade abrace mais o São João Batista, porque esse é um hospital de todos e para todos.

Num hospital centenário, de tanta tradição, tem espaço para a modernidade?

Luis Porto: Sempre. A medicina caminha junto com a evolução tecnológica. Nós acabamos de adquirir um tomógrafo, de necessidade absoluta. Hoje, a gente precisa de alguns exames que facilitam muito na parte diagnóstica. Isso tudo é muito caro. Então, a pessoa que resolve doar alguma coisa para o hospital está doando para ajudar a comprar um equipamento desse que vai servir para atender a ela própria ou a família dela. O tomógrafo está sendo instalado. Ele custou R$ 1 milhão e essa quantia é muito dinheiro pra gente, corresponde a uma folha de pagamento (dos funcionários) mensal. Temos hoje 478 funcionários. Um dos nossos grandes desafios é fazer investimento em tecnologia e se manter ainda prestando assistência para todos, indiscriminadamente, porque o custo da assistência médica vem aumentando progressivamente e a remuneração, tanto via convênio quanto via SUS, é sempre inferior à necessidade.

homem sentado dando entrevistaVinícius Antunes: Gerenciar saúde de qualidade é sempre um cobertor curto. Em 2015, 70% de toda a assistência prestada no hospital foi para o SUS. Apenas 30% foram para pacientes não SUS. A tabela do SUS é uma tabela deficitária, nós estamos sempre recebendo aquém do que gastamos na assistência e aí nós temos um contrato com a Prefeitura de Macaé que complementa os recursos federais com mais uma tabela, porque se não tivesse isso, o hospital já teria fechado as portas. Essa tabela reduz o déficit financeiro que a tabela do governo federal deixa. Só para se ter uma ideia, a última vez que a tabela do SUS foi reajustada foi em 1996. Pela tabela, uma consulta médica custa R$ 10.

Como está a situação financeira do hospital?

Luis Porto: Equilibrada. Mas estamos sem capacidade de investimento. Nós poderíamos melhorar as instalações prediais, poderíamos criar novos leitos de terapia intensiva, poderíamos fazer uma reforma no centro cirúrgico, apesar dele estar bem equipado. Tudo que é essencial para a assistência qualificada, nós conseguimos trazer para o São João Batista, mas a gente quer sempre avançar mais. Queremos dar mais conforto aos pacientes, criar leitos, colocar mais banheiros, instalar condicionadores de ar, melhorar a acessibilidade, trazer novos equipamentos de diagnósticos. Estamos equacionando dívidas antigas, portanto, hoje temos os custos do dia a dia e as dívidas antigas, então não tem sobrado tanto para investir.  Dívidas antigas geradas pelo déficit da tabela SUS, isso não foi por questão de gestão. Todos os antigos provedores foram heróis, eles conseguiram manter tudo funcionando apesar do déficit orçamentário. Sobre as dívidas antigas, é tudo negociado. O hospital recebe mês a mês e o dinheiro vai para pagar as dívidas, pagar os funcionários e pagar os fornecedores. Um dos maiores méritos da gestão atual foi conseguir recuperar a credibilidade junto aos fornecedores, honrando com as dívidas. Nós conseguimos isso mostrando para o município o tamanho do déficit que é prestar assistência ao SUS, e aí o contrato com a prefeitura com a tabela complementar, minimizou o prejuízo.

Atualmente, quais são as formas que a população tem de colaborar com o hospital?

Qualquer pessoa que queira ajudar o hospital, pode fazer isso através da conta de luz. Existe um programa que a Ampla (que agora se chama Enel) fez em parceria com o São João Batista, para as pessoas doarem de R$ 5 a R$ 60, na conta, que vai ser revertido para o hospital para pagar a dívida antiga que temos com a concessionária e outra parte da doação vai ajudar a pagar a conta de luz atual. O gasto energético aqui é grande, o nosso item de maior custo é a energia elétrica. E a companhia teve a sensibilidade de entender isso, que precisava participar na sustentabilidade do São João Batista. Esse projeto é uma forma simples e segura que a população tem para ajudar, mensalmente, sem comprometer muito o orçamento. A pessoa escolhe quanto quer doar e por quanto tempo quer doar, e é confiável. Pra gente, é fundamental a transparência em qualquer doação que venha nos contemplar. Às vezes empresários querem doar dinheiro, mas a gente prefere que doem um equipamento nós preferimos. Nós já tivemos parcerias de empresas como supermercados que ajudavam muito, eles doavam 90% da nossa alimentação. Então, também tem empresas que eventualmente fazem doações. Mas nossos grandes parceiros são os médicos que doam para o hospital também, que muitas vezes doam o seu trabalho. Eles são grandes parceiros.​

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