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Mães da superação

qua, 22/04/2015 - 15:59 -- Fernanda Candal
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Alle Tavares
kassandra com sua filha liz bailarina

Luzanira, Kassandra e Mariliza não se conhecem. Uma é fluminense, a outra mineira e a última paulista. Se não morassem na mesma cidade, tivessem a mesma faixa etária ou fossem mães, poucas seriam as semelhanças. Mas um fato em comum as une: a superação. Todas têm em suas histórias de vida um misto de esperança, alegria e
determinação que as faz caminhar diariamente em direção à felicidade.

Luzanira, seguindo em frente, sem olhar para trás

mulher cadeirante com dois filhosLuzanira de Souza e Souza, 38 anos, teve uma paralisia infantil aos três meses, que a impediu de andar. Em uma cadeira de rodas desde sempre, ela aprendeu a lidar com as adversidades que a vida lhe impôs. “Como nasci assim, tudo que eu aprendi a fazer foi em cima de uma cadeira de rodas, então, nunca encontrei dificuldades para nada”, conta. Quando tinha 15 anos, recebeu um diagnóstico que não poderia ter filhos, porque tinha um útero pequeno. Aos 19, se casou e dois meses depois descobriu que estava grávida. A gestação, que a princípio era considerada delicada, foi tranquila. O filho Maicon Douglas nasceu de uma cesariana. Meses depois, se separou e se casou
novamente. Não demorou muito e engravidou de novo, dessa vez de uma menina, a Quetelin.

“Minhas duas gestações foram ótimas. Quando meus filhos nasceram, fazia tudo: dava banho, lavava suas roupinhas, arrumava a casa. Tive dificuldades como qualquer outra mulher teria, mas nada que fosse impossível de realizar. O que eu não conseguia fazer, pedia ajuda à minha mãe ou ao meu marido”, diz ela, que ensinou os filhos a andarem de uma forma bem inusitada. “Colocava eles para se segurarem na minha cadeira, que servia como uma espécie de andador. O método deu tão certo que aos nove meses os dois já andavam”, gaba-se.

Atualmente, ela é proprietária de um pequeno comércio no bairro Virgem Santa. Animada, gosta de dançar e jogar basquete no time paraolímpico de Macaé. Seu tempo ainda é dividido com os cuidados com a mãe adoentada. “A gente tem que ser do jeito que é. Nunca dei confiança para o que falam de mim. Se alguma coisa não deu certo, bola para frente. Nunca devemos desistir de nada. Esse é o meu lema para ser feliz.”

Kassandra, o milagre da criação

A técnica de enfermagem Elisângela Kassandra Gomes Claro Magiolo, 37 anos, sempre sonhou em ser mãe, por isso, assim que casou não demorou muito para realizar o  desejo. A descoberta da gravidez veio junto com outra notícia que traria uma mudança radical em sua vida. Um câncer de mama. A doença constatada aos três meses de gestação, não trazia riscos para o neném, porém deixava Kassandra bem fragilizada. “Era como se fossem dois pesos e duas medidas. Enquanto vivia o momento mais feliz da minha vida, eu passava pela pior coisa do mundo”, conta ela, que já havia perdido a mãe com o mesmo problema.

Kassandra fez uma mastectomia radical de uma das mamas e parte do tratamento da quimioterapia foi feito durante a gestação. “Foi um período muito difícil. Durante algum tempo, nem era fácil me olhar no espelho, pois também havia perdido os cabelos. A minha fé foi o respaldo para que eu pudesse agüentar toda aquela situação”, lembra.

A pequena Liz nasceu no tempo certo, com 39 semanas e perfeita. Quinze dias após o parto, a técnica de enfermagem voltou a fazer a quimioterapia. Logo depois, começou na radioterapia.  O tratamento acabou quando a menina estava com 1 ano e meio, e Kassandra foi diagnosticada curada.

“Aprendi a me tornar um ser humano melhor. Sempre acreditei na cura, pois confio muito em Deus. Durante esse tempo, contei com o apoio do meu marido Dirceu. Ele me ajudou em tudo. Enquanto, durante o tratamento, eu me  achava feia - imagina sem uma das mamas e cabelos - , ele dizia que estava linda. Ele me via com os olhos do amor e isso me ajudou a superar esse momento difícil”, conta emocionada.

Hoje, Liz tem dois e meio, e Kassandra já voltou a trabalhar. Ela agora se prepara para um próximo desafio: ser mãe novamente. Os nomes já estão  até escolhidos: Miguel ou Letícia. “A minha filha me salvou antes mesmo de nascer. Só tenho a agradecê-la por tudo que fez por mim antes dela vir ao mundo”, afirma. Louise visitou, junto com os amigos do intercâmbio, a London Eye (espécie de roda gigante que fica em Londres, na Inglaterra) Dilza Taranto, da Petrobras, segue um estilo mais despojado e aposta nas cores para conferir mais leveza ao visual.

Mariliza, “matando um leão por dia”

mariliza com sua filh autistaA jornalista Mariliza Rodrigues de Souza, ou simplesmente Liza, tem 37 anos. A  maternidade nunca foi um dos seus projetos de vida. “Como sempre soube que tinha uma má formação do útero e que, por isso, poderia não engravidar, não alimentava muito o desejo. A vontade só começou depois de completar 30 anos. Talvez por isso, a notícia da gravidez foi recebida com surpresa”, fala.

A felicidade veio acompanhada de uma série de cuidados que ela deveria ter durante esse período: repouso total e nada de estresse. O que ela perceberia, futuramente, que seria o início de uma série de superações pelas quais passaria. A pequena Alice não demorou muito a nascer. Chegou ao mundo com 31 semanas, ficando na Unidade de Tratamento Intensivo um pouco mais de um mês.

Os cuidados com a menina eram comuns aos bebês prematuros. Fisioterapia e visitas mensais ao pediatra para acompanhar o desenvolvimento. Aliados ao trabalho diário dela como jornalista e as idas e vindas à creche para deixar a neném. Em meio a esse corre-corre normal dos tempos modernos, Liza recebeu a notícia que a filha era autista. “Foi uma surpresa estranha. É um mundo que a gente nunca escuta falar até passar por ele. Um misto de preocupação com muita novidade, ensinamento e descobertas diferentes. No fundo é interessante, uma realidade bem fora do comum”, explica.

O dia a dia da jornalista não é dos mais fáceis. Sem familiares por perto para ajudar, ela se desdobra junto com o marido Rômulo nas atividades que a filha precisa fazer: fonoaudiologia, terapia ocupacional, natação, psicóloga e psicomotricidade. “É uma loucura porque trabalho o dia inteiro. Deixo a hora do almoço para o meu pilates, as idas ao banco, manicure e ao médico, quando preciso. Ou seja, não consigo mesmo ficar parada”, brinca.

Além dos cuidados com a Alice, Liza ainda acha tempo para cumprir as tarefas diárias. “Tenho três cachorros e um chinchila. Além disso, têm as tarefas domésticas”, diz. Para cumprir a agenda intensa, ela dá a receita. “Não penso, faço. É como seu matasse um leão por dia mesmo.” A  alegria da Luzanira, a fé da Kassandra e a determinação da Liza são comuns em mulheres que passam por situações de superação. Segundo a psicóloga Sônia Regina Mendes de Paula Mussi, muitas têm que transformar a realidade difícil em que vivem em obstáculos a serem vencidos. “Eu posso acreditar no pensamento ruim e transformá-lo em uma verdade absoluta, ou modificá-lo de forma a construir uma nova história para a minha vida”, informa.

Especializada em psicologia perinatal e terapia cognitiva e comportamental, Sônia explica que outro grande fator a ser vencido pelas mulheres é a idealização dos filhos. “Há mães que  pensam que os filhos herdarão as melhores características genéticas de seus familiares. Então, de repente, quando se deparam com uma criança que não foi aquela imaginada, ela demora um pouco mais em criar um vínculo satisfatório com o seu filho. Quando isso acontece, temos que desconstruir o que idealizamos para amarmos aquele bebê que geramos”,  explica ela que, durante os quatros anos que trabalhou na ala materno-infantil de um hospital público, ajudou a cuidar de casos bastante críticos. “Vi muitas mulheres superarem situações difíceis. A história de muitas delas só foi modificada porque elas não aceitaram o que a sociedade impôs como perfeito ou desejável”.

Culpa materna

psicóloga Sônia MussiSônia ainda explica que, atualmente, as pessoas de uma forma geral responsabilizam as mães por todos os problemas que acontecem com os filhos. A chamada culpa materna – que gera muita ansiedade e sentimento de não dar conta de educar e cuidar daquela criança – de acordo com ela, tem levado muitas a entrar em conflito. “A mulher saiu de casa e tem menos tempo para se dedicar à família, então ela já carrega esse peso. Para prosseguir e conseguir criar os seus filhos, ela terá que encontrar um equilíbrio entre afeto, cuidado e limite, para assim superar suas culpas emocionais”, fala acrescentando que, muitas vezes, é necessário admitir os sentimentos de medo e frustração na maternidade, principalmente durante a gestação. “Ainda existe um preconceito grande quando se fala em algum problema psicológico durante a gravidez.”

Em relação aos traumas emocionais deixados nos filhos dessas mulheres, a psicóloga acredita que, dependendo de como são criados, eles enfrentam a vida também de uma forma diferente. “Temos que fazer alguma coisa por nós mesmos, sem esperar nada em troca dos outros. Os filhos devem ver os obstáculos que enfrentamos para os gerar com amor, dedicação, carinho e superação por meio de nossas ações e não pelas nossas lamúrias ao contarmos as situações difíceis que passamos para tê-los e educá-los”, deixa o recado.

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